Will Butler era o nome mais badalado neste primeiro dia.
“Hoje é para ver o quê, mesmo?” Isto é mau e é bom. Mau porque denota que, em termos de nomes com capacidade de atração, o pecúlio desta sexta-feira, primeiro dia do Super Bock em Stock é, sejamos honestos, escasso. Bom porque, mesmo assim, bastantes pessoas pululam pela Rua das Portas de Santo Antão com pulseira para cirandar por aí em buscar de talentos que serão, pelo menos para elas, novos, enquanto se tem discussões sobre a vida e os atendimentos que se tem no bar.
E existe também uma lógica de ver e rever amigos que já não encontramos há muito, caras conhecidas que vêm nos fluxos migratórios de curto prazo em redor da Avenida e dos Restauradores não estando confinados num recinto único de festival. Sem dúvida um dos segredos do Super Bock em Stock ao longo das suas várias encarnações de salas e tipo de cartaz, com uma capacidade de sobrevivência já assinável desde a sua estreia em 2008, na altura com nome que se dizia homenagear o mítico programa de Luís Filipe Barros.
Para arrancar decidiu-se por jogar fácil e entrar no Coliseu dos Recreios para ver Filipe Karlsson, jovem que se inciou como membro dos Zanibar Aliens, e que desde 2020 prossegue também carreira a solo. A solo, mas com palco cheio de outros músicos, sempre na lógica colorida de camisas hawaianas e logotipos em fundo a fazer lembrar Miami Vice (o original, claro). Pop alegre, como o órgão inicial que rapidamente recebe companhia de guitarra funky em “Razão” ou em “A Paragem”, até à mais recente e recheada de batidas de graves “1 Casa 2 Portões”. Com publico em número razoável a assistir, foi com certeza ponto importante na carreira esta apresentação pela sala de visitas de Lisboa.
Soraia Cardoso é toda uma outra coisa. A jovem fadista nascida em Condeixa-a-Nova chegou à Casa do Alentejo acompanhada por guitarra portuguesa e viola e com um percurso que a levou desde o canto no coro da igreja e em vários concursos locais a um programa de talentos na televisão até às atuações hoje no Sr. Vinho, de Maria da Fé. Dona de voz comovente e com um repertório clássico das casas de fado (citada Celeste Rodrigues, por exemplo), mas a pedir talvez mais personalidade nas escolha dos temas – nada mais natural nesta idade, o tudo estava nos planos para um belíssimo momento de fado no meio de um festival, à falta de melhor, mais “urbano”. Porém, a decisão de deixar de usar o salão dos espelhos (como era costume no festival) resultou em graves prejuízos para todos, já que o Pátio Árabe do palácio Alverca não resultou de forma nenhuma como adequado para este concerto. Voz de Soraia a aparecer em segundo plano, circulação de pessoas a entrar e sair de forma constante, bar a três degraus de distância cheio de conversas paralelas. Assim, fica difícil, e mesmo assim foi possível ter momentos de grandeza vocal e instrumental. Fica, acima, de tudo, a vontade de voltar Soraia Cardoso num espaço onde se possa de facto soltar.
Passagem de alguns minutos por xtinto na Garagem EPAL, onde o jovem rapper Francisco Santos, de Ourém, apresentou Latência, disco de 2023 bem recebido no meio e com já com “Éden” e “Android” (“Sinto-me um Android, da forma como eu bloqueio, só com uma mensagem tua”) a fazerem sucesso. Muita distorção, algumas ondas de Post Malone e personalidade na escrita. A seguir.
Will Butler foi o primeiro mais badalado a ser de anúncio no Super Bock em Stock, muito pelo que já fez e de onde saiu há pouco (multi-instrumentista e compositor membro dos Arcade Fire), do que está agora a fazer com os Sister Squares (Jenny e Julie Shore, Sara Dobbs e Miles Francis). Uma pop que não se pode de deixar fazer lembrar as origens (“Willows”), mas também a fazer lembrar influências de um antanho elegante, uns ABC mais disco (“Long Grass” a fazer lembrar muito a voz de Martin Fry em “The Look of Love, Pt. 1”). Com o trio feminino muito ativo nas teclas e nos sintetizadores, e uma curiosa postura quase sempre de pé do baterista, resultou uma imagética em cena cheia de energia com a constante movimentação de Will Butler, perante uma sala Manoel do Oliveira do São Jorge cheia quase até às últimas filas.