Mais um mês de álbuns a precisarem de ser ouvidos, com uma variedade de géneros considerável.
Depois de um mês de setembro fortíssimo, era difícil conseguir melhor. Ainda assim, outubro foi bom e, com ele, trouxe muita coisa boa.
Tivemos finalmente o álbum de estreia de Sofia Kourtesis. Bad Bunny e CMAT mantêm-se em grande forma e lançam bons álbuns em anos consecutivos.
Troye Sivan e Hannah Diamond trouxeram com eles o melhor das mutações do Pop atual. Sampha subiu a parada e lançou um dos melhores álbuns do ano.
Houve ainda espaço para os Bombay Bicycle Club se reinventarem e sacarem mais um álbum de ótima qualidade e interesse. Já os The Kills continuam a reforçar o seu legado e os Rolling Stones lançaram um dos melhores álbuns das últimas décadas, reforçando o seu estatuto de lendas vivas.
Bad Bunny – Nadie Sabe Lo Que Va a Pasar Mañana
Género: Latin Trap
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O mais recente álbum de Bad Bunny é uma exploração expansiva da fama transformada em ouro, através da metamorfose entre a música latina e o trap. Fiel à sua promessa, o artista trilha o seu próprio caminho com energia notável a um ritmo constante, oferecendo um presente bem-vindo aos seus mais dedicados fãs.
Embora não seja tão seguro como alguns dos seus álbuns mais recentes (como YHLQMDLG, de 2020, ou Un Verano Sin Ti, do ano passado), o álbum destaca-se graças a uma mão cheias de faixas cativantes. A nível temático, constata-se que Nadie Sabe Lo Que Va a Pasar Mañana se aprofunda no psiquismo das celebridades, questionando alianças e autenticidade, mesmo sendo percetível a falta de alguma profundidade política.
Ainda que haja um pouco de repetição temática, a audácia de Bad Bunny mantém o álbum implacavelmente honesto.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Monaco
> Gracia Por Nada
> Telefono Nuevo (ft. Luar La L)
> Where She Goes
Bombay Bicycle Club – My Big Day
Género: Indie Rock/Indie Pop
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O mais recente álbum dos Bombay Bicycle Club, My Big Day, volta a destacar a versatilidade e inventividade de uma banda que já tanto ofereceu ao panorama indie e nunca falhou com os fãs, independentemente da maleabilidade com que se reinventaram dentro do género e se foram mantendo relevantes. Desde os vibes clássicos e cintilantes de “Turn The World On”, até aos bleeps quase hyperpop em “Rural Radio Predicts The Future”, o álbum é mais um triunfo de exploração musical glorioso.
A contribuição solta e trip-hoppy de Damon Albarn em “Heaven” e o climático “Meditate” com Nilüfer Yanya acrescentam toques característicos, que tornam a experiência auditiva mais eclética. Este álbum ousado e colaborativo, com participações inesperadas como Chaka Khan, abrange com sucesso vários géneros, entre os quais indie, pop, hip-hop e garage.
Em suma, os Bombay Bicycle Club voltam a cometer a ousadia de fazer uma mudança de visual, conseguindo criar uma experiência vibrante, alegre e deliciosa, uma vez mais.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> I Want To Be Your Only Pet
> My Big Day
> Turn The World On
> Diving (ft. Holly Humberstone)
CMAT – CrazyMad, For Me
Género: Country Pop
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O segundo álbum de CMAT, CrazyMad, For Me, destaca-se como um lançamento notável da cantora. Isto porque lança um segundo álbum bem sucedido, um ano após se ter estreado, com If My Wife New I’d Be Dead. Mais uma vez, CMAT exibe a sua destreza musical e abordagem inovadora dentro do panorama country.
Este álbum é um remoinho de emoções, explorando temas como a dor e auto-preservação, revelando novas camadas a cada audição. CMAT navega assim, com sucesso, num conceito selvagem e ambicioso, demonstrando sua forte e marcante personalidade.
Embora o álbum careça de parte do humor de seu antecessor, que acabou por caracterizar CMAT com tanto brilho, ressoa com quem já experimentou desgosto amoroso. CrazyMad, For Me consolida a posição de CMAT como uma estrela inovadora na música country, vivendo de acordo com expectativas e oferecendo uma experiência inventiva, envolvente e extravagante.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> California
> Phone Me
> Whatever’s The Inconvenient
> Stay For Something
Hannah Diamond – Perfect Picture
Género: Hyperpop
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Na sequência de um álbum de estreia morno, eis que Hannah Diamond re-aparece irradiando autoconfiança nesta sua reinterpretação do pop, criando um projeto coeso. A sua atenção aos detalhes joga a favor do álbum, explorando temas liricamente mais profundos sem nunca assumir um tom sombrio. A abertura do álbum, com “Perfect Picture”, não resume o que é apresentado ao longo do mesmo melodicamente, mas cria uma impressão positiva, sobre as virtudes do hyperpop, com uma versão bem arredondada e reinventada do mesmo.
Diamond serve-se de Perfect Picture como meio para criticar a cultura online e o seu impacto na perceção que temos de nós mesmos, no qual a artista se posiciona no epicentro da sua crítica, reconhecendo as armadilhas sobre as quais canta. O álbum constrói ainda um mundo de feminismo exagerado sem se perder na ironia, proporcionando uma exploração fundamentada de identidade, em contraste com a obsessão da sociedade pela imagem perfeita.
A meio do álbum temos uma sequência intrigante que inclui “Flashback”, numa reflexão delicada sobre um relacionamento passado; “FX”, uma doce canção de amor, formando o ponto central reluzente; e “Want You to Know”, a abordar a simplicidade sob camadas, com a distância emocional que persiste na era digital.
Olhando como um todo, apesar de melodicamente Picture Perfect ficar aquém do prometido (com a efusividade da primeira faixa) a nível de temática, destaca-se como um álbum pop perfeitamente funcional, recheado de momentos cativantes.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Perfect Picture
> Poster Girl
> Staring at the Ceiling
Sampha – Lahai
Género: Alternative R&B/Soul
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Não é novidade nenhuma que a voz inconfundível de Sampha pode muito bem ser a peça mais facilmente reconhecível do que este tem para oferecer, enquanto músico. No entanto, é a sua paciência e, sobretudo, a sua habilidade de produção, que o tornam tão único, fazendo, por sua vez, de LAHAI uma experiência tão sensacional – quase uma obra-prima, diria.
Esta odisseia soul astral é simultaneamente uma promessa de conexão, tecendo uma tapeçaria de alegria, admiração e saudade, enquanto abrange géneros como soul, rap, jazz, dance, jungle e música africana ocidental.
Colaborações com talentos como El Guincho e contribuições de Yussef Dayes e Yaeji destacam o tema subjacente de “comunidade” no álbum. LAHAI é um trabalho emocionalmente rico, que se baseia numa exploração íntima de afrofuturismo e realismo, solidificando o ímpeto de Sampha como um talento geracional.
A positividade persuasiva do álbum, transmitida por sintetizadores eufóricos, violinos expansivos, pianos cósmicos e percussão subtil, forma um tumulto de som reconfortante. O estilo de produção intricado de Sampha, ocasionalmente inquieto, contribui para a totalidade do álbum, fazendo de LAHAI uma jornada envolvente.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> Spirit 2.0
> Suspended
> Only
> Can’t Go Back
Sofia Kourtesis – Madres
Género: House
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O álbum de estreia de Sofia Kourtesis, Madres, é um pacote coeso e incandescente, entrelaçando amostras e sons numa cativante jornada musical. Tivemos de esperar um pouco por esta estreia, mas valeu imenso a pena a espera, pois superou todos os EPs lançados pela artista até à data.
O álbum atinge o seu auge com “How Music Makes You Feel Better”, apresentando uma batida de fundo techno e linhas de sintetizador a roçar no eufórico, como se Kourtesis acreditasse no poder curativo da música. Diria que este álbum de estreia é uma verdadeira carta de amor aos mais variados sons da electronic, mesclando house music de pista de dança com influências latino-americanas.
Apesar de desafios ocasionais na priorização da composição, “Madres” continua a ser uma belíssima celebração, recheada de dinamismo contagiante, deixando a promessa que o que é esperado deste álbum em clubes um pouco por todo mundo, não será nada menos que uma receção calorosa.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Madres
> Se Te Portas bonito
> How Music Makes You Feel Better
> Estación Esperanza
Sufjan Stevens – Javelin
Género: Indie Folk
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Neste álbum profundamente pessoal e comovente, Sufjan Stevens mergulha em tensões relacionais com um estrondo que surge de mansinho, entregando simplicidade através de um álbum mágico, destacando-se como uma das melhores obras deste.
Apesar da voz suave e da instrumentação calma, Stevens capta a atenção de uma forma que lhe é característica, recusando-se a desaparecer em segundo plano. Falo, pois, da vulnerabilidade, com a qual entrelaça referências e camadas metafóricas, criando uma experiência belíssima para os ouvintes.
As músicas do álbum começam intimamente, mas rapidamente se expandem para crescentes estrondosos, demonstrando a amplitude de Stevens, desde estéticas de cantautor, até à orquestração barroca. Embora não tenha o mesmo impacto de Carrie and Lowell (2015), Javelin atravessa emoções pesadas com a mesma força e alma, colocando-o no mesmo patamar.
Há faixas sensacionais, tais como “Goodbye Evergreen”, com uma amplitude sonora impressionante, ou “Will Anybody Ever Love Me?”, numa fusão perfeita de elementos humanos e sintéticos. Um pouco por todo o álbum, Stevens aborda a necessidade do amor, evitando habilmente trivializar sua importância. Em paralelo, os diversos fios sonoros do álbum unem-se sem polaridade inversa que o impeça, fluindo sem esforço e conduzindo o ouvinte por uma jornada mais natural do que seria de esperar.
Javelin pode não ser a obra-prima de Stevens (Carrie and Lowell mantém o título), mas reflete o trabalho de um mestre, que emprega vocais íntimos e encantadores, harmonias celestiais e, sobretudo, uma produção meticulosa. Este é um álbum de Sufjan Stevens digno de Sufjan Stevens, um regresso que destila com graça o auto-desprezo numa melancolia apaixonada.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> Goodbye Evergreen
> Will Anybody Ever Love Me?
> So You’re Tired
> Shit Talk
The Kills – God Games
Género: Garage Rock
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Posso parecer suspeito quando falo dos The Kills, porque é uma banda que me tem surpreendido ao longo de mais anos do que parecem, de forma contínua, mas a verdade é que são realmente bons.
Com o mais recente lançamento dos The Kills, God Games, assistimos a um grande passo ousado e elegante na direção certa, mostrando ambição e maturidade duas décadas após o início da sua carreira. Alison Mosshart e Jamie Hince mantêm-se no auge da sua forma, explorando novas dimensões sonoras enquanto preservam o seu som distintivo.
O núcleo do álbum reside numa balada pop downtempo madura, complementada por melodias californianas ensolaradas. Apesar de não ser um álbum perfeito, God Games confirma que a banda ainda está em evolução, quebrando barreiras e proporcionando um regresso grandioso e irreverente. Embora não seja um álbum montado para atrair novos ouvintes em massa, captura na perfeição o apelo duradouro e a destreza musical dos The Kills.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> New York
> LA Hex
> Love and Tenderness
> 103
The Rolling Stones – Hackney Diamonds
Género: Rock
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Por incrível que pareça, nunca é tarde demais para lançar algo fresco e com razão de ser. Os Rolling Stones mostram mais uma vez o porquê do seu estatuto lendário na história da música.
O novo álbum dos Rolling Stones, Hackney Diamonds, pode muito bem ser a melhor produção da banda em décadas, oferecendo um espetáculo eletrizante e coeso. Seja considerado um possível Exile on Main Street tardio, o álbum destaca-se pela faixa espetacular “Sweet Sounds of Heaven”, mas não vive apenas dela, pois músicas como “Angry” ou “Get Close” dão amplitude ao álbum.
Apesar de alguns pontos menos positivos, como a desatualizada “Dreamy Skies” (fora do alinhamento) e a tiro ao lado com “Live By The Sword”, Hackney Diamonds mostra que os Stones ainda estão para as curvas. Em suma, se este for o último álbum da banda, é uma despedida soberba e que prova uma banda que já deu tudo, ainda têm mais a oferecer, mesmo após mais de 60 anos de carreira – repito: 60 anos de carreira.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Angry
> Get Close
> Mess It Up
> Sweet Sounds of Heaven (ft. Lady Gaga)
Troye Sivan – Something to Give Each Other
Género: Pop
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Neste álbum, os altos e baixos da vida dançam entre si numa química quase laboratorial, criando uma experiência pop cativante e vital carregada de amor, desejo e emoção. Something to Give Each Other destaca a liberdade crescente de Troye Sivan para se expressar plenamente, resultando numa das performances pop mais significativas, impactantes e polidas deste ano.
Desde os seus momentos divertidos e caóticos até à sua atemporalidade na moda, este álbum edificante, com um toque de tristeza, deixa uma marca duradoura. A presença extremamente confiante e credível de Sivan, aliada à exploração de diversas camadas sobrepostas, torna este álbum uma pérola distinta de pop, demonstrando a sua habilidade em não só acompanhar um género em constante evolução, como também dar o seu contributo para essa evolução, criando uma experiência envolvente.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Rush
> One of Your Girls
> Got Me Started
> Honey
Outros álbuns a ouvir:
> Blink-182 – One More Time…
> Creeper – Sanguivore
> Israel Nash – Ozarker
> Jamila Woods – Water Made Us
> Taylor Swift – 1989 (Taylor’s Version)