Com a Steam Machine, a Valve aposta finalmente numa máquina dedicada aos jogos no sofá, mas estará preparada para concorrer diretamente com as consolas da atual geração?
Após uma década desde a primeira tentativa de levar a Steam até às salas, a Valve prepara-se para voltar a apostar no conceito com uma nova Steam Machine. Esta nova versão das máquinas de outrora foi apresentada em conjunto com a Steam Frame – um novo headset VR – e um novo comando chamado Steam Controller, preenchendo assim um ecossistema de dispositivos Steam, juntamente com a popular Steam Deck. Com cada equipamento com um propósito muito próprio, a nova máquina assume-se como um sistema otimizado para jogar no sofá e concebido para funcionar com a mesma simplicidade de uma consola, em jogos modernos, ao mesmo tempo que mantém a flexibilidade do PC.
Com lançamento em dois modelos onde apenas muda o armazenamento, de 512 GB ou 2 TB, a Steam Machine inclui um processador AMD Ryzen (Zen 4) de seis núcleos/12 threads com frequência até 4,8 GHz e TDP de 30 W, e uma GPU semi-personalizado RDNA 3 com 28 unidades de computação, cerca de 2,45 GHz de clock sustentado (8.9 TFLOPS), e 8 GB de GDDR6 – tudo acompanhado por 16 GB de RAM DDR5 para o sistema. Já o armazenamento é feito em SSD NVMe PCIe 5.0, com velocidades até 10 GB/s, o que, de acordo com a Valve, reduz de forma significativa os tempos de carregamento face às consolas atuais – algo que poderá ser facilmente comprovado, considerando que os discos da PlayStation 5 atingem velocidades de 5,5 GB/s e os das Xbox Series X|S de cerca de 2,4 GB/s. Nos restantes termos técnicos, a configuração aproxima-se da arquitetura das duas consolas que partilham inclusive também 16GB de RAM (ainda que partilhada para jogos e sistema). A grande diferença encontra-se no número de unidades computacionais e número de operações por segundo, com a Steam Machine a posicionar-se, em teoria, entre, por exemplo a Xbox Series S (com 20 CU a 1,565 GHz capaz de 4 TFLOPS) e a Xbox Series X (com 52 CU a 1,825 GHz capaz de 12,15 TFLOPS).
Ao contrário das consolas, a Steam Machine aproxima-se mais de um PC. Tal como a Steam Deck, executa uma versão dedicada do SteamOS baseada em Linux, com suporte direto para os jogos da Steam através do Proton e para outras lojas digitais, como a Epic Games Store e a GOG, através de aplicações em ambiente desktop. A compatibilidade dependerá sempre do estado de cada título, cuja natureza é a versão de PC, fazendo com que os utilizadores procurem as suas definições de qualidade e desempenho preferidas. No entanto, a Valve promete que o sistema foi desenhado para dispensar ajustes manuais, oferecendo atualizações automáticas, suporte para comandos e reprodução até 4K. Algo que, claro, teremos de esperar para ver e testar, até porque a Steam Machine contará com o mesmo sistema de verificação da Steam Deck e poderá incentivar as produtoras a criar perfis de jogo dedicados e otimizados para a nova máquina.
A promessa real da Steam Machine continua a não ser muito diferente das consolas da geração atual, apontando para jogos com resoluções 4K até 60 FPS ou 1440p a 120 FPS, entre outros alvos intermédios. Para atingir estes valores – que dependerão sempre da otimização de cada jogo de PC e de ajustes – destaca-se o recurso a técnicas de reconstrução de imagem, como a solução da AMD, o FSR 3.1, amplamente usada por muitos jogos modernos.
No geral, é expectável que a qualidade gráfica dos jogos da Steam Machine não sofra grandes sacrifícios quando comparada com a da PlayStation 5 e das Xbox Series X|S, sendo o desempenho a área onde poderão surgir mais variações, sobretudo na consistência da qualidade de imagem. Isto acontece porque a Steam Machine, apesar de se assumir como um PC, não se equipara aos melhores computadores do mercado, mas também não é esse o seu objetivo. De acordo com a Valve, a Steam Machine pretende ser uma solução tanto competitiva como acessível, ao mesmo tempo que garante um formato compacto, consumo de energia reduzido e um ruído baixo durante a utilização.
Ainda assim, um dos grandes trunfos da Steam Machine, para lá da fidelidade gráfica das experiências, é o catálogo impressionante de jogos disponíveis na Steam e o espaço que poderá ocupar numa indústria cada vez menos fechada a exclusivos. Com a aposta multiplataforma da Xbox Game Studios em lançar os seus jogos na Steam e a PlayStation Studios a seguir o mesmo caminho – mesmo que com algum tempo de diferença após a estreia dos seus grandes títulos nas consolas PlayStation -, a Steam Machine poderá posicionar-se confortavelmente enquanto “o melhor dos dois mundos”.
Até percebermos o real impacto da Steam Machine, teremos de esperar até 2026, numa data ainda por anunciar, tal como o seu preço.
