Premium, elegante e com um conceito interessante, o Clevetura CLVX 1 coloca um trackpad no próprio teclado, oferecendo uma experiência de utilização que pode não ser do agrado de todos.
Os melhores gadgets e inovações surgem muitas vezes da mistura de conceitos que parecem óbvios, mas que parecem ter dificuldade em se inserir no mercado ou em normalizarem-se. E quando surgem, é comum ficarmos com aquela sensação de “como é que ainda ninguém pensou nisto?”
Um dos exemplos desses é o teclado Clevetura CLVX 1, resultado de uma campanha de crowdfunding, que tem a “audácia” de incluir um trackpad ao longo da área de escrita do teclado, permitindo controlar os dispositivos com um ponteiro de rato, navegando com os dedos sob as suas teclas – ou pelo menos sob uma área considerável. É uma daquelas novidades que parece algo que a Apple tentaria impulsionar num dos seus MacBooks, se a Apple realmente inventasse algumas das suas gimmick mais populares.
Este pitch perfeito e curioso tem, no entanto, um público muito específico de utilizadores, quer pelo conceito, quer pela sua aplicação prática, num conjunto que, apesar de muito interessante, é definitivamente um “gosto adquirido” ou algo que “não é para todos”. Mas já lá vamos.

Ao tirar da caixa, o Clevetura CLVX 1 causa uma excelente primeira impressão com o seu design futurista, minimalista e com uma qualidade de construção muito sólida. É um produto claramente a apostar numa experiência premium, construído com bons plásticos e um peso substancial, mas muito bem distribuído ao longo do seu corpo. O peso também é reflexo do seu formato, pois trata-se de um teclado “full-sized”, completo com o tradicional teclado numérico e teclas de função extra para multimédia e não só, num corpo com cerca de 43,5 cm de comprimento, concebido para uso em secretária. O seu design tem também um toque retro, pelos seus cantos arredondados e acentos metálicos na borda, que denunciam a sua base prateada. É um teclado muito fino, com menos de 1 cm de altura, que conta ainda com dois pés dobráveis para lhe dar aquele ligeiro ângulo. E claro, não seria um teclado em 2025 sem iluminação, aqui dinâmica, individual a cada tecla e responsiva ao toque e às ações.
Naquilo que é mais basilar e essencial, o Clevetura CLVX 1 é um teclado para utilizadores de secretária que procuram uma solução discreta durante a utilização, que não faça propriamente aquele barulho característico dos teclados mecânicos (incluindo os considerados mais silenciosos), que não se preocupa com tempos de resposta competitivos e que têm preferência pelo formato dos teclados de portáteis, de membrana e de perfil muito baixo. Um tipo de utilizador que, francamente, é mais comum do que seria de imaginar, e que reparo na sua existência cada vez que me perguntam que tipo de teclado é que recomendo, demonstrando desdém pelo “teclado mecânico para jogadores”.
A utilização do Clevetura CLVX 1 é definitivamente muito semelhante à de um teclado de portátil de tamanho completo, desde o tamanho das teclas, à distância de atuação e ao movimento por memória muscular para chegar a qualquer tecla. O seu perfil é baixo, mas requer alguma força para evitar toques acidentais, com uma recuperação satisfatória para o que é, sem fazer barulho excessivo. Não é, no entanto, o clique mais suave, comparado com outras soluções de membrana.

Ao nível dos atalhos, o Clevetura CLVX 1 conta com botões de ligação, três dedicados a cada um dos canais Bluetooth e um para o caso de se usar o cabo, para além de uma seleção compreensiva de botões de função. É um teclado virtualmente plug-and-play, sem necessidade de software extra para o seu funcionamento quase total. E quando digo quase total, é porque há duas exceções: uma para se usar em ambiente Mac (que não foi o meu caso), que requer download de drivers, e outra para configurar um agente de IA através do botão dedicado, algo que por princípio também não fiz, pois considero essa capacidade inútil para o meu uso diário.
O que torna este teclado tão especial é, como já referi, o seu trackpad embutido, com uma área de atuação ampla. Não ocupa a totalidade, deixando de fora apenas a linha inferior e cobrindo dez teclas na horizontal, algo que está visualmente bem identificado. A ideia deste teclado passa por eliminar a necessidade de um rato, ao mesmo tempo que não torna o conjunto ainda maior, com um trackpad dedicado. É uma tentativa nobre que, na realidade, durante a minha utilização diária, se revelou difícil, pois fosse de forma casual ou em trabalho, a necessidade do rato tradicional permanecia uma constante.
O sistema é bastante responsivo e imediato quando deslizamos os dedos sobre essa área, o que é particularmente impressionante, dado que só é registado quando há intenção real em mover o cursor, evitando movimentos acidentais. No entanto, embora isso seja positivo, também se torna inconveniente quando queremos efetivamente fazer cliques, que não são propriamente responsivos e naturais. Com um dedo faz-se o clique esquerdo, com dois dedos o clique direito, mas cerca de metade das vezes este não parece assumir a resposta. Felizmente há uma alternativa: no fundo do teclado, abaixo da barra de espaço, há dois botões físicos para este propósito, mas colocados numa área pouco prática, obrigando por vezes ao uso das duas mãos. Há formas de usar estas funcionalidades na sua plenitude, mas não são imediatamente naturais e requerem hábito e uma curva de aprendizagem. No lado positivo, existe uma série de gestos automaticamente reconhecíveis e muito úteis, com destaque para o gesto de pinça dos dedos para fazer zoom in e zoom out em páginas web, documentos e outros conteúdos.
Toda a experiência do Clevetura CLVX 1 é, como já mencionei, um gosto adquirido. E há outros aspetos com os quais, pessoalmente, não fiquei grande fã. Talvez o que me causou mais impressão foi o uso do trackpad e o deslize dos dedos. Não gosto da sua sensação ao toque, onde é notória a divisão entre teclas, nem da sensação derrapante ao passar os dedos, com algum atrito e um ruído semelhante ao de borracha. Estes dois aspetos são tão desapontantes que me deixaram sem grande interesse de usar esta funcionalidade enquanto aspeto central do teclado.

Para além destes nitpicks pessoais, há outros dois aspetos importantes a considerar para quem tiver curiosidade em comprar um Clevetura CLVX 1, que não é propriamente um produto barato ao surgir por 249 dólares (sensivelmente 214,70€ por conversão direta). Um desses aspetos tem a ver precisamente com o seu valor, que é ainda acrescido pelas taxas alfandegárias durante a entrega; o outro diz respeito ao layout, apenas em inglês.
Há certamente uma boa ideia com o Clevetura CLVX 1, excelente até. Mas não passa de uma boa ideia com uma execução que mostra alguma resistência. Não quero dizer que um trackpad e um teclado devam continuar separados, mas o Clevetura CLVX 1 merecia uma afinação melhor para tornar a experiência ainda mais natural e fluida, tanto ao nível dos sensores como ao nível dos materiais. Talvez estes aspetos sejam revistos numa próxima versão… e que essa seja também mais acessível.
Este dispositivo foi cedido para análise pela Clevetura.
