É um dado adquirido que a tecnologia tem crescido a um ritmo galopante ao longos dos últimos 15 anos. Deixámos os telemóveis com teclas e passámos a ter equipamentos que reagem ao toque, como smartphones ou tablets, e os computadores ganharam formatos híbridos, isto sem falar na tecnologia de realidade virtual, que é claramente o caminho a seguir.
No caso dos smartphones, temos o exemplo da Huawei, hoje em dia umas fabricantes mais poderosas a nível mundial. Sem que a concorrência dê descanso, a marca tem evoluído a cada smartphone que lança, e percebeu que mais do que ecrãs estendidos ou resoluções 4K, o caminho a seguir é o da Inteligência Artificial.
O novíssimo Huawei Mate 10 Pro é o resultado dessa experiência com a IA. Um telemóvel elegante, com câmaras sublimes e com um processador super inteligente, capaz de se adaptar às situações do dia-a-dia.
Design e Ecrã
Estamos perante um smartphone que segue claramente a tendência da linha Mate, mas que muda muito em relação ao anterior Mate 9, um equipamento todo feito em metal. Neste novo Huawei Mate 10 Pro de 178 gramas, existe elegância e requinte na mistura de metal nas laterais e vidro curvo na parte traseira. Não só no aspeto, mas também no toque, sentimos que estamos perante um equipamento verdadeiramente premium com uma qualidade de construção soberba. De todas as pessoas que viram o terminal, não ouve nem uma que não ficasse encantada com o design deste Mate 10 Pro.
Claro, há alguns problemas. Por exemplo, o vidro traseiro ganha dedadas facilmente, o que tira algum do charme ao equipamento, tem menos resistência ao choque por usar este material e as câmaras têm saliência, ou seja, não são uniformes ao equipamento. Apesar de existir uma faixa de cor mais escura nos sensores fotográficos, algo que faz toda a diferença a nível visual, o facto de estes estarem saídos, o que pode levar a riscos indesejados, é algo que deve ser revisto num Mate 11 Pro.
Já na parte frontal está o ecrã Huawei FullView Display, um dos pontos fortes deste smartphone e que se destaca pela sua beleza e qualidade. Aqui temos um ecrã OLED de seis polegadas e rácio 18:9 que ocupa cerca de 80% da parte frontal do equipamento, um valor que, apesar de não ser o mais elevado do mercado, é muito satisfatório. Claro, com este novo ecrã o sensor digital saltou para a traseira, e, apesar de extremamente rápido e sem falhas, obriga-nos sempre a pegar no dispositivo para que possa ser usado.
No geral, o ecrã é espetacular. Cores fortes, vivas e com muito detalhe, sendo uma tela perfeita para a visualização de vídeos e fotos, e nisso também ajuda a tecnologia HDR 10, para pretos profundos e grandes contrastes. Mesmo em dias com forte luz solar, o ecrã mostra-se bastante nítido e com excelente definição.
Não é o melhor ecrã que já vimos num smartphone, até porque, por norma, a Samsung domina neste segmento. Contudo, a resolução FullHD+ deste ecrã do Mate 10 Pro é a ideal para uso moderado ou intensivo, e pouca diferença irão notar se já tiverem usado os mais recentes topos de gama da marca sul-coreana que vêm com resolução QHD. E esta opção da Huawei em usar o FullHD+ vem com uma vantagem: menor consumo de bateria. Mas já lá vamos.
Processador
Este sim, é o grande ponto de destaque do Mate 10 Pro, ou não tivesse o Kirin 970, o novo processador da Huawei, ganho o prémio de Best of IFA 2017 concedido pela Android Authority. Na altura, Richard Yu, CEO da Huawei Consumer Business Group, disse ao mundo que esta era uma nova Era com o objetivo final de proporcionar uma experiência significativamente melhor ao utilizador. E foi mesmo isso que a Huawei fez com este novo processador, que, além de extremamente rápido, contém uma unidade de processamento neural, definida por NPU na sigla em inglês.
Na prática, este é um chip dedicado a tarefas relacionadas com a Inteligência Artificial. Basicamente, ele tem a capacidade de ir aprendendo os hábitos do utilizador, adaptando o desempenho do smartphone consoante as situações. Pode dar mais ou menos performance, mais ou menos brilho no ecrã, pode adaptar a qualidade áudio de uma chamada se estivermos a sussurrar, e, mais importante que tudo, faz uma gestão muito inteligente da bateria.
Isto faz com que cada Mate 10 Pro seja único. Por exemplo, o modelo que eu tenho pode estar adaptado ao meu comportamento, contando com a performance otimizada dessa forma, mas não estar adaptado ao comportamento de outro utilizador, necessitando de aprender esse novo comportamento para a melhor performance. Ou seja, ele molda-se, sempre, consoante quem lhe está a mexer, o que é verdadeiramente incrível.
No futuro, espera-se que novas aplicações tiram partido da NPU, mas a própria Huawei já prometeu que novos recursos irão surgir no futuro para aproveitar esta habilidades de IA.
Câmaras
Outro ponto de destaque neste Huawei e que, mais uma vez, não desilude. Muito pelo contrário. Novamente em parceria com a Leica, temos um conjunto de lentes Summilux-H de 12MP (RGB) e 20MP (monocromático), sendo este o primeiro smartphone a incluir duas câmaras com abertura f/1.6, ou seja, garante uma maior entrada de luz, e, consequentemente, um melhor resultado final.
O smartphone é extremamente rápido a disparar fotos, conseguindo imagens com excelente luz, contraste e detalhe até dizer chega. Usando o zoom ótico de 2x ou zoom digital 10x, os resultados também surpreendem pela positiva, com fotos bem focadas graças ao Estabilizador ótico de Imagem e com boa definição.
De noite, a qualidade das imagens captadas pelo sensor de lente dupla também não desilude, e aqui temos de louvar o sensor monocromático de 20MP, que torna os pretos excelentes. Até as fotografias a preto e branco ficam incríveis.
O modo bokeh também é muito interessante, algo que é feito automaticamente pelo Mate 10 Pro caso o alvo da foto seja uma pessoa. Consegue-se imensa profundidade de campo, embora não seja um resultado perfeito, já que é percetível, por vezes, um desfoque exagerado.
Contudo, é no reconhecimento de objetos que a câmara mostra o que vale, e é aqui que entra a Inteligência Artificial do smartphone. Como o Mate 10 Pro tem um banco de milhões de imagens, ele consegue reconhecer 13 cenários e objetos – Céu Azul, Flores, Plantas, Praia, Pôr/Nascer do Sol, Comida, Texto, Noite, Neve, Gato, Cão e Retrato.
Se quisermos fotografar um prato de comida, o equipamento vai otimizar os parâmetros da foto para o melhor resultado possível, o mesmo acontecendo se quisermos fotografar o nosso cão ou gato ou tirar uma foto a um belo cenário de fundo, para que reconheça e realce os verdes. Basta deixar a câmara no modo automático que o reconhecimento é feito quase instantaneamente.
Já a câmara frontal é de 8MP e tem uma abertura de f/2.0, resultado em boas selfies. Em suma, cumpre o trabalho.
Finalmente, e para encerrar o capítulo das câmaras, os vídeos. Enquanto que a câmara frontal grava vídeo a 1080p, a traseira consegue vídeos 4K a 30 fps e a 1080p a 60fps. Neste campo esperava mais do vídeo, há algum ruído e as texturas não são perfeitas. Por exemplo, estive recentemente num festival de música, fiz um Story para o Instagram e fiquei desiludido com a qualidade do vídeo. Para o áudio, o isolamento também não está a 100%; neste caso posso dar o exemplo em que levei o smartphone para uma sala com várias pessoas, e que, mesmo isolado com o meu entrevistado, ficou difícil perceber algumas partes da conversa dado o ruído captado, mesmo estado o telemóvel em modo entrevista.
Bateria, desempenho e som
No que toca à autonomia, a Huawei fulminou a concorrência. Nunca vi nada assim e nunca tive um equipamento que durasse tanto tempo. Para utilização mais casual, estão garantidos dois dias de utilização sem necessidade de ligar à tomada. É com uma utilização mais intensiva que o Mate 10 Pro não aguenta um dia inteiro sem ir à ficha, mas claro, os milagres não existem. Todavia, há sempre o Huawei Supercharge, que vai dos 0 aos 60% em 35 minutos e dos 0 aos 100% em menos de uma hora.
A bateria de 4000mAh é capaz de coisas muito boas, e, lá está, a IA ajuda muito neste sentido. Tudo depende da forma de utilização do equipamento. É possível chegar ao final do dia com uma bateria restante de 60%, outras vezes com 15% e outras com 40%. No entanto, houve sempre aquele sentimento de despreocupação em relação ao estado da bateria, pois sabia que nunca me deixaria ficar mal, mesmo que estivesse longe de casa e sem carregador.
Ou seja, nestas três semanas e meia em que estive com o telemóvel, percebi que a bateria estava altamente adaptada ao meu dia-a-dia. Resta saber como irá comportar-se com alguém que tenha o telemóvel durante um ou dois anos.
No que toca ao desempenho, o processador Kirin é ultrarrápido e raramente apresenta lentidão… raramente, porque isso de facto aconteceu. Apesar de ter uma unidade de teste, por esta altura o smartphone já saiu no mercado, e ainda não recebi nenhuma atualização de software para corrigir os bugs que notei. Um deles, por exemplo, é algo estranho que acontece quando via um vídeo do YouTube, e, quando alguém falava comigo através do Facebook Messenger, o Mate 10 Pro entrava num loop sem nexo em que ia para o ecrã de bloqueio, ficava com o ecrã preto, depois regressava ao ecrã de bloqueio, sem que eu pudesse fazer rigorosamente nada. A solução? Reiniciar o smartphone ou desligar. O problema é que é, de facto, isto é um bug, seja da aplicação ou da EMUI da Huawei, pois tal nunca me tinha acontecido com outro smartphone, mas aconteceu várias vezes com o Mate 10 Pro. Muito, muito chato, e acho estranho por esta altura ainda não ter saído uma atualização para corrigir alguns erros do sistema.
De resto, pode haver um ou outro bloqueio momentâneo a usar uma app tipo o Instagram ou o Facebook, mas no geral comporta-se bastante bem. Nesta questão ajuda o EMUI 8.0 (a versão da Huawei do Android Oreo 8.0), a nova versão da interface da marca que vem ficando cada vez mais simples e eficiente, mas sempre altamente personalizada. A mim pessoalmente não faz diferença, e gosto bastante desta skin, mas esta é uma discussão que dá pano para mangas.
Existem diversas novidades nesta nova EMUI 8, como alterar os DPI ou ligar o smartphone a um televisor ou monitor através de um adaptador (não incluído) para o utilizarmos em modo desktop. Uma funcionalidade interessante é a parceria da Huawei com a Microsoft para a tradução de texto em tempo real, algo que pode ser especialmente útil quando estamos fora do país.
Quanto ao som, penso que a Huawei poderia ter colocado uma segunda coluna na base, pois há espaço para isso, o que tornaria o som mais envolvente e encorpado, especialmente em reprodução multimédia. Todavia, o problema deste equipamento está na isolação do som, tal como descrevi no caso da entrevista. Também não convém deixar o volume a 100% para não ser demasiado estridente em algumas situações. No geral, a qualidade necessita de ser mais limpa, pois não foi a melhor experiência áudio que tive num smartphone até agora.
Extras
O Mate 10 Pro tem certificação IP67, o que o torna resistente a poeiras e água até um metro de profundidade durante meia hora, possui sensor de infra-vermelhos para controlar alguns aparelhos, dual-Sim com suporte à rede 4.5G LTE Cat.18, ecrã dividido para usar duas apps em simultâneo, entre muitas outras coisas. Claro, há duas coisas más: ausência da porta áudio jack 3.5mm e ausência de entrada para cartões microSD, algo que parece incompreensível para um terminal deste calibre.
Considerações finais
A Huawei realmente inovou e conseguiu um smartphone que chegou para conquistar o mercado. O potencial do novo processador e da NPU é incrível, mas ainda está em fase algo prematura, como um diamante por lapidar. Nos próximos anos, esta tecnologia de Inteligência Artifical irá evoluir de tal forma que os resultados a serem alcançados deverão ser muitíssimo diferentes dos do presente.
De resto, apesar de não ter o melhor ecrã e performance do mercado, o Mate 10 Pro tem um tamanho perfeito, porta-se super bem em tarefas básicas e complexas, tira fotos fabulosas e contém uma bateria invejável. Custa 879€, o que é caro, de facto, mas mais barato que a concorrência mais forte, o que não deixa de ser um bom indício para a sua aquisição.
O Mate 10 Pro está disponível em Portugal desde o passado dia 22 de novembro nas cores Titanium Grey e Mocha Brown por 879€.
O equipamento foi cedido para análise pela Huawei.