Com uma Chave MICHELIN e espírito queirosiano, o MS Collection Aveiro – Palacete de Valdemouro está instalado num elegante edifício histórico do século XVIII, cuidadosamente reabilitado e restaurado. E o Echo Boomer foi descobri-lo.
Situada na Região Centro, Aveiro afirmou-se historicamente como um importante centro económico, com destaque para a produção de sal e o comércio naval. A cidade é atravessada por uma ria que molda a sua paisagem e lhe confere uma identidade própria, marcada por um equilíbrio entre serenidade natural e dinâmica urbana. O estilo Arte Nova, visível em vários edifícios, reforça o carácter distintivo da arquitectura local.
A doçaria tradicional assume um papel central na cultura aveirense, sendo os Ovos Moles o seu expoente máximo. Esta especialidade, elaborada a partir de gemas de ovo e açúcar, representa uma das mais icónicas expressões gastronómicas da cidade, reconhecida tanto pela sua textura delicada como pelo sabor intenso.
A proximidade ao litoral permite o acesso fácil a praias de referência. A cerca de 15 minutos de carro do centro, a Costa Nova e a Praia da Barra são destinos incontornáveis para quem visita a região.
Na Costa Nova, os antigos palheiros de madeira, hoje convertidos em casas de veraneio, são um elemento visual marcante. Pintados com riscas verticais coloridas alternadas com branco, estes edifícios proporcionam uma das imagens mais emblemáticas da zona. A praia, de mar agitado e procurada por surfistas, possui um extenso areal que se estende em direção à Praia da Vagueira, ideal para caminhadas junto ao oceano. Do lado oposto da estrada, a Ria de Aveiro apresenta águas calmas, propícias à prática de vela e windsurf, oferecendo um contraste paisagístico evidente.
Já a Praia da Barra situa-se junto ao pontão que assinala a entrada do Porto de Aveiro, onde a ria desagua no Atlântico. Este areal generoso oferece condições favoráveis para a prática de actividades como o surf, o bodyboard, o kitesurf, a vela ou a pesca desportiva. Nas imediações, destaca-se o Farol de Aveiro, com 62 metros de altura, o mais alto do país e o segundo maior da Europa. Durante o verão, esta zona torna-se particularmente animada, com bares, eventos e uma vida noturna ativa.
Mas voltemos à cidade de Aveiro, cujo património histórico e cultural da cidade reflete-se também no antigo Palacete de Valdemouro, edifício do século XVIII que acolhe atualmente o MS Collection Aveiro, o primeiro hotel de cinco estrelas de Aveiro – e que conquistou recentemente uma Chave Michelin. Localizado no centro da cidade, a cerca de 100 metros da avenida mais movimentada, esta estrutura foi, em tempos, residência do Visconde de Valdemouro e, mais tarde, da família do diplomata e escritor Eça de Queiroz. O MS Collection Aveiro presta homenagem ao autor em vários espaços, com uma sala de leitura dedicada à sua obra, onde se encontram algumas das suas publicações, um busto da sua figura – criado pelo cartoonista António Antunes – e parte do espólio cedido pela Fundação Eça de Queiroz. Esta sala encontra-se aberta durante todo o dia, junto à receção, convidando, por isso mesmo, a desfolhar um livro.
No interior do MS Collection Aveiro, com os seus 39 quartos, há dez quartos temáticos – também chamados de “quartos palacete” – instalados na parte mais antiga do edifício, e divididos entre o piso inferior e o primeiro piso, que se inspiram em personagens criadas por Eça de Queiroz, como Carlos da Maia, Maria Eduarda, Padre Amaro, Artur Corvelo, Gonçalo Ramires ou Jacinto Tormes. Cada quarto apresenta uma decoração distinta, com ambientes, materiais e disposição cuidadosamente pensados para evocar o universo literário do autor – não faltam os já clássicos espelhos com tvs integradas, por exemplo, para que não estejam “à vista”. Aliás, o mobiliário destes quartos foi todo adquirido em antiquários, bem como em lojas de velharias em Paris e Itália.
Junto à piscina exterior – há quartos com varandas neste piso com vista privilegiada para esta zona -, o mural Scratching the Surface – Eça, da autoria do artista urbano Alexandre Farto (Vhils), propõe uma reflexão visual sobre o tempo, revelando camadas da história que se encontram sob a superfície contemporânea. Trata-se de uma peça que une passado e presente, num diálogo visual que não passa despercebido. E é uma obra que marca o MS Collection Aveiro, uma vez que “não temos vista para a montanha nem para o mar”, referiu Ricardo Soares, especialista em vendas e marketing do MS Group, durante a visita guiada ao hotel. “As pessoas estão a jantar aqui no restaurante e estão a olhar para o Vhils!” Recomenda-se, também, que vejam esta peça à noite, já com alguma luz ambiente.
Já no piso -1 do MS Collection Aveiro, os hóspedes encontram uma área de bem-estar com piscina interior de água aquecida a 29,5º – se olharem para cima, reparam numa estrutura de vidro, pertencente à piscina exterior, e que faz com que, aqui, na parte de baixo, haja luz solar durante o dia – e jacuzzi, sauna, banho turco e duche sensorial. Há ainda três salas de tratamento, uma delas preparada para casais, disponíveis mediante marcação junto da receção do SPA. Para os que desejem manter a atividade física, o hotel dispõe de um ginásio de acesso livre – mas atenção que só serve mesmo para cardio, não há máquinas de pesos devido ao espaço limitado -, também localizado nesta área.
Voltando novamente ao piso 0, é precisamente ao fundo do corredor que irão encontrar o restaurante Prosa, onde cada prato conta uma história. Mesmo ao lado, há um bar onde se podem perder com um delicioso cocktail. Aqui, há que dizer que, dentro de poucas semanas, o espaço mesmo ao lado do bar, que acaba por ser utilizado como sala do bar do MS Collection Aveiro, e que dá acesso à sala do Prosa, terá um mobiliário diferente, para que se possa distinguir que é uma zona onde se bebe um copo e se devora pratos fora do fine dining, como hambúrgueres, massas e saladas. No fundo, um lounge, uma zona mais descontraída, que dá também acesso direto ao chamado Jardim de Inverno – onde têm vista para o mural de Vhils -, um espaço construído recentemente e que serve também para eventos sociais e corporativos. Na prática, são vários universos dentro do Prosa.
“A ideia do MS Collection Aveiro, para além da beleza que toda a gente consegue ver, é aliar tudo isto a muito serviço”, contou-nos Ricardo Soares, evidenciando que, no MS Collection Aveiro, os hóspedes têm liberdade para personalizar bastante a sua estadia.
Lembram-se de, no início deste texto, ter falado na Costa Nova? Pois bem, nesta press trip na qual o Echo Boomer participou, e no dia da chegada, o nosso grupo foi jantar a um magnífico restaurante, o Canastra do Fidalgo, comprado por Leandro Mota em 2018 e que tem clientes que fazem várias centenas de quilómetros de propósito só para ir ali jantar. Apesar de ter uma ementa fixa exposta no exterior, a verdade é que, no interior, junto ao peixe do dia, há uma placa a indicar a variedade disponível naquele momento. E é por aqui que passa a mais-valia do restaurante: o cliente deixar-se surpreender pela escolha do proprietário, que garante um peixe de excelência.
Foi assim o nosso jantar, com umas entradinhas para partilhar – como pão que não conseguíamos parar de comer e empadas de peixe ainda quentes -, amêijoas (temperadas apenas com alho, azeite, limão e coentros), com um “sabor o mais natural possível para que o produto seja o ator principal”, calamares fritos e, claro, o belo do “peixinho do nosso mar”. Neste caso tivemos direito a um gigantesco e incrível Robalo, sendo que, antes, ainda tivemos direito a provar um Ceviche de atum e “Sashimi” de atum, retirados diretamente de um magnífico lombo de atum exposto na secção do peixe e que nos deixou a salivar só de olhar.
Para finalizar em beleza, as sobremesas: bolo de bolacha do Canastra do Fidalgo, que naturalmente leva ovos moles de Aveiro, e que ganhou fama graças ao Casal Mistério, e Tiramisú, a sobremesa do dia, até porque o restaurante tem quase sempre uma sobremesa do dia.
Caso fiquem a pernoitar duas noites no MS Collection Aveiro, como foi o nosso caso, podem sempre sair da cidade e seguir viagem até às Caves Messias, na Mealhada, onde poderão viver uma experiência diferente.
A história de Messias Baptista, fundador da Messias, começou na Mealhada, onde nasceu a 22 de novembro de 1891. Em 1926, inscreveu-se como comerciante no Tribunal do Comércio de Anadia, lançando as bases do que viria a tornar-se uma das mais respeitadas empresas de vinho do país. Apenas dois anos após o início da atividade, começou a exportar para vários mercados europeus, revelando desde cedo uma orientação estratégica internacional.
Durante a década de 1930, Messias Baptista reforçou a presença da empresa na Região da Bairrada com a aquisição de várias propriedades, entre as quais se destaca a Quinta do Valdoeiro, permitindo o desenvolvimento de vinhas próprias, num esforço que combinava conhecimento tradicional com uma clara visão de futuro. Já em 1946, foi inaugurada na Mealhada a sede da empresa, um complexo com cerca de 35.000 m2 que continua a ser o centro da produção da Messias.
Os anos foram passando e a empresa continuou a crescer, nomeadamente com a aquisição da Quinta do Cachão, uma propriedade com 200 hectares situada na zona de São João da Pesqueira, e da Quinta do Penedo, uma propriedade com 20 hectares situada no coração da região do Dão.
Atualmente, a Messias continua a afirmar-se pela consistência e qualidade dos seus vinhos e espumantes, criteriosamente avaliados pela crítica especializada e distinguidos nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais. Cerca de 65% da produção destina-se à exportação, levando o nome da empresa, e da tradição vinícola portuguesa, a dezenas de países nos cinco continentes. É muito desta história que ficam a conhecer caso se desloquem às Caves Messias e apostem numa visita guiada às caves, onde poderão efetivamente perceber, ao longo das galerias, a dedicação diária para a produção dos melhores néctares. Há mesmo muita história, e não se assustem com as imensas teias que irão encontrar pelo caminho…
Para terminar em beleza esta visita, ainda tivemos direito a umas provas de vinho com alguns petiscos. A cereja no topo do bolo, no entanto, seria o almoço, que decorreu na Sala Messias, com uma decoração clássica e acolhedora que acomoda até 60 pessoas. Foi precisamente aqui que nos pudemos deliciar com o leitão do restaurante Mugasa, juntamente com vinhos de produção própria.
Naturalmente, seria imperdoável pernoitar no MS Collection Aveiro e não ficar a conhecer o Prosa, um restaurante clássico, tal como a decoração demonstra, e de fine dining, que propõe uma viagem sensorial que cruza o legado gastronómico português com uma abordagem contemporânea. Concebido em colaboração com o chef Rui Paula e recomendado pelo Guia Michelin, no Prosa cada prato apresentado revela uma narrativa própria, construída a partir de ingredientes familiares que evocam memórias, tradições e sabores enraizados na cultura local.
Sem recorrer a artifícios ou desvios da autenticidade, a proposta assenta numa reinterpretação cuidada dos clássicos, respeitando as origens, é certo, mas abrindo espaço à inovação. A cozinha de autor aqui praticada não pretende reinventar por completo, mas antes dialogar com o passado, atualizando os sabores sem os descaracterizar. De facto, isso notou-se na nossa segunda e última noite no MS Collection Aveiro, onde nos foi servido um magnífico jantar, dividido em seis momentos, aqui chamado de VI Momentos.
Antes dos pratos propriamente ditos, são servidos os “cumprimentos do chef”, por termos escolhido o Prosa para uma refeição tão importante como é o jantar. Nessa noite, chegaram à mesa pequenos Cornetos de bacalhau e Croquetes de porco bísaro – que viríamos a encontrar novamente neste menu -, com redução de mostarda. Depois, o menu de seis momentos: “Espetada” de lula; Rabanada, Enguia Fumada e Pata Negra – provavelmente o nosso prato preferido de toda a experiência -; A Nossa Caldeirada; Porco Bísaro, Aipo e Cidra; Espumante, Yuzu e Azeite – sendo uma pré-sobremesa -; e culminando n’“A Prosa” de Eça de Queiroz, que tal como podem ver na foto alusiva a esta sobremesa – que reúne famosos doces tradicionais portugueses -, tem apontamentos literários, neste caso, textos sobre o Palacete de Valdemouro. Não vos contamos tudo sobre este jantar porque a surpresa é também um elo importante nestes momentos e, no caso deste menu VI Momentos, está disponível por 90€, sendo que, com wine pairing, acrescenta mais 60€ ao valor. Há, para quem quiser, o menu X Momentos, bem como uma carta com opções fixas, onde o difícil será mesmo escolher.
No fundo, e como dizia Eça de Queiroz, “o verdadeiro luxo é ter tempo para comer com gosto”, e isso notou-se nesta magnífica experiência.
Não posso terminar este texto sem referir o magnífico pequeno-almoço do MS Collection Aveiro, servido no Prosa. Acreditem quando digo que foi dos melhores que já tive oportunidade de experimentar – e já se contam uns quantos… -, porque a qualidade está toda lá. Ou seja, e apesar de não ser um pequeno almoço gigantesco – basicamente existe uma secção central com duas mesas e uma bancada com mais opções -, tal como se vê por vezes noutros hotéis de 5*, o MS Collection Aveiro dá mesmo primazia à qualidade ao invés de quantidade.
Nessa secção central, encontram opções como fruta fresca, cereais, iogurtes, variados frutos secos – como avelãs torradas ou nozes pecan (!) -, cremes de barrar, chia – havia até mini pudins de chia já preparados -, aveia e, claro, uma vasta seleção de charcutaria, onde se destaca a tremenda qualidade dos variados queijos disponíveis. Já na bancada encontram uma vasta seleção de pão, inclusive de massa mãe, e propostas mais doces, como ovos moles, castanha de ovo, broinha de ovo, pastelaria variada em formato mini e, claro, bolo de dia.
Mas calma que isto ainda não acabou. É que, além de tudo isto, têm ainda um menu caso prefiram algo feito no momento. Têm ovos – estrelado, cozido, escalfado, mexido, benedict, omolete simples ou composta -, Croissant Benedict (croissant de cereais com ovo benedict, bacon e molho hollandaise), Tosta de Ovo Escalfado (Tosta de massa mãe, ovo escalfado, tomate cherry e abacate), Tosta de Salmão Fumado (Tosta de massa mãe com salmão fumado, queijo creme e rúcula), Papa de aveia com bagas e frutos vermelhos e, ainda, variadas panquecas e waffles, com imensos toppings a complementar. Já nos tinham dito maravilhas sobre este pequeno-almoço, e efetivamente confirma-se.
No final de tudo, sinto que terei de regressar a Aveiro muito em breve. Não só para conhecer melhor os recantos da cidade, mas também para me perder novamente nos encantos do MS Collection Aveiro.