Nos últimos anos, a relação entre a arte e o mundo empresarial tem diminuído cada vez mais. São muitas as empresas que, por razões relacionadas ao marketing, à comunicação e ao fortelecimento da sua marca, começaram a aproximar-se do mundo da arte através de ações de aquisição de trabalhos, suporte (financeiro, logístico) e valorização.
Enquanto a arte contemporânea entrou cada vez mais no imaginário coletivo, as empresas, por sua vez, ficaram prontas para intercetar o potencial relacional da linguagem artística, capaz de criar novas formas de relacionamento e interação. A necessidade não é apenas a publicidade, embora a componente do patrocínio seja importante: a arte tornou-se uma forma de testar os gostos do espectador/consumidor, de compreender os estilos de vida, os ritmos e as necessidades.
Até mesmo a japonesa Lexus, a marca de luxo da Toyota desde 1989, decidiu embarcar nesta estrada, tendo apresentado no dia 29 de Junho, em Lisboa, a sua galeria pop-art UX Art Space, um espaço temporário que pode ser visitado até 15 de setembro e que surge no contexto do lançamento do novo modelo Lexus UX, que será lançado na Europa em 2019.
Não é a primeira iniciativa da Lexus no campo criativo. Desde 2013, a empresa japonesa patrocina o Prémio Design Lexus, prémio internacional de design que tem como alvo novos talentos de todo o mundo e que pretende estimular ideias para um futuro melhor. Alguns jovens designers são convidados a projetar os seus protótipos, dando a possibilidade a oito finalistas de expôr as suas criações na Semana de Design de Milão (quatro finalistas são escolhidos para um prémio monetário e um projeto vencedor é escolhido para ser financiado).
Para a galeria UX Art Space, foram convidados quatro artistas sob a produção executiva de Natxo Checa, fundador, diretor, curador e produtor da Galeria Zé dos Bois, ao lado de Carolina Grau, curadora independente e especialista em arte contemporânea, para realizar um projeto site-specific, tendo em vista a exposição do novo carro híbrido da Lexus. São trabalhos relacionados com o conceito de inovação e tecnologia, crossover e versatilidade urbana, num encontro entre design e arte contemporânea.
Neste sentido, Bence Magyarlaki (Pécs, 1992) e Inês Zenha (Lisboa, 1995) trabalharam numa instalação imersiva UX Deconstructed, onde o movimento, o som e as formas do Lexus são aqui reinterpretados. A primeira escultura, realizada através dos materiais do carro, é quase a sua desconstrução e é desenvolvida sobre o tema do origami, que contrasta com uma escultura cinética à semelhança das obras de Alexander Calder, com formas geométricas suspensas no ar, que se movem em expansão ou contração de acordo com a presença humana no espaço.
Segue-se uma instalação sonora, emitida através de uma espuma acústica posicionada no arco principal, que reproduz o som do Lexus na estrada. Uma espécie de banda sonora que introduz este modelo híbrido UX, aqui revisitado pelos artistas, que modificaram parcialmente a forma do carro, aplicando longitudinalmente na faixa do lado esquerdo uma camada de branco e estuque, o que sugere a ideia de um modelo de gesso como protótipo escultural. Não é uma obra, mas uma ação que serve para reforçar a ligação entre arte, design e tecnologia.
Ao lado do espaço central, a obra Abstraction in Motion, de Southgate-smith (Paris, 1995), é um giclée em papel onde formas geométricas coloridas (iconograficamente referindo-se ao carro em movimento) destacam-se contra a estrutura arquitetónica branca tridimensional e metafísica, que parece olhar estilisticamente ao De Chirico e ao Construtivismo russo.
Na sala final, Pedro Henriques (Porto, 1985) criou duas esculturas em alumínio (Mudslidem), também elas ligadas ao tema do dinamismo e da velocidade, dois módulos triangulares e monocromáticos, que sugerem as ideias de vetor e aerodinâmica, obras às quais estão ligados os dois desenhos Untitled, cujos traços espirais são usados para realçar a ideia de movimento.
As novas formas de relacionamento entre empresa, arte contemporânea e design também partem de projetos como estes. Experiências e misturas que podem beneficiar ambos os sujeitos: de um lado os artistas, que têm a oportunidade de se testar e afirmar, embarcando em caminhos inéditos – como neste caso no cruzamento entre arte e tecnologia – encontrando uma vitrine privilegiada para a visibilidade dos seus trabalhos, na condição que o trabalho artístico seja sempre livre e não desnaturado; por outro a empresa, como è o caso da Lexus, que reafirma o prestígio e a vontade de ser um interlocutor culturalmente preparado, capaz de acolher novas soluções provenientes de áreas como a arte e o design.