No coração do Parque da Pena, uma tuia-gigante intriga visitantes e cientistas, uma vez que, ao longo de mais de um século, parece ter-se movido lentamente pelo terreno, num fenómeno raro da botânica.
Entre a neblina que tantas vezes cobre a serra de Sintra, o Parque da Pena continua a ser um lugar onde o tempo parece abrandar. Criado para espelhar a estética romântica do século XIX, este espaço foi pensado para provocar espanto e contemplação, onde cada trilho conduz a uma surpresa – uma ruína, uma gruta, um lago ou uma árvore plantada há mais de um século. É nesse cenário de contrastes e de permanente diálogo entre natureza e arte que se encontra uma das histórias mais curiosas do parque: a de uma árvore que, ao longo de décadas, parece ter aprendido a mover-se.
A singularidade deste espaço deve-se à visão de D. Fernando II, que transformou as encostas rochosas da serra num jardim exuberante, repleto de espécies vindas de diferentes partes do mundo. Desde então, o parque tem enfrentado as mesmas forças que moldam a paisagem natural: tempestades, períodos de seca e alterações climáticas que colocam à prova o equilíbrio deste ecossistema.
Entre as muitas espécies que resistiram ao passar do tempo, uma destaca-se pela forma como desafia o que se espera de uma árvore. A Thuja plicata, conhecida como tuia-gigante, ergue-se junto à Fonte dos Passarinhos e é considerada o exemplar mais emblemático do parque. Com cerca de 35 metros de altura e um tronco que ultrapassa os 16 metros de perímetro, é conhecida como o Gigante da Pena e guarda um fenómeno que intriga especialistas e visitantes: parece deslocar-se, lentamente, ao longo do terreno.
Esse movimento aparente tem uma explicação natural, mas impressionante. Os ramos da tuia desenvolvem-se em forma de “J” e, com o peso da copa, acabam por tocar o solo. Quando isso acontece, enraízam e criam novos troncos, afastados do original, dando origem a uma progressão quase impercetível. Ao longo de mais de 150 anos, a árvore moveu-se alguns metros na direção do lago próximo, como se o parque a chamasse devagar.
Foto: Luís Duarte/Parques de Sintra
