Um evento que funcionou bem no local e na altura do ano escolhida. Por mais assim.
Com a organização da Paixão pelo Vinho, o Salão Preto e Prata do Casino do Estoril encheu-se com mais de 200 vinhos à prova num ambiente de festa, incluindo música (alta) e petiscos no Foyer Panorâmico do Casino do Estoril. Uma solução, importa dizer, bem sucedida no que respeita à sala principal, onde foi possível circular e falar com os expositores com bastante à vontade, situação que por vezes não acontece em eventos deste tipo.
Quanto aos vinhos, o motivo principal do evento, várias novidades se destacam, com enfâse nos brancos numa noite já bastante amena que prenuncia os tempos quentes que estão prestes a chegar. Assim, o Quinta da Caldeirinha Branco 2021 mostrou que as terras de montana da Beira Interior são cada vez menos promessa e cada vez mais realidade em todos os segmentos. Produção biológica, muita vibração, casta Síria a dominar com a sua fineza e aroma a frutos tropicais.
Pelo interior norte se continua, agora em Trás-os-Montes com a Quinta do Sobreiró de Cima, uma amiga já de vários anos e que tem surpreendido pelo número de rótulos que disponibiliza sempre com patamares de qualidade. E nessa nota de novidade chega o Verdelho/Sauvigon Blanc 2022, juventude e frescura com a tradicional secura e longura da mineralidade granítica da zona, também citirino, e em especial o curioso Gewurztraminer Reserva 2021. Esta casta do centro e leste europeu, tão apreciada, tem feito o seu caminho em Portugal, e o Sobreiró é um dos seus pontas de lanças por terras lusas. Aqui em modo reserva (ao contrário das versões anteriores que provámos dela), com barrica, algumas das suas características de bouquet mais pronunciado arredondadas, perfil mais meloso e gastronómico. Sempre correto.
Para manter a exploração desta casta, fomos até à Casa da Atela, aqui já no Tejo. Bem diferente aqui, tremendo aroma e sabor a lichia, o do Gewurztraminer 2021, um dos mais facilmente identificativos da prova, seguido por algum chá e cremosidade, longo final. Vencedor e a fazer pensar o que uns anos de guarda lhe poderão fazer. Também da casa, e já que por aqui se estava, o Chardonnay 2021 também muito forte no nariz e com o tradicional perfil vegetal e a flores, mas com também aqui com muita riqueza de gosto para um vinho deste perfil, acidez a não falhar e um final que não acaba abruptamente, pelo contrário. Ambos apenas com estágio em inox, no caso do primeiro com leve maceração (12 horas), no último com batonnage durante 100 dias – os solos da charneca arenosa a darem-se muito bem assim.
A Monte Cascas é talvez o projeto mais diversificado do país dada a sua natureza quase que nómada, e o Colheita Douro 2022 (Códega do Larinho, Gouveio e Viosinho) mantém a característica clássica que a linha vem mantendo nos últimos anos, com o seu floral e fruta expressiva mas delicada, muito limpo, prazer fácil mas saboroso. Referência para guardar para quem é perguntado para um branco do Douro para algum jantar de família ou amigos.
Por último, da Companhia das Lezírias, o Tyto Alba Vinhas Protegidas 2020 compete no mesmo patamar dos 5 aos 10€, aqui com o tradicional lote do Tejo de Fernão Pires e Arinto. Citrinos fortes e frescos, madeira aqui mais presente, frescura e acidez igualmente competentes. Outro vinho fácil sem querer andar a facilitar. Obviamente mais sério o 1836 Grande Reserva 2019, estreme de Fernão Pires. Mais elegância, as notas citrinas a manterem-se mas mais leves e com outras frutas a entrar, maçãs em particular. 12 meses de estágio sobre borras finas. Envolvente, a pedir um bacalhau no forno.
Um evento que funcionou bem no local e na altura do ano escolhida. Por mais assim.