O Echo Boomer esteve ontem na segunda noite da 8ª edição do The Famous Fest, onde assistiu a assistir a um espetáculo de comédia por parte de Rafael Portugal e a uma sessão de perguntas e respostas de Rui Sinel de Cordes. Na noite anterior, em que não conseguimos estar presentes, Bruno Nogueira e Miguel Esteves Cardoso tinham levado a série Fugiram de Casa de Seus Pais ao palco de Capitólio.
Mas falemos da noite de ontem. Primeiro, um atraso considerável (mais de meia hora após a hora marcada, o que é inadmissível) e que pode muito bem estragar os planos a quem precisava de apanhar algum tipo de transportes para regressar a casa. Depois, temos sérias dúvidas que o Capitólio possa ser o local indicado para este festival. Quer-nos parecer que o LX Factory dava outra dimensão ao evento. Mas adiante.
O serão começou com Rafael Portugal, humorista brasileiro conhecido principalmente por ser um dos craques dos Porta dos Fundos. Naquela que foi a estreia em Portugal do espetáculo de comédia que conquistou o Brasil, podemos dizer que este senhor cativou, certamente, muitos fãs para um próximo espetáculo cá em Portugal.
Há quem lhe chame o “caracol mais famoso dos Porta dos Fundos”, numa clara referência ao seu cabelo ondulado. Rafael Portugal tem um sentido de humor muito apurado. Não podemos dizer que seja um humor de observação aquele que pratica, mas o seu truque passa por contar histórias da sua vida, inventadas ou não, e adiciona-lhe sempre um cunho pessoal que lhe faz ter imensa piada.
Num espetáculo que acabou por demorar mais que o programado (às tantas o próprio disse que já se estava a esticar), Rafael acabou por partilhar várias histórias. Das desilusões amorosas que sofreu na vida, das humilhações que passou em criança, do estado atual do Brasil, da pobreza, de quando o abordam na rua mas não sabem o que lhe devem dizer… Tudo isto parece triste, mas não foi bem assim. De facto foi mesmo o espetáculo da noite, onde Rafael conquistou a plateia com uma facilidade digna de registo.
Rafael, que esteve no programa 5 Para a Meia Noite, acabou também por partilhar com os presentes que, quando veio de avião do Brasil para Portugal, teve a sorte de assistir à aterragem no nosso país a partir da cabina do piloto do avião, tendo realçado ser uma das “coisas mais bonitas do mundo”.
É um bocado complicado falar num espetáculo de comédia quando tudo aquilo que assistimos acaba por ser um partilhar de experiências com o público, mas ficámos com a sensação de que quem comprou bilhete saiu da sessão muitíssimo satisfeito. Rafael Portugal regressa a Portugal em dezembro, onde irá dar um espetáculo no Porto, pelo que, se puderem, não deixem de perceber como funciona o humor brasileiro.
Saídos do espetáculo para trocar a nossa credenclal por um novo lugar, demorou cerca de meia hora para começar a sessão QA com Rui Sinel de Cordes, uma sessão feita de propósito para o festival. Ou seja, era uma experiência. E foi muito arriscada.
Vejamos, cobrarem 18€ por bilhete para uma sessão de perguntas e respostas com um humorista que se aborrece muito facilmente não é lá muito sensato. Ainda assim, a sessão esgotou facilmente.
O problema deste tipo de sessões é que, para correr bem, depende muito das perguntas que são colocadas e da forma como se dão as respostas e do quão dispostos estão a querer responder. No caso da sessão de ontem, houve problemas dos dois lados: não só as perguntas colocadas foram bastante genéricas e sem muito para espremer, como Rui Sinel de Cordes despachou todas com relativa rapidez e sem dar muita conversa.
Ele bem avisou no início que aquela sessão não seria para rir, mas sim para dizer a verdade, e nada mais, pelo que muitos poderiam nem gostar das respostas que ele tinha para dar.
Respondeu a dilemas, contou histórias, revelou que estava de momento em tribunal devido a uma piada que colocou há uns anos no Facebook… Aliás, o humorista contou que foi precisamente a partir desse momento que decidiu terminar com a sua conta do Facebook. “Pensava que as pessoas eram civilizadas”, disse ele.
Infelizmente, as constantes ameaças de morte e denúncias da sua página de Facebook fizeram com que decidisse abandonar a sua rede social. Agora, enquanto joga PlayStation – sete horas por dia ou mais – manda uns bitaites no Twitter e coloca umas fotos “parolas” no Instagram, como sugeriu um dos elementos do público.
Rui Sinel de Cordes partilhou ainda que decidiu voltar para Portugal após a sua curta aventura em Londres uma vez que não estava satisfeito com o rumo que as coisas estavam a tomar. Essencialmente, Rui Sinel de Cordes não gosta de perder e não estava a gostar dessa situação. “Londres é uma cidade fodida”, revelou às tantas. “Agora não há ninguém a praticar humor negro em Inglaterra, temos de ser todos politicamente corretos. Mas esquecem-se que são todos uns hipócritas de merda”.
Portugal é o local onde Rui se sente bem a fazer espetáculos, onde tem o seu público. E hoje em dia nem precisa das redes sociais para fazer essa divulgação. O novo solo já está escrito e vai estrear em fevereiro. Mas também já começou a escrever o de 2020. E estes dois novos espetáculos não serão tão pessoais como London Eyes, mas sim mais temáticos.
Sempre com muitos palavrões à mistura, a sessão lá acabou por passar relativamente rápido. Lá está, as perguntas não ajudaram a que esta noite pudesse ter sido muito melhor do que o que foi.
Resumindo, não é um tipo de sessão que funcione muito bem num festival deste género. Claro que se fazem experiências, mas cobrarem 18€ por algo assim, onde ainda por cima depende muito do feedback do público, é mesmo ser muito ambicioso. E nem todos devem ter saído satisfeitos.
O festival de humor The Famous Fest termina hoje, sábado, dia 29 de setembro, com mais duas sessões totalmente esgotadas.