O Lareira em Lisboa é especialmente curioso porque vem com uma lógica diferente do que assistimos até agora – petiscos tradicionais num momento em que várias casas se encontram a fechar, mas numa lógica padronizada de grupo.
O Lareira é um nome conhecido no Porto desde 1984, onde ao longo dos anos tem crescido até atingir ao dia de hoje várias localizações na área metropolitana (na Baixa – onde começou, Serralves, Mercado da Foz, Matosinhos, e Gaia). Fenómeno raro, este de criar escala num projeto com nome único numa base de cozinha portuguesa em que a base não é comida de pequeno-almoço ou lanche, agora chegou também a Lisboa no renovado Largo Conde-Barão, em Santos. Restaurante de uma boa escala, com cerca de 60 lugares sentados, e a manter a decoração padrão à base de madeira branca presente – oliveiras interiores incluídas, aqui num local com ótima luminosidade durante o dia.
A lógica, porém, é a mesma de sempre (a validar se o Santo António com o menino também está presente acima do Vouga). Petiscos portugueses e espaços para a famosa “partilha”, uma decoração padrão espartana porém inteligente, mesas com tampo de mármore à partida, ementa em papel encerada com ar de que vai durar para sempre.
Já a ementa é igual à dos espaços mais setentrionais. Desde logo, a Tábua Mista (8,40€), com diversos tipos de queijos e enchidos – presunto tipo Chaves à cabeça, e em especial o Picapau (12,90€). Ao contrário do habitual em Lisboa, aqui sem picles mas com enchidos, e molho de mostarda, molho inglês e vinho. Diferente dos sabores habitualmente presentes no burgo, é uma aposta que tem pernas para andar para quem aprecia/está habituado à lógica desta forma de confeção.
A acompanhar, uma ótima sangria (3,90€ o copo), à base de vinho verde à pressão, lima e canela. O jarro de litro a 8,90€ é dos melhores negócios que andam por aí para este tipo de produto, por exemplo para quem costuma frequentar ali a vizinha Rua da Silva (mais popularmente conhecida como Rua Verde). Existe também além da imperial (uma concessão onomástica, presume-se), vinho a copo maduro tinto, maduro branco, verde branco e verde rosé. Nota para o facto de, no menu, dividirem o vinho entre verde e maduro – e bem, no contexto. Quem quiser ir mais além, existem uma carta de vinhos com sugestões interessantes para quem estava à espera de apenas mais uma tasca. Não é que não seja – que é, mas há aqui ingredientes adicionais.
Existem também outros pratos na ementa, desde logo o Escondidinho (um especial da casa em que há arroz acima de uma especialidade de pernil, rojões ou alheira), o Cachorrinho ou a já clássica Francesinha. Na nossa visita, chegou o Prego Especial com Ovo (10,70€) com presunto, um dos pratos que mais sai, bem como a sandes de Pernil com Queijo da Serra (8,60€). Ambos saborosos, valoriza-se a sua divisão ao meio para devido consumo, pão correto para absorver os sucos da carne e tenra que chegue ao trincar.
Nesta riqueza de sabores, pequeno mas esforçado espaço para provar as Tripas Doces (3,40€). Neste caso com Nutella, tamanho ideal para partilhar (passada a redundância) e sair com aquele cantinho de desejo de doce devidamente recompensado. Existem também crepes, cones doces e bolachas recheadas, todos personalizáveis com uma seleção de recheios. E gelados a copo de vários sabores, convém dizer.
O Lareira em Lisboa é especialmente curioso porque vem com uma lógica diferente do que assistimos até agora – petiscos tradicionais num momento em que várias casas se encontram a fechar, mas numa lógica padronizada de grupo. É bem possível que o futuro passe bastante por aqui.
Fotos de: Teresa Graça Moura