Acordar com o som da ribeira, relaxar no spa e jantar com vista para a serra: as Casas da Lapa oferecem dias de puro bem-estar.
Há lugares que não se visitam apenas – vivem-se. A aldeia de Lapa dos Dinheiros, encaixada no sopé da Serra da Estrela, é um desses lugares, encontrando-se na encosta serrana, sobre o rio Alva, a cerca de 700 metros de altitude, a uma distância de uns oito quilómetros da sede de concelho. E é por ali, entre castanheiros centenários e ruas de granito que serpenteiam colina acima, que surgem discretas as Casas da Lapa, um refúgio de montanha que é, ao mesmo tempo, hotel e pedaço vivo da aldeia.
A envolvência é imediata: o som da ribeira que corre à vista, os cumes da serra a recortar o horizonte e uma sensação rara de tempo desacelerado. Ao contrário de muitos projetos que tentam recriar o passado, aqui a identidade local não foi copiada, antes respeitada e reinventada com sensibilidade. Por tudo isto e muito mais, o hotel combina o ambiente natural envolvente com um projeto de recuperação arquitetónica que valoriza a tradição local e os materiais regionais, como a pedra e a madeira, num equilíbrio entre o passado e o presente.
O hotel nasceu da visão de Maria Manuel Cruz Silva e Nuno Bravo, casal apaixonado pela aldeia e pela região, que em 2006 transformou uma casa de campo datada de 1832, ampliando-a com um chalé pastoril próximo, para criar uma unidade que, ao longo dos anos, evoluiu até alcançar a classificação cinco estrelas – em 2020 foi feita uma remodelação total, assinada pelo arquiteto Jorge Teixeira Dias, que recuperou seis casas da aldeia e acrescentou novas estruturas com linguagem contemporânea. Atualmente contam-se 15 quartos, oito dos quais suítes, todos com um design que privilegia grandes janelas e mobiliário moderno, mas respeitando a essência da arquitetura serrana. A diversidade de quartos e suites apresenta configurações variadas, algumas com pormenores diferenciadores, como banheiras independentes com vista para o vale – tal como o quarto onde ficámos a dormir.
A decoração das Casas da Lapa move-se entre a memória e o presente: cadeiras Olaio dos anos 50, burel usado nas mantas e nas cabeceiras, tapetes de lã da Serra da Estrela, cestas de vime, mesas de design escandinavo e luz filtrada por janelas generosas. Cada detalhe parece feito para que o corpo abrande e os olhos se detenham.
Percorrer os interiores das Casas da Lapa é quase como caminhar em pezinhos de lã. Na biblioteca, a “buraca” recria as grutas escavadas nas traseiras das casas serranas onde antes se guardavam ferramentas. No spa, o ritual começa com uma massagem às mãos, e continua com tratamentos de aromaterapia, esfoliações, massagens com pedras quentes, hidratação facial e corporal – um circuito de bem-estar pensado ao detalhe, personalizado e adaptado às necessidades de cada hóspede. Ao lado, a piscina interior envidraçada tem vista para um jardim japonês ainda em construção. E porque a paz partilhada precisa de regras, o acesso ao spa é exclusivo a adultos.
No exterior, duas piscinas e uma cascata natural ligam-se ao ritmo da ribeira que atravessa o jardim, numa continuidade entre conforto e natureza. Não as conseguimos experimentar, uma vez que não apanhámos propriamente uma temperatura muito convidativa para banhos, mas um turista estrangeiro não se fez de rogado e lá estava ele, a apreciar as belíssimas vistas.
O restaurante das Casas da Lapa segue a mesma filosofia do lugar: ingredientes locais (queijos da serra, frutas, ervas aromáticas) transformam-se em pratos de autor que respeitam a tradição sem a repetir. E é quase tudo feito na casa, inclusive as manteigas e gelados. “Eu opto por comidas muito práticas e muito simples, mas que também nos façam viajar”, disse-nos a chef Sofia Cardoso. “Acho que a comida portuguesa pode ser, inclusive, bastante saborosa. Porque é o típico da cozinha portuguesa. É ser simples. E de conforto.” De facto, tudo nas Casas da Lapa é conforto, e a vertente gastronómica veio confirmar isso mesmo.
Nas Casas da Lapa, os almoços querem-se rápidos, e é por isso que há um menu pré-definido que, por 25€, inclui couvert, bebida, sobremesa e café. De entre os pratos principais, podem escolher propostas como Salada de salmão fumado, Salada vegetariana, Prego no prato à moda da aldeia, Hambúrguer de vaca com batata frita caseira, Hambúrguer vegetariano com batata frita caseira, Club Sandwich ou Tosta de queijo da Serra, presunto em pão caseiro e salada. Ao jantar, o meu ganha o nome 5 Momentos, sendo constituído por Couvert – seleção de pão caseiro, azeite biológico e manteigas que vão variando diariamente -, Entrada, Sopa, Prato Principal e Sobremesa. Custa 45€ e ainda inclui uma seleção de vinhos – alguns provenientes da quinta da família na Bairrada. Um valor excelente face à tremenda qualidade dos pratos que devorámos durante as nossas refeições. Mas atenção que é preciso reservar.
Deliciámo-nos com opções como o Cogumelo recheado com farinheira e ovo ao minuto, o Creme de ervilhas com ovo escalfado, Croquete com queijo da Serra, Creme de courgette com flores comestíveis, Bochecha de porco com esmagada de batata e esparregado de espinafres, Salmão selado com puré de batata doce, molho holandês e legumes, Robalo enrolado com presunto selado com puré de brócolos ou Magret de pato com molho de laranja e mel com arroz aromatizado. Para finalizar em beleza, Queijadinha com gelado artesanal de requeijão e doce de abóbora e Pão de ló com queijo da serra e gelado de limão foram algumas das propostas de sobremesas, sempre com o vinho mais indicado para cada momento.
Quanto ao pequeno-almoço, esse, não tem hora marcada e chega à mesa em pequenas torres com pão fresco, chouriço, fiambre, presunto, queijos, doces, fruta, bolo caseiro, mini pastéis de nata e panquecas. Não é daqueles pequenos-almoços buffet – e ainda bem, porque uma pessoa come sempre muito mais do que aquilo que realmente precisa -, mas a qualidade não falha.
O acesso às Casas da Lapa, apesar de situadas numa zona remota, é parte integrante da experiência. Para quem chega vindo do sul, as paisagens das aldeias de Alvoco da Serra e Loriga realçam o contacto com o território serrano. A aldeia de Lapa dos Dinheiros mantém uma comunidade ativa e genuína, servindo de ponto de partida para caminhadas até locais emblemáticos do Parque Natural, como a Torre ou a Lagoa Comprida.
O desenvolvimento das Casas da Lapa acompanhou as transformações nas expectativas dos visitantes que procuram turismo de natureza. Hoje, a oferta equilibra o contacto com o ambiente rural e montanhoso com conforto e serviços sofisticados, onde o descanso e o bem-estar são prioridades, mas sem prescindir da proximidade com atividades ao ar livre, como caminhadas, esqui ou ciclismo.
Mais do que um simples refúgio na serra, as Casas da Lapa Nature & Spa representam um projeto que une a paixão pela natureza, a valorização cultural e a oferta de um turismo que procura proporcionar não só repouso, mas uma verdadeira experiência revitalizante. O equilíbrio entre a autenticidade da aldeia, o design contemporâneo e a aposta numa aromaterapia diferenciada coloca este hotel num lugar de destaque no mapa turístico da região Centro, especialmente para quem procura na Serra da Estrela um destino que alia natureza, conforto e uma abordagem singular ao bem-estar.