A Vibes & Beats entrou em incumprimento em outubro do ano passado. A solução passará pela reestruturação dos empréstimos.
O que têm em comum a Vibes & Beats, promotora de concertos e de festivais como o North Festival – recentemente cancelado – e Rock à Moda do Porto, e a GoParity, plataforma de financiamento coletivo que permite a investidores apoiar projetos e empresas com impacto social e ambiental? À partida nada, mas quando se sabe que esta plataforma permite um financiamento coletivo, encontra-se um elo de ligação.
Na verdade, a Vibes & Beats já tem algum historial com a GoParity, contando, até ao momento, com oito campanhas de financiamento. No entanto, e se as primeiras campanhas até correram como o esperado, não é o caso com as mais recentes.
Tudo começou em novembro de 2022, quando a promotora lançou uma campanha que tinha como objetivo alavancar financeiramente a empresa para que pudesse desenvolver atuar sem constrangimentos de tesouraria em 2023. Na altura, foi pedido um investimento de 250.000€, montante facilmente alcançado graças a 1.375 investidores.
Quando uma empresa avança com uma campanha na GoParity, tem depois um plano de pagamentos a cumprir, com juros, perante os investidores. No fundo, como se fosse um empréstimo. Nesta primeira campanha, tudo correu como planeado, e um ano após o financiamento, todas as amortizações foram pagas.
Ainda em 2022, neste caso no último mês do ano, a Vibes & Beats avançou com outra campanha com o mesmo objetivo, sendo que, desta vez, pedia 150.000€, montante angariado graças a 1.211 investidores. E tal como na primeira campanha, todos os investidores receberam o capital investido e juros.
Já em agosto de 2023, a promotora pediu 150.000€ para co-financiar a preparação e produção da 2ª edição do Rock à Moda do Porto. E tudo foi devidamente pago em agosto de 2024, um ano após o financiamento da campanha.
No entanto, os problemas começaram pouco depois, uma vez que a Vibes&Beats tem mais campanhas na GoParity, mas não as liquidou, ou seja, não foi capaz de pagar aos investidores.
Por exemplo, em novembro de 2023, foi aberta uma campanha com o objetivo de co-financiar a produção da World Tour 2023/2024 da artista internacional Laura Pausini, que deu um concerto na MEO Arena em fevereiro de 2024. A Vibes&Beats pediu 150.000€ de financiamento, valor alcançado graças a 770 investidores, e tinha de amortizar esse valor, com juros, no prazo de um ano, ou seja, teve até novembro de 2024 para liquidar os pagamentos. Tal não aconteceu.
O mesmo sucede para a campanha Vibes&Beats VI, na qual a promotora pedia 125.000€ para co-financiar a produção da 6ª edição do North Festival, que decorreu de 24 a 26 de maio de 2024 no Parque de Serralves. O valor pretendido foi financiado a 14 de dezembro de 2023, logo a promotora tinha o prazo máximo de avançar com os pagamentos, e devidos juros, até dezembro de 2024. Mas está em incumprimento.
A promotora tem ainda outras três campanhas (Vibes&Beats III, Vibes&Beats VII e Vibes&Beats VIII) cujos prazos ainda não terminaram, mas estão muito perto de chegar ao fim. E tendo em conta o recente historial, parece que a Vibes&Beats também terá dificuldades em liquidar os pagamentos com respetivos juros.
Contas feitas, a Vibes&Beats angariou, através da GoParity, 1.345.000€, mas estará com muitas dificuldades em efetuar pagamentos a investidores.
Falta de pagamentos da Vibes&Beats à GoParity começou em outubro de 2024
Num email enviado em novembro do ano passado, ao qual o Echo Boomer teve acesso, pode ler-se o seguinte: “Há pagamentos do projeto Vibes&Beats III em atraso. Gostaríamos de informar que os pagamentos do projeto Vibes&Beats III estão atrasados desde 17/10/2024 – há 30 dias. Estamos em contato direto com o promotor desde o primeiro dia de incumprimento como parte do processo de recuperação de dívida. Adicionalmente, informamos que continuamente reforçamos ao promotor a necessidade de regularizar o pagamento, o que pode levar à reestruturação do plano de pagamento. Se não chegarmos a um acordo nos próximos 30 dias, iniciaremos uma ação legal.”
Nesse mesmo mês, foi ativado o protocolo de recuperação coerciva de créditos. “Não obstante ser o financiamento colaborativo um produto financeiro que acarreta risco de perda total ou parcial do capital investido, sempre que de uma análise contabilística e de risco resulte que a possibilidade de restruturação do empréstimo concedido pelos investidores aos promotores seja viável (assim diminuindo as possibilidades de incumprimento definitivo dos contratos de mútuo e perda de capital para os investidores), a Goparity poderá, em representação dos investidores, acordar na restruturação do empréstimo. Neste seguimento, tendo por base os melhores interesses dos interesses dos investidores, a equipa procurou, junto do promotor, esgotar as vias possíveis à restituição dos valores em incumprimento e posterior retoma do plano de pagamentos. Contudo, apesar das várias tentativas de negociação com vista à restruturação da dívida por parte da Goparity, e mesmo com uma postura inicialmente responsiva por parte do promotor, e não foi possível chegar a uma solução que não a via judicial. Assim sendo, a Goparity, representada pelos seus advogados, ativou o seu protocolo de recuperação coerciva de créditos. Serão partilhados os próximos passos e detalhes assim que existam desenvolvimentos”, disse a GoParity aos investidores da campanha.
O Echo Boomer também sabe que, e pelo menos no que toca a esta campanha, não houve mais novidades desde então.
Contudo, convém realçar que investir na GoParity acarreta sempre riscos. Tal como a GoParity indica, o financiamento colaborativo de um produto financeiro acarreta risco de perda total ou parcial do capital investido. Além disso, e no caso da Vibes&Beats, o nível de risco foi sempre aumentando.
Na primeira campanha da promotora, iniciada em 2022, o nível de risco era um B – a escala vai de A+, que representa risco mais baixo, a D, que representa risco mais elevado. O mesmo nível de risco foi aplicado à segunda campanha, porém, e a partir daí, o nível de risco foi aumentando para B+ e, no resto das campanhas, para C+. Ou seja, quase no nível máximo de risco. “Adicionalmente, projetos restruturados com aumento do prazo do empréstimo igual ou superior a 12 meses, serão classificados com R e projetos com mais de 90 dias de incumprimento serão classificados com I”, refere a GoParity.
Em todo o caso, parece que a solução no caso da Vibes&Beats passará pela restruturação dos empréstimos.