O estúdio japonês responsável por Palworld, que agora opera também como editora, reafirma a sua oposição à tendência tecnológica, mesmo enfrentando acusações de a utilizar.
A Pocketpair, o estúdio que produziu Palworld e que agora também edita jogos, assumiu uma posição contra o uso de inteligência artificial generativa em videojogos. John Buckley, diretor de comunicação e responsável pela área de publicação do estúdio, afirma que a empresa “não acredita” na tecnologia e não irá publicar jogos que dela dependam, apontando que a prioridade continua a ser apoiar equipas criativas que façam projetos genuinamente humanos.
A declaração foi feita durante a Gamescom Asia, numa entrevista ao portal Game Developer, onde Buckley explicou que, apesar das constantes acusações de uso de IA em Palworld, a Pocketpair mantém a sua posição. “As pessoas vão dizer que estou a mentir, mas estes são apenas os factos. Não acreditamos nisso. Somos muito diretos sobre o assunto”, afirmou. “Se o teu jogo aposta fortemente em IA, Web3 ou NFTs, há muitos outros editores que te vão querer ouvir, mas nós não somos o parceiro certo.”
A divisão de publicação da Pockepair abriu em janeiro, com o objetivo de ajudar outros estúdios independentes a concretizar os seus projetos, entre os quais se desta o jogo narrativo de horror Dead Take, lançado este verão. Essa ajuda não se estenderá, assim, a quem recorra à IA generativa, uma tecnologia que Buckley acredita poder inundar o mercado com jogos de baixa qualidade. “Nos próximos dois ou três anos, vamos entrar numa era estranha — e já se nota lentamente na Steam — com jogos feitos por IA de qualidade muito duvidosa. A onda está a chegar, e acredito que vamos entrar num mercado de autenticidade, em que as pessoas vão valorizar os estúdios que realmente tentam criar algo especial.” Este tipo de jogos de qualidade duvidosa, que também começam a ser encontrados em lojas como a eShop e a PS Store, são apelidados pela comunidade como “AI Slop”.
Buckley prevê que o aumento de jogos desenvolvidos com IA levará o público e a imprensa a examinar mais de perto o conteúdo, procurando distinguir o que é fruto de trabalho humano e o que é gerado artificialmente. Essa tendência, admite, poderá criar dificuldades adicionais para estúdios como a Pocketpair, que têm sido acusados de recorrer a IA em processos de tradução e desenvolvimento. Um exemplo recente envolveu a localização de Palworld para vários idiomas asiáticos e europeus, incluindo vietnamita, indonésio, turco, polaco e tailandês. Nesse processo, a Pocketpair foi acusada de usar ferramentas automáticas de tradução, o que Buckley nega completamente. O mesmo esclarece que o erro nasceu de créditos incompletos, que, entretanto, foram atualizados após a empresa de localização contactar cada tradutor individualmente para obter autorização de inclusão nos créditos.
Buckley reconhece que combater acusações deste tipo é uma tarefa ingrata. “Não posso simplesmente começar a discutir com as pessoas porque isso só alimenta o problema. Há quem nunca vá acreditar em nós, mesmo com as provas todas em cima da mesa”, lamentou.
Apesar das dificuldades, o responsável defende que há espaço para críticas legítimas e compreende o receio de muitos criadores em relação à IA generativa. Ainda assim, teme que o debate tenha sido dominado por desinformação e que pequenos estúdios acabem por ser alvos de autênticas caças às bruxas.
Enquanto isso, grandes grupos como Electronic Arts, Embracer Group e Microsoft continuam a promover uma visão mais otimista do papel da IA no futuro da indústria, procurando inseri-la nos fluxos de produção de atuais e futuros projetos.