Num ano de ouro para o Pop, a supresa veio de atos de Rock que se sobressaíram como já não acontecia há muito.
O ano de 2025 foi um ano muito polarizado e algo desequilibrado. Houve uma dúzia de álbuns gloriosos, mas de resto, o que marcou mais foram singles ou músicas que, sozinhas, seguraram álbuns inteiros, mantendo-os relevantes e no radar dos fãs de música, em geral.
No topo dos topos surgiram Rosalía com Lux, Turnstile com Never Enough, Lorde com Virgin e Blood Orange com Essex Honey. Dessas quatro obras primas saiu, pelo menos, uma mão cheia de músicas dignas de constarem numa seleção de melhores do ano. No entanto, houve muitos outros artistas com produções dignas de ombrear com estes quatro juggernauts, que vou listar já de seguida.
Nos entretantos, deixo-vos o link para a playlist no Spotify, seguido da seleção final das 100 melhores músicas de 2025 – à semelhança do ano passado, deixo um comentário sobre as 20 melhores músicas.

100. My Morning Jacket – Time Waited
99. Dean Blunt & Elias Rønnenfelt – 5
98. Laufey – Lover Girl
97. JID – SK8 (ft. Ciara, Earthgang)
96. zayALLCAPS – MTV’s Pimp My Ride
95. The Weeknd – São Paulo (ft. Anitta)
94. Royel Otis – moody
93. NAPA – Deslocado
92. Freddie Gibbs & The Alchemist – Ensalada (ft. Anderson .Paak )
91. Morgan Wallen – I Ain’t Comin’ Back (ft. Post Malone)

90. Ninajirachi – iPod Touch
89. Haim – Relationships
88. Aina in the End – On The Way (革命道中)
87. Little Simz – Free
86. Justin Bieber – Daisies
85. Joey Valence & Brae – See U Dance (ft. Rebecca Black)
84. Just Mustard – We Were Just Here
83. billy woods – Corinthians (ft. Despot & El-P)
82. Sabrina Carpenter – Manchild
81. AJ Tracey – Crush (ft. Jorja Smith)

80. Spiritbox – Perfect Soul
79. MEOVV – Burning Up
78. Amaarae – S.M.O.
77. Bon Iver – Everything Is Peaceful Love
76. McKinley Dixon – Sugar Water (ft. Quelle Chris and Anjimile)
75. Tyla – Chanel
74. Nilüfer Yanya – Cold Heart
73. Babymetal – From me to you (ft. Poppy)
72. Tate McRae – Sports Car
71. Smerz – You got time and I got money

70. Debby Friday – 1/17
69. Bad Bunny – DtMF
68. The Beaches – Touch Myself
67. Tyler, the Creator – Sugar on My Tongue
66. Perfume Genius – It’s a Mirror
65. Viagra Boys – Man Made of Meat
64. Lorde – Man Of The Year
63. Water From Your Eyes – Playing Classics
62. Cameron Winter – Love Takes Miles
61. Blackpink – Jump

60. Olivia Dean – Man I Need
59. Saya Gray – ..THUS IS WHY (I DON’T SPRING 4 LOVE)
58. Open Mike Eagle – my coworker clark kent’s secret black box
57. caroline – Tell me I never knew that (ft. Caroline Polachek)
56. Lambrini Girls – Cuntology 101
55. Blood Orange – The Field (ft. the Durutti Column, Tariq Al-Sabir, Caroline Polachek and Daniel Caesar)
54. Fred Again.. – Victory Lap (ft. Skepta & Plaqueboymax)
53. Lady Gaga – Abracadabra
52. Sudan Archives – A Bug’s Life
51. Blondshell – T&A

50. TripleS – 깨어 (Are You Alive)
49. Rosalía – Berghain (ft. Björk and Yves Tumor)
48. Momma – I Want You (Fever)
47. Clipse – Chains & Whips (ft. Kendrick Lamar)
46. Pulp – Spike Island
45. Ethel Cain – Fuck Me Eyes
44. SPELLLING – Portrait of My Heart
43. ILLIT – Billyeoon Goyangi (Do the Dance)
42. Nourished by Time – 9 2 5
41. kwn – do what i say

40. Turnstile – NEVER ENOUGH
39. Big Thief – Incomprehensible
38. Lily Allen – Pussy Palace
37. Geese – Taxes
36. Zico & Lilas – DUET
35. Nation of Language – Inept Apollo
34. CMAT – EURO-COUNTRY
33. XG – Gala
32. 2hollis – flash
31. Wolf Alice – The Sofa

30. james K – Play
29. Chappell Roan – The Subway
28. FKA twigs – Girl Feels Good
27. Fontaines D.C. – It’s Amazing to Be Young
26. Mariah the Scientist – Burning Blue
25. Steve Lacy – Nice Shoes
24. Japanese Breakfast – Picture Window
23. JADE – Plastic Box
22. Addison Rae – Headphones On
21. Deftones – milk of the madonna

20. Hayley Williams – True Believer

Já não é novidade para ninguém o brilhantismo de Hayley Williams, indo muito para além do seu talento vocal que fez dos Paramore um dos grupos mais acarinhados do Rock moderno. No entanto, nunca é demais voltar a salientar esse talento inato. Chega a um ponto que tem piada constatar que basicamente tudo o que Hayley lança tem ouro “agarrado”. Este novo álbum chega para alargar ainda mais o repertório de luxo de uma das artistas mais sensacionais e versáteis que estou a ter o prazer de acompanhar ao longo das duas últimas décadas.
19. Jennie – like Jennie

Com o hiatus das Blackpink, tivemos a oportunidade de apreciar a diversidade musical dos quatro elementos do grupo, e Jennie está a ser a que mais tem impressionado pelo terreno musical que tem vindo a explorar. “Like Jennie” não só é uma ode ao funk brasileiro com infusão de rap e pop, como é também uma afirmação da confiança inabalável que a artista Coreana tem em si mesma e da forma como persuade o mundo inteiro a acreditar que Jennie é “ela”, a verdadeira “it girl”. A última vez que vi um lançamento com uma convicção tão inquestionável e recheada de auto-confiança, corria o ano de 2006 – ano em que Justin Timberlake tomou o universo pop de assalto.
18. Oklou – blade bird

“Blade Bird” não é um caso isolado no mais recente álbum de Oklou, mas é, sem dúvida, a faixa que melhor captura o som etéreo e vocais sonhadores de Marylou Mayniel. A francesa entrega-nos uma produção que mistura sonoridades de hyperpop com a nostalgia do indie pop de um passado recente, criando uma textura musical belíssima, recheada de emoção. O tema toca nas dificuldades do amor, utilizando a analogia da liberdade de um pássaro. Marylou considera-se a jaula que aprisiona o seu amor, quando na realidade quer ser algo mais confortável: uma nuvem.
17. Alex G – Afterlife

Alex G tem sido constantemente um músico que não para de surpreender. É ao som distinto de um bandolim, acompanhado de sintetizadores e falsetos que já nos são tão familiares, que o artista nos entrega mais uma peça de poesia inesquecível. Inicialmente, somos imediatamente invadidos por um falso sentimento de felicidade, até que nos apercebemos de que a mensagem assenta sobre uma transição há muito adiada, mas necessária. Com o passar dos anos e o inevitável crescimento da responsabilidade, a nostalgia é substituída por rotinas silenciosamente violentas e Alex G conta-nos tudo sobre isso de forma tão agradável, que parece que estamos a ser embalados.
16. HUNTR/X – Golden

No centro de uma das mais bonitas histórias de 2025, temos Ejae (acompanhada de Audrey Nuna e Rei Ami). As HUNTR/X nasceram de uma filme animado que refletiu muito a história de Ejae e o quão subserviente e subestimada foi, ao longo de grande parte da sua vida adulta, ao ser rejeitada pela indústria que nunca acreditou no seu potencial, rotulando-a de “velha demais” para merecer o seu lugar ao sol. Desta vez, tivemos a Sony a descreditar o filme e a vender os direitos de distribuição e promoção à Netflix. Não só o filme se tornou num fenómeno, com Ejae conseguiu finalmente demonstrar todo o seu valor. Quanto à música (escrita por Ejae), ironicamente reflete isso mesmo: uma inspiradora mistura da sua história de superação, de vocais poderosos com notas alta impressionantes e uma composição imprevisível e viciante – a prova viva de que nunca é tarde demais.
15. PinkPantheress – Illegal

No centro de um dos sons mais virais de 2025, temos PinkPantheress (que já não é estranha por estas andanças). Por detrás do sucesso comercial de Illegal, temos uma música dance pop com toques de uk garage e drum n bass em ritmo acelerado, recheado de nuances sonoras nostálgicas, típicas de uma geração musical que marcou muitos amantes de música. A letra, que é clara e direta ao assunto, usa um paralelismo engraçado entre o romance e o consumo de droga, dependendo da forma como se olha para ela e se a interpreta. PinkPantheress volta assim a viralizar e a dar uso dessa exposição para cimentar ainda mais o seu nome e, chegando a este ponto, tenho a certeza absoluta que não se prende com sorte.
14. Wet Leg – Mangetout

Aclamados pela originalidade por detrás do seu álbum de estreia (em 2022), os Wet Leg regressam em 2025 com mais um produto de alta qualidade e deveras equilibrado. No meio de vários singles dançantes, está “Mangetout” em tom de dance-punk, que se assumiu como som de verão dada a sua frescura e leveza. A letra, ainda que inteligente, é fácil de absorver, dotada de versos que rapidamente ficam na memória, envolvendo-nos rapidamente graças à forma desafiante e algo brincalhona com que Rhian Teasdale a interpreta e a entrega. “Mangetout” serve assim de confirmação da qualidade de Wet Leg em produzir música original, divertida e viciante. Ficamos á espera de um terceiro álbum para tirar as teimas.
13. Dijon – Yamaha

A cada confissão sob a forma de música que Dijon escreve, canta e produz, até o banal é transformado em algo extraordinário. “Yamaha” é talvez a maior prova dade disso mesmo, funcionando como uma carta aberta escrita pelo artista, destinada a “Annie”. No entanto, quando “desembrulhamos” a música e a analisamos, percebemos rapidamente que é muito mais do que isso: uma prova dada que Dijon deixa ao seu “eu” passado, num momento pivotal da sua vida. Momento em que a sua carreira atinge um novo patamar que este já almejava há algum tempo. Esta magia não é algo comum, veremos como a capitaliza daqui para a frente…
12. NMIXX – Know About Me

As NMIXX são, provavelmente, o grupo proveniente da Coreia do Sul sobre o qual as luzes da ribalta não fazem (nem nunca fizeram) jus ao quão brilhantes e confiantes são as integrantes do grupo. Refiro-me com isto ao nível vocal, que é deveras impressionante e algo cada vez mais raro, numa indústria que privilegia os visuais, mas também a nível de dança, sendo que são talvez um dos melhores coletivos da Coreia do Sul, actualmente a nível de complexidade de coreografias e perfeccionismo nas formações. “Know About Me” é apenas uma amostra do quão cativante é o som das NMIXX, numa mistura de Hip-Hop e R&B, vocais fortes e ad-libs impactantes, acompanhado de sintetizadores futuristas que nos transportam ao que de melhor se produzia nos anos 90, dentro do género.
11. Raye – Where Is My Husband!

A performance ao vivo a que tive o prazer em assistir este ano, fez jus ao quão extasiante e infeciosa é a energia desta música pop, com infusão instrumental de um jazz intenso, atrevido e com um ritmo entusiasmante, mas também provou que o talento de Raye é grande para a maioria dos palcos a que sobe e que a artista está cá para ficar. Nesta música, em particular, a forma como Raye posiciona a sua voz, brincando com a cadência e os tons, e a usa para tirar proveito dos diferentes momentos desta música, conferindo-lhes camadas distintas e impactantes a cada audição, é absolutamente extraordinária.

10. Kehlani – Folded

Kehlani, que tem sido uma artista com lançamentos regulares e de qualidade inquestionável, mergulhou de cabeça na dificuldade que é conciliar a força de um amor simples, no qual só uma das partes está se esforça por encontrar terreno em comum e um ponto de entendimento, e levou-nos a todos com ela. A história contada em “Folded” não é nova e se calhar é por isso que ressoa com tanta força, mas há mestria e esta reside na forma como Kehlani usa trocadilhos para demonstrar a vontade de querer fazer este “amor desinteressado” funcionar. Como se isso não fosse suficiente, a sonoridade que faz com que o que tem para dizer bata ainda mais forte naqueles que sabem apreciar um bom R&B recheado de emoção.
9. KATSEYE – GNARLY

O potencial do grupo mais multicultural proveniente da indústria musical sul-coreana era imenso e este ano isso ficou ainda mais bem assente. As Katseye trouxeram um punhado de músicas que colocaram o seu nome na boca do mundo, mas foi “gnarly” que quebrou todas as barreiras de ceticismo face a este “teste piloto”. Inicialmente, a música partiu os fãs, invadidos por um sentimento de confusão, misturado com apreço, mas passados 7 meses, essa confusão tornou-se em puro êxtase. Curto e grosso, este novo som das Katseye não só as reinventa, como rebenta com os limites conhecidos pelo K-Pop e traz algo novo à indústria musical: uma música de Hyper Pop com uma letra agressiva e viral, mas extravagante, fazendo-a encaixar na perfeição com a produção sonora descontrolada e desafiante.
8. Wednesday – Townies

Os Wednesday demoraram alguns anos a conseguir o seu lugar ao sol, mas quando finalmente o sentiram na pele (em 2023), parece que lhe ganharam o gosto e parece que por lá vão ficar mais alguns tempos. Refletindo bem a linha sonora do novo álbum, “Townies” é um ensaio à relação entre nostalgia e trauma do sentimento de estar preso numa realidade pesada, sem escapatória em vista, sendo dotada de uma escrita honesta e lúcida. A sonoridade é aparentemente confortável, com momentos contrastantes onde a distorção sonora explosiva comedida muda o tom da música por completo mostrando a quem ainda não está familiarizado do engenho que os Wednesday têm na hora de produzir música impactante.
7. Sleep Token – Caramel

Os Sleep Token foram uma das surpresas do ano, e com muita razão. Não se limitam a seguir a linha condutora de um género algo linear, eles pegaram nas rédeas e reinventaram-no por completo. No centro de um álbum constante e equilibrado em termos de qualidade, está “Caramel”, que nos traz uma mistura incovencional entre o Heavy Metal e R&B com nunces sonoras de música mais tropical. De salientar a entrega vocal de Vessel, emocionalmente complexa e agradável. Somos, assim, presenteados com algo único e singular que mexe com as bases de um dos géneros mais antigos e, até então, aparentemente impermutável.
6. Bad Bunny – Baile Inolvidable

Já conhecido pelas ideias originais, que têm servido para trilhar caminho num género sem grande aceitação global no seu estado puro, eis que Bad Bunny dá mais um passo gigantesco nessa direção – falo pois de ser o embaixador global dos ritmos latinos, através do seu toque pessoal e interpretação tão singular. Desta vez chamou-nos para a pista de dança e captou toda a nossa atenção para géneros clássicos celebrizados por a população porto riquenha, como a salsa, jibaro ou bomba, sem nunca deixar para trás o raggaeton. E nós? Nós demos uso a essa pista de dança e dançamos com ele. Bad Bunny vai assim muito para além da promoção pessoal, fazendo serviço público de promoção cultural ao país que o viu nascer.
5. Jim Legxacy – father

Proveniente do Reino Unido, chega Jim Legxacy, um dos produtores/artistas mais entusiasmantes dos últimos anos, que atingiu o sucesso que merecido desde o seu primeiro lançamento, em 2023. Em 2025 regressa com mais um punhado de ideias interessantes e produções pouco convencionais, mas que facilmente entram e ecoam na cabeça, dado o quão contagiantes que são. Normalmente pouco mais longas que 2 minutos (e raramente mais longas que os 3 minutos convencionais), as músicas que produz prezam por entregar uma mensagem objetiva. No entanto a virtude das mesmas reside numa composição e sampling original e (quase sempre )surpreendente, que mistura elementos rap, com afrobeats, um feeling emo e toques de lo-fi.
4. Lorde – What Was That

Lorde já é inevitável há algum tempo pela forma estrondosa como se reinventa a cada lançamento, após anos sem dar sinais de vida em ciclos de quatro anos. O processo de produção musical musical devia ser mais assim… Ao invés de lançar música inconsequente para manter relevância, como muitos artistas pop fazem nos dias de hoje, a indústria devia celebrar artistas como Lorde, que levam o seu tempo para viver a sua vida e trazer algo novo para nos contar, quando chega a altura certa para tal. Fazendo relembrar Melodrama a nível sonoro, Virgin traz-nos mais um capítulo das peripécias da loucura e vitalidade da juventude de Lorde. “What Was That” é, sem dúvida, a música que mais se salientou, com a capacidade de meter todos a dançar porque sim, com uma abordagem catártica do melhor que o dance pop tocável no volume máximo, tem para oferecer.
3. Turnstile – BIRDS

O repentino sucesso comercial (quase de culto) dos Turnstile devia ser estudado. Glow On, lançado em 2021, mostrou um lado muito interessante do grupo de Baltimore, mas foi mesmo com Never Enough que, este ano, carregaram o hardcore punk e desenharam um caminho tão belo para o futuro comercial do género. No cerne de um álbum composto apenas por hits, está “BIRDS”, a faixa responsável por acender o rastilho de uma intensa explosão de energia apoteótica que se tornou em sinónimo de “Turnstile” – porque o nome da banda não é somente o nome da banda, é o nome de algo maior: um movimento brutal onde a expressão individual não conhece limites ou barreiras. O melhor disto tudo? Essa expressão individual que a música da banda fomenta, está a criar uma coesão coletiva sem precedentes. Provas disso? Basta pesquisar por vídeos da tour que os Turnstile fizeram em nome próprio, este ano.
2. Rosalía – Reliquia

Rosalía, que tem tido uma carreira bastante significativa e marcante desde o lançamento de El Mal Querer (há 7 anos), muito pela forma como faz o seu som pessoal com raízes de flamengo funcionar tão bem. Até mesmo quando colabora com um leque de artistas tão distintos, consegue criar quase sempre músicas inesquecíveis onde o seu “carimbo sonoro” se sobressai. Com Lux, traz-nos mais um álbum único que encontra imensos pontos fortes nas colaborações que nos apresenta – sendo que desta vez o fez em 13 línguas diferentes, cantadas ao longo do álbum, provando que a necessidade de empregar o inglês como base, é fruto de um elitismo sem sentido. Outro ponto pivotal deste álbum é o facto da artista surgir como voz da revolução contra o crescente uso abusivo e confortável da ineligência artificial na produção musical. A faixa “Relíquia” é a mistura perfeita entre o pop viral, o confronto violento entre classicismo e modernismo instrumental e a espiritualidade vocal etérea. Numa só música, Rosalía debruça-se sobre a fé, o sentimento de perda material e emocional e auto-descoberta e realização pessoal, fazendo desta uma faixa quase sublime.
1. Blood Orange – Mind Loaded (ft. Caroline Polachek, Lorde, & Mustafa)

Para quem conhece Blood Orange, não estranhará o registo musical do mesmo e ainda menos será apanhado completamente de surpresa pela inventividade e engenho do artista. “Mind Loaded” foi a música que mais se sobressaiu de Essex Honey, num álbum que mais parece uma música contínua, tal é a magnificência do mesmo. No entanto, há pelos menos mais uma mão cheia de músicas que fazem jus ao quão sensacional é esta música.
O lirismo assenta sobre o pesar de um coração em dor, pesar e a dificuldade em encontrar esperança no meio de tanta escuridão que envolve o artista. Mind Loaded nasce de uma reflexão muito pessoal proveniente do luto de Dev Hynes, com a perda da sua mãe – acontecimento que o fez afastar-se dos palcos e da produção musical durante uns tempos. No entanto, apesar de tempos conturbados e difíceis para Hynes, este conseguiu materializar toda a sua dor e pesar e transformá-lo num produto lindíssimo que facilmente ressoa com todos aqueles que passaram ou estão a passar por algo semelhante, como um navio em constante movimento, aberto a todos os náufragos que nele queiram embarcar rumo a um porto seguro. Blood Orange não só tem em Mind Loaded a musica do ano, como tem em Essex Honey o álbum do ano.
