Uma autêntica maravilha!
Apesar de partilhar praticamente a mesma idade de Mario, as suas aventuras nunca foram uma forte presença na minha vida. Com exceção de Super Mario 64, jogado no PC via emulação e da conversão do Super Mario Bros. para a Nintendo Game Boy Color, foi na Nintendo Switch que explorei mais o Reino do Cogumelo com quase todos os lançamentos e relançamentos que a plataforma teve.
Entrei, por isso, em Super Mario Wonder apenas curioso com o buzz que o rodeava e com expectativas moderadas, até porque tenho preferência ao formato 3D do que ao 2D sidescroller. E com isso em mente, acabei por levar uma bofetada gigante de alegria e diversão com uma energia que mais nenhum jogo me conseguiu entregar este ano. Maravilha! Está no seu nome. Voltei a ser criança.
Há uma atmosfera, um sentimento que rodeia Super Mario Wonder que, enquanto o jogava, explorando nível atrás de nível, me atirou à minha infância. Às manhãs de sábado em que me ligava às minhas consolas em frente da televisão enquanto espera pelos meus “Bonecos favoritos”. Ao ambiente e antecipação Natalícia da época que se faz sentir. A outra era que nunca viverei.
Super Mario Wonder evoca sentimentos fantásticos pela forma como entrega a sua aventura, como é acessível dos 8 aos 80 e como está constantemente a surpreender-nos com novidades, apesar de ser até mecanicamente simples. Distribuído em seis mundos, mais um só para os mais fortes, Super Mario Wonder é superficialmente formulaico e expectável no que toca a conteúdo, onde cada área com vários níveis corresponde a diferentes biomas, com diferentes inimigos e níveis ricos em vida e elementos dinâmicos, que se desmultiplicam em oportunidades de jogo constantemente novas.
Através de uma fórmula tão básica, a Nintendo agarrou-se com confiança às possibilidades de tornar esta aventura surpreendente e incentivante através das Sementes Fenomenais, itens encontrados nos níveis, na sua maioria bem fáceis de apanhar, que transformam os níveis em sequências mirabolantes, mecanicamente surpreendentes e memoráveis. Do nada, o nível pode ter que se jogado ao estilo de um top down, pode virar um musical, um jogo de ritmo, uma corrida contra o tempo, um jogo de ação furtiva e, podemos até, tornar-nos em inimigos ou em partes vivas do nível. É sempre inesperado e diferente. Uma surpresa que nos alicia a jogar sempre “mais um nível” e até a querer completar o jogo ao máximo em busca destes itens.
É a dança entre visuais dinâmicos coloridos, de níveis ricos e densos, com fantásticas animações de personagem e incrível jogabilidade afinada e precisa, que Super Mario Wonder eleva os seus elementos fantásticos. Controlar Mario, ou qualquer uma das outras personagens disponíveis, é uma autêntica delícia. É extremamente satisfatório a um nível que nunca senti num 2D do Mário. Aliás, o que senti em Super Mario Wonder foi o exato nível de satisfação de um Super Mario Odyssey, que juntamente com as várias insígnias desbloqueáveis, que podemos atribuir um de cada vez ao nosso personagem, multiplicam as possibilidades de explorar todos os cantos dos níveis.
Para além dessas insígnias, temos quatro novos power-ups ao apanhar as plantas mágicas. O poder de ataque de fogo, a criação de bolhas para eliminar inimigos e usar como trampolim, o poder da broca para furar chão, teto e paredes e o poder do elefante que… porque não? É forte e adorável. Todos úteis e chaves essenciais para passar determinados níveis ou para descobrir segredos, mas uma seleção demasiado contida e segura. Gostava de ter tido mais.
Outro aspeto apaixonante de Super Mario Wonder é a forma como o jogo comunica connosco. Através de flores tagarelas, Super Mario Wonder elimina qualquer necessidade de tutoriais e aproveita para nos tornar agentes ativos na exploração dos níveis, com as plantas a darem-nos dicas sobre possíveis segredos ou resolução de objetivos para ultrapassar obstáculos, sempre de formas adoráveis e hilariantes.
O resultado é tão bom que, numa muito rara exceção, decidi jogar em Português de Portugal, naquele que é o primeiro jogo da Nintendo Switch com dobragem nacional. E devo dizer que é, provavelmente, o melhor trabalho de dobragem que assisti num jogo nesta geração. As plantas são os únicos elementos tagarela no jogo, mas a entrega é tão natural, e por vezes inesperada, que chega a ser imersiva. Fantástico trabalho.
Super Mario Wonder é um jogo extremamente satisfatório também a nível de conteúdos. Com mais de 150 níveis, dos quais apenas 69 fazem parte do nosso percurso principal, há muito de opcional para fazer, mas sempre com respeito pelo tempo do jogador, quer pela longevidade de cada um, quer pelo nível de desafio que oferecem.
Não achei, no entanto, a dificuldade do jogo nada de outro mundo. Achei até bastante acessível para qualquer jogador. Existem picos de dificuldade que me fizeram questionar para quem é o jogo, mas no geral é um “passeio no parque”. Infelizmente, este sentimento também se faz sentir nos bosses, que são o elemento mais repetitivo do jogo, onde praticamente é sempre uma pequena luta com Bowser Jr. sem grandes twists mecânicos. Mas é possível encontrar desafios elevados. Nomeadamente nos níveis opcionais e num mundo “Secreto” onde o número de estrelas mete medo e a execução dos níveis requer quase memória rítmica para evitar vermos o número de vidas a diminuir.
Com o Natal à porta, Super Mario Wonder foi o melhor motor de arranque desta temporada. Um jogo que, após terminar, guardei conscientemente alguns níveis e desafios para completar durante esta época. Porque é assim, Super Mario Wonder é um absoluto doce de um jogo, do qual não quero enjoar e esquecer tão depressa.