O Alentejo acolherá o primeiro santuário de elefantes da Europa. A Pangea promete libertar do cativeiro dezenas de animais vindos de circos e zoológicos.
No interior do Alentejo, entre Vila Viçosa e Alandroal, uma antiga herdade tem vindo a ganhar nova vida. E no início de 2026, durante o primeiro trimestre do ano, o espaço irá acolher os primeiros elefantes vindos de circos e zoológicos europeus – animais que, durante décadas, viveram entre grades e pisos de betão. O projeto chama-se Pangea e propõe-se criar o primeiro santuário de grande escala para elefantes na Europa, um refúgio onde possam viver com liberdade e cuidados especializados.
A necessidade é evidente. Calcula-se que mais de 600 elefantes permaneçam em cativeiro em todo o continente. Com a proibição do uso de animais selvagens em espetáculos já em vigor na maioria dos países da União Europeia e com vários jardins zoológicos a encerrarem os programas de reprodução, o destino destes animais tornou-se uma questão sem resposta, pois mesmo com leis de bem-estar cada vez mais rigorosas, não há locais adequados para onde possam ser transferidos os elefantes retirados de circos ou instituições privadas.
É neste contexto que surge a Pangea. O santuário, com 402 hectares, inspira-se em modelos já implementados na Ásia, em África e nas Américas. O objetivo é oferecer aos elefantes um habitat vasto, natural e diversificado, onde possam mover-se livremente, forragear, socializar e recuperar de anos de confinamento. O projeto conta com a orientação de especialistas reconhecidos em elefantes selvagens e em cativeiro, e inclui um plano de restauração ecológica que beneficiará igualmente a fauna e flora locais.

Depois de dois anos de estudos e de uma busca extensa por propriedades adequadas – mais de 90 terrenos foram analisados -, a equipa encontrou no Alentejo o local ideal. O espaço reúne características consideradas essenciais: privacidade, abundância de água, relevo suave e um mosaico de pastagens, bosques e matos.
O modelo de cuidados adotado baseia-se no chamado “contato protegido”, utilizado nos principais santuários do mundo. Em vez de recorrer à coerção física, privilegia o reforço positivo e a cooperação voluntária entre tratadores e elefantes, assegurando a segurança de ambos os lados. A estrutura inclui uma parede de treino segura, que permite aos cuidadores interagir e acompanhar os animais de forma controlada.
Os elefantes da Pangea passarão a maior parte do tempo ao ar livre. Ao contrário de instalações situadas em climas frios, onde os animais permanecem muitas horas em espaços fechados, aqui terão liberdade constante de movimento. Ainda assim, o estábulo, em fase de construção, será essencial para cuidados veterinários, tratamentos, treinos e abrigo em condições meteorológicas extremas. A estrutura contará com cinco baias interiores e foi projetada com recurso a aço de alta resistência, com postes cravados três metros acima do solo e um abaixo, garantindo robustez e longevidade.
A Pangea tem um plano diretor de longo prazo, que prevê o crescimento gradual do santuário à medida que novos elefantes forem chegando. A expansão incluirá recintos maiores, com áreas que poderão atingir cerca de 30 hectares, concebidos para promover a formação de grupos estáveis e a regeneração natural do habitat. O objetivo final é criar um espaço onde os elefantes europeus possam viver de forma digna, segura e livre, um lugar onde, depois de uma vida de exibição e confinamento, possam simplesmente voltar a ser elefantes.
Foto: GAIA
