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Com 28 aninhos e munido com nada mais do que uma guitarra, Ed Sheeran encheu dois Estádios da Luz. 60.358 em cada dia, de acordo com a organização.

Não é difícil encontrar artigos a dizer o mesmo. Não é difícil, porque é algo que é difícil de ler sem um ar de admiração. E é de admirar. Não faltando casos de artistas de enorme sucesso ainda nos seus verdes anos, o facto é que, normalmente, eles estão providos de grandes produções audiovisuais – bailarinos, bandas, projeções mirabolantes. Aqui não. O lado quase épico de uma única pessoa, sem convidados, enfrentar uma multidão, ultrapassar em faturação essas tournées apresenta uma faceta diferente, e fascinante.

Com portas abertas cedo e vários artistas a abrir: Ben Kweller, Zara Larsson e James Bay, quem quisesse podia fazer uma sessão quase festivaleira na Luz. Mas o motivo deste mar de gente entrou em palco pelas 21h. As primeiras palavras ouvem-se bem – são muitos os sistemas de PA espalhados pelo recinto, e os ecrãs à volta garantem uma visibilidade mesmo nos lugares da bancada mais distante. Concertos em estádios devem ser assim, importa sempre sublinhar.

Começando com “Castle on the Hill”, um dos seus maiores sucessos, é fácil perceber que a aposta está ganha à partida. Quem comprou bilhete há oito meses – este primeiro dia esgotou logo a seguir a ser posto à venda – esteve demasiado tempo à espera para não estar excitado. O coro, maioritariamente feminino mas com representação masculina significativa, num ambiente de família, responde à música daquela maneira que só quem sabe a letra de cor consegue repetir. A única dúvida é se Sheeran vai conseguir manter o nível ao logo de todo o concerto, sem grande arsenal de armas a que recorrer para além de um pedal de reverberação.

E apesar da sua juventude, o facto é que o nervosismo nunca parece surgir e o espetáculo decorre de forma suave e sem aparentes sobressaltos, com um grau de interação forte com o público. Não sendo um showman especialmente carismático, a sua simpatia transbordante torna difícil que mesmo o espectador mais cínico não seja arrastado pela onda.

Um aspeto curioso é a tendência para o medley que Ed Sheeran (pareceu-nos ter havido pelo menos três), o primeiro constituído por “Don’t” e “New Man”. Se a ideia é dar ritmo, não funciona mal, apesar de, por vezes, ser difícil perceber onde acaba uma música e começa outra, como mais tarde em “Lego House”, “Kiss Me” e “Give Me Girl”. Acabam por funcionar como bons momentos para dançar, como o próprio sugere. Quase como as edições de slows para os bailes. A verdade é que funciona em muitas zonas do relvado.

Surpreendente é talvez a ampla movimentação do artista. Não sendo a sua principal arma – estamos longe do território Dave Gahan –, consegue mexer-se bem e não dar a imagem do cantautor quieto com o seu instrumento. Nada disso.

“Thinking Out Loud” saca mais um grande e sabedor coro da audiência. É aqui que Ed Sheeran esmaga, pura e simplesmente, culminando com o público a delirar com “Perfect”, antes da sua saída.

É claro que há encore, e é claro que há “Shape of You”, para a casa ir abaixo, agora com a camisola das Quinas vestida. Afinal sempre havia algum truque na manga – curta, porque o dia foi de verão intenso e a gente é muita à nossa volta.

Não sendo música para ganhar a critica, a verdade é que Ed Sheeran conseguiu chegar com uma velocidade estonteante a uma fórmula vencedora, partindo de bases bem convencionais e de grande simplicidade. O seu espetáculo ao vivo é uma extensão disso mesmo, com uma pureza de meios desarmante e sem parecer levar quem quer que seja ao engano. Aquela música foi mesmo pensada, escrita e interpretada assim. Parece ter feito felizes a maioria dos muitos que lá foram. E por isso Sheeran está certo.

Fotos de: Tiago Cortez/Everything Is New

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