Yoshida recorda o seu percurso na PlayStation como presidente da PlayStation Studios, embaixador de projetos independentes e, claro, corresponsável pela criação da PlayStation.
Com 60 anos, Shuhei Yoshida é um dos nomes mais acarinhados na indústria dos videojogos. Responsável por ajudar a fundar a marca PlayStation em 1993, Yoshida acumula 31 anos de carreira na Sony, onde desempenhou papéis cruciais para o sucesso da marca e para o desenvolvimento da indústria.
Agora, numa publicação no blog oficial da PlayStation, Yoshida anuncia a sua despedida, concluindo assim um ciclo e uma relação próxima de 31 anos.
A publicação, que é uma transcrição do mais recente episódio do PlayStation Podcast, apresenta uma conversa entre Yoshida e Sid Shuman, Senior Director da Sony Interactive Entertainment Content Communications. O episódio pode ser ouvido na íntegra no Apple Podcasts e no Spotify.
Na publicação, encontramos alguns trechos da conversa, onde Yoshida reflete sobre esta jornada e afirma que está na altura de avançar em frente, ou seja, este próximo passo não se trata de uma reforma.
“Estive com a PlayStation desde o início, e este é o meu 31.º ano na empresa. Quando atingi os 30 anos, pensei: “Hmm, talvez seja altura de seguir em frente.” Sabem, a empresa tem estado a ir muito bem. Adoro a PS5, adoro os jogos que estão a ser lançados para esta plataforma. E temos novas gerações de gestores que respeito e admiro. Estou muito entusiasmado com o futuro da PlayStation.
Portanto, sabem, a PlayStation está em muito boas mãos. Pensei: “Ok, esta é a minha hora“, afirma Yoshida, também destacando o seu carinho pela mais recente consola e entusiasmo pelas novas gerações de gestores.
Yoshida aproveita para fazer um apanhado da sua trajetória nos corredores da Sony, contando que se juntou à equipa da PlayStation em fevereiro de 1993, equipa essa liderada por Ken Kutanagi, numa altura em que a Sony já tinha começado a produzir jogos, mas com uma equipa do departamento da Sony Music Entertainment Japan… para a Super Nintendo.
A sua chegada à Sony coincidiu com a criação e junção de equipas para a criação de jogos para a PlayStation, resultando assim no nascimento da Sony Computer Entertainment, em novembro de 1993.
Yoshida eventualmente tornou-se presidente da PlayStation Studios, um posto com o qual acumulou alguns dos pontos altos da sua carreira, que também impactaram a forma como assistiu aos avanços na indústria. E, como seria de esperar, Yoshida aproveitou para alguns dos momentos mais marcantes, destacando as premiações para Jogos do Ano: “Durante o tempo em que estive envolvido no desenvolvimento de jogos, tive a sorte de trabalhar com equipas fantásticas e em jogos incríveis. Todos os anos, participar em eventos como o DICE Summit era tão divertido, porque muitos dos nossos jogos foram nomeados várias vezes para Jogo do Ano. Quando se está na indústria, ser parte de um jogo que ganha o prémio de Jogo do Ano é uma sorte enorme. Mas quase todos os anos eu era nomeado…
Contudo, entre todos esses momentos, um que se destacou na minha memória como algo verdadeiramente especial foi quando Journey ganhou o prémio de Jogo do Ano. Journey foi distribuído através da PlayStation Network. Era um jogo pequeno, apenas em formato digital, que podia ser terminado em cerca de três horas.
Mas esse jogo… ganhou o prémio de Jogo do Ano contra grandes títulos AAA, acredito que pela primeira vez na indústria. O criador, Jenova Chen, fez uma palestra no evento e falou sobre uma carta que recebeu de uma rapariga que tinha perdido o pai. Ela contou que, ao jogar o jogo, pensou no pai e conseguiu seguir em frente com a sua vida.
A audiência inteira levantou-se e a sala ficou cheia de uma sensação de felicidade e admiração. Foi incrível perceber que um jogo tão pequeno podia ter um impacto tão grande na vida das pessoas.“
Outro grande destaque da carreira de Yoshida passa pelo seu atual posto, enquanto Head of Indies Initiative na Sony Interactive, ou seja, enquanto embaixador de projetos independentes. Yoshida aproveitou a conversa para partilhar o seu carinho por jogos independentes e como acompanhou a evolução desta franja da indústria no início dos anos 2000, com todo o potencial da distribuição – um aspeto que o mesmo ajudou a desenvolver com as capacidades da PlayStation Network. Para Yoshida, o envolvimento mais íntimo com os jogos independentes na PlayStation foi como um emprego de sonho.
“Adoro jogos indie. Quando o boom dos indies começou nos anos 2000, a distribuição digital iniciou-se no PC, em dispositivos móveis e nas consolas. Jogos digitais pequenos podiam ser criados praticamente por qualquer pessoa no mundo e vendidos e distribuídos globalmente. Isso criou uma oportunidade incrível para a indústria experimentar novas ideias.
Jogos pequenos, por serem pequenos, não envolvem grandes investimentos. Isso permite testar ideias que nunca foram feitas antes, dando início a um canal totalmente novo para toda a indústria. Para mim, era como uma caça ao tesouro. Enquanto geria [a PlayStation Studios], trabalhar com grandes estúdios e criar jogos AAA era fantástico.
No entanto, quando ia a eventos como a E3 ou a Gamescom, fazia sempre questão de visitar a área dos jogos indie. Descobria jogos de que gostava e, muitas vezes, o próprio programador estava lá a apresentá-lo. Tirava uma foto com o produtor, tentando ajudar a promover esses jogos.
Era isso que fazia quase como um hobby enquanto geria a PlayStation Studios. Por isso, quando recebi este trabalho que me permite dedicar 100% do meu tempo a ajudar os indies, foi como conseguir o emprego dos meus sonhos.”
Esta entrevista coincide com os 30 anos da marca PlayStation, celebrados este mês (mas factualmente realizados em dezembro próximo). Um marco que tem também um significado especial para Shuhei Yoshida, presente na história da marca desde o início e que se despede desta casa no dia 15 de janeiro de 2025.