Não se pode dizer que Ben Howard seja um novato nestas andanças. Ele, que deu logo nas vistas quando lançou o álbum de estreia Every Kingdom em 2011, e, em 2014, com I Forget Where We Were, que o catapultou em definitivo para as luzes da ribalta, veio ao Coliseu de Lisboa dar vários aperitivos daquele que será o seu próximo álbum de estúdio, Noonday Dream. Infelizmente, o concerto pecou por ficar demasiado concentrado neste novo álbum e acabou mortiço.
Tinha-se passado quatro anos desde a última vista de Ben Howard a Portugal, que ficara marcada por diversos problemas de som. Mas esta noite prometia ser diferente: a estreia em nome próprio no nosso país num Coliseu esgotado. Estavam reunidos os ingredientes necessários para o sucesso.
Sentado mais para o lado direito do palco, Ben Howard criava um ambiente como se estivéssemos numa sala de estar a ouvir histórias. Os restantes membros da banda estavam, cada um deles, no seu próprio espaço, delimitado, como se estivessem no seu próprio mundo. O baixista, por exemplo, estava descalço em palco e a curtir como se fosse a última noite da sua vida.
O concerto arranca com Ben Howard na guitarra a tocar “A Boat To an Island On the Wall” e “Nica Libres At Dusk”, que ainda têm de ganhar o seu espaço em disco. É com estes dois temas que percebemos que aquela folk simples e desinibida de outrora deu lugar a uma sonoridade mais subtil, mais dark, mais eletrónica, capaz de envolver todo um novo público nessa complexidade… mas também o de não agradar aos que já eram fãs.
É que, após estes dois temas, seguiram-se “Untitled”, “The Defeat”, “Towing the Line”, “What the Moon Does” e “Agathas Song”, todos eles do novo disco, que só sai em junho, e, como tal, amplamente desconhecidos do grande público. Ou seja, só lá para o oitavo tema do alinhamento é que o público reconheceu a muito aplaudida e cantada “I Forget Where We Were”.
Não foi uma jogada muito inteligente de Ben Howard, esta de tocar imensas músicas de um álbum que ainda não foi lançado.E isso traduziu-se na reação do público que acorreu ao Coliseu. Do local onde me encontrava (camarote), e apesar de não ter reparado em muita gente a mexer no smartphone, a verdade é que as músicas não despoletarem aquela reação de surpresa e felicidade quando ouvimos uma nova canção pela primeira vez e queremos passar o resto do dia a ouvi-la. Não. O que aconteceu foi um público que ia “adormecendo” ao longo do concerto e que só reagia perante um dos hits.
Logo de seguida àquela faixa mais conhecida, Ben Howard tocou “Small Things”, e começava-se a ganhar esperança de que o concerto iria tomar um novo rumo, principalmente após este ter pedido “desculpa por as canções estarem um pouco enferrujadas”. Mas não, fomos novamente brindados com “Someone in the Doorway” e “There’s your man”.
Após um breve adeus, Ben e os seus amigos voltaram para tocar três temas, mas que ninguém pareceu importar-se verdadeiramente: “End of the Affair”, “Promise” e Conrad”.
Posso dizer que os presentes acabaram por ter uma noite que não tinham idealizado. Primeiro, salientar que o cantor inglês apresentou o novo disco na íntegra, ao vivo, o que seria de louvar caso este álbum fosse considerado uma masterpiece; em segundo, muito provavelmente Ben aproveitou a noite para testar os temas e para perceber como é que o público reagia perante essa apresentação, o que me leva a perceber que, se Ben fosse passar pelo nosso país daqui a uns meses, certamente que o concerto seria totalmente diferente.
Por mais fantásticas que as canções sejam, o público em si não as conhece, não está familiarizado. Nestas ocasiões é preciso tempo. É necessário esperar que as canções ganhem força, e vida, fora do álbum. E Portugal acabou por “sofrer” com o facto de ter sido o país onde o inglês iniciou a nova tour.
Não se pode dizer que tenha sido um mau concerto, até porque há novas canções realmente boas. Mas fazer todo um espetáculo ao vivo baseado num álbum que ainda não está no ouvido dos fãs e, ainda por cima, não os presentear com temas como “Only Love” ou “Keep your Head Up”? Não se faz.