Investigação da Greenpeace encontra substâncias perigosas em peças da Shein, incluindo artigos comprados em Portugal, com níveis que ultrapassam os limites legais da UE.
A Greenpeace voltou a colocar a Shein sob escrutínio ao divulgar uma nova análise laboratorial que expõe, novamente, a presença de compostos perigosos em várias peças vendidas pela gigante do comércio digital. A organização recolheu artigos adquiridos na loja online e numa loja temporária, incluindo roupa infantil, e os resultados mostram que 18 das 56 peças analisadas ultrapassam os limites impostos pelo regulamento europeu REACH. Entre as peças surge uma comprada em Portugal, cujo teor de ftalatos excede em mais de 50 vezes o valor permitido pela União Europeia, revelando níveis sobretudo preocupantes para a saúde infantil.
A investigação sublinha que estas substâncias podem afetar tanto quem produz as peças como quem as usa. O contacto com a pele, a transpiração ou a inalação facilitam a absorção dos compostos, que também chegam aos rios e solos durante a lavagem ou no momento do descarte. A identificação de PFAS em sete casacos, com valores que chegam a ultrapassar milhares de vezes os limites legais, reforça a preocupação com a persistência destes químicos no ambiente.
Os novos dados entram em choque com compromissos assumidos pela Shein após uma investigação semelhante realizada em 2022, que já tinha levado à retirada de alguns artigos. Segundo a Greenpeace, a empresa não terá alterado de forma significativa os seus processos e continua a tirar partido de brechas legais, como o envio direto ao consumidor, que evita controlos aduaneiros. Para a organização, esta situação demonstra que a autorregulação tem falhado e que é necessária legislação que responsabilize os fabricantes e limite a produção intensiva.
O estudo chama ainda a atenção para o impacto de períodos de consumo massivo, como a Black Friday, que ampliam emissões, pressionam recursos naturais e geram grandes volumes de resíduos. O modelo de negócio da Shein, alimentado por milhares de novos designs lançados diariamente e por estratégias digitais altamente persuasivas, tem acelerado o seu crescimento. As receitas subiram de 23 mil milhões de dólares em 2022 para 38 mil milhões em 2024, acompanhadas por emissões que quadruplicaram no mesmo intervalo. A organização recorda também episódios recentes, como a venda em França de bonecas sexualizadas destinadas a crianças, para ilustrar falhas no controlo dos produtos disponibilizados pela plataforma.
Perante este cenário, a Greenpeace defende que apenas uma intervenção legislativa poderá travar a escalada da produção têxtil de baixo custo. A organização propõe uma lei inspirada na iniciativa francesa conhecida como “lei anti-Shein”, que crie um imposto específico para a moda rápida, limite a sua publicidade e incentive uma economia têxtil verdadeiramente circular.
