MEO Kalorama Dia 1 – Matar saudades dos Kraftwerk, o show de Years & Years e os problemas com os 2ManyDjs

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Foi um bom primeiro dia de festival. Mas há (claramente) coisas a melhorar.

O dia 1 de setembro de 2022 vai ficar marcado em Portugal como a data em que nasceu o mais recente e último dos grandes festivais europeus. Aqui está o MEO Kalorama, com uma primeira edição cujo cartaz é bastante interessante e que levará, ao Parque da Bela Vista, em Lisboa, cerca de 100 mil pessoas ao longo de três dias de festa. E sendo no recinto que é, é impossível não fazermos comparações com outro grande festival que por ali acontece de dois em dois anos: o Rock in Rio Lisboa.

Mas felizmente ou infelizmente, dependendo dos gostos de cada um, o MEO Kalorama tem um target totalmente diferente. E logo por aqui, vai agradar ao típico festivaleiro, à procura de descobrir novas tendências ou de rever velhos amigos.

Quem tem ido ao Rock in Rio Lisboa nos últimos anos, rapidamente percebe que, aqui, no caso do MEO Kalorama, encontrará um recinto mais compacto. Existem três palcos – MEO (o principal), Colina (secundário) e ainda o Futura -, sendo que dois deles estão demasiado perto um do outro… e isso eventualmente deu chatice. Mas já lá vamos. Já quem não tem por hábito ir ao Rock in Rio Lisboa, provavelmente não se lembrará muito bem do recinto do Parque da Bela Vista, partindo à descoberta.

Além de somente termos três palcos, existem muito menos marcas e muito mais espaço livre. Esqueçam filas para os brindes, para os sofás da Vodafone, para a roda gigante… Aqui não há resquícios de feira popular. Há muita tranquilidade no recinto e espaço livre de sobra. Mas nem tudo é positivo.

Apesar de, no mapa do recinto, existirem três pontos para WC, as casas de banho surgem em quantidades reduzidas, além de serem individuais, pelo que deparámo-nos com imensas filas, tendo também lido várias queixas sobre este aspeto na rede social. Aliás, há fotos que evidenciam falta de limpeza nessas zonas… E mais não dizemos.

No MEO Kalorama não há resquícios de feira popular. Há muita tranquilidade no recinto e espaço livre de sobra. Mas nem tudo é positivo.

No que toca à zona de alimentação, a oferta não é propriamente abundante – e até está algo dispersa – pelo que, quando chega a hora de aconchegar o estômago, as filas começam a formar-se. Mas a oferta é razoável, ainda que faltem opções veggie, para quem opta por esse estilo de alimentação. Já a cerveja, bom… é da marca espanhola San Miguel, que alguém diz nas redes sociais saber a “água de tremoço”.

E não podemos deixar de fazer um reparo no que toca à falta de informação em algumas zonas do recinto, que os seguranças dizem ser zonas da produção, logo vedadas ao público em geral, mas sem que exista qualquer informação visível com essa indicação.

Adicionalmente, para um festival que diz ser sustentável, não se percebe o porquê de não ser possível levar um copo reutilizável adquirido noutro evento para o MEO Kalorama. É sempre preciso adquirir um copo do MEO Kalorama e, aí sim, ir reutilizando. Quer dizer, percebemos o porquê, mas podiam facilitar… Temos também relatos de garrafas de água reutilizáveis que ficaram à porta do recinto, uma vez que os seguranças não deixaram passar esses objetos, e que algumas bancas de comida não deixavam pagar com cartão ou telemóvel, mandando carregar “tokens” num cartão próprio do festival… Para um evento que diz ser cashless, há também pontos a melhorar.

Já para levantar a nossa credencial, não percebemos bem o porquê, mas deram-nos um papel a comprovar o levantamento, quando essa prova podia ser digital… Não havia necessidade. E foi algo confuso, não havendo nenhuma indicação para a press. Adiante.

Vamos então à música. Não fomos a tempo de assistir à atuação de Rodrigo Leão e somente conseguimos ver uns minutos de Xinobi Live, mas deu para perceber que o público, especialmente aqueles das primeiras filas, estava a adorar. Por isso, o primeiro concerto que acabámos por ver mais minutos tempo foi mesmo o de James Blake, que pedia uma hora mais tardia.

A melancolia do outrora tímido James Blake pede pouca luz ambiente, pelo que teria sido provavelmente uma melhor aposta colocar o britânico a tocar após a hora de jantar. Mas não sendo possível, deu para desfrutar da mesma.

Em modo festival, os artistas optam por não se concentrar muito em novos álbuns, sabendo perfeitamente o que estão a fazer. E James Blake optou por somente apresentar “Say What You Will”, do álbum Friends That Break Your Heart, editado no final do ano passado, e compactar a sua atuação para temas que mais deixam os fãs a suspirar, como a cover de “Limit To Your Love”, “CMYK” ou uma pujante “Voyeur”, sendo que era impossível ficar sentado ou não bater o pé. Apesar de não ter sido na hora que mais desejaríamos, a delicadeza disfarçada de James Blake deu para encher as medidas.

20h. Hora de jantar e, por isso, perdemos o concerto dos colombianos Bomba Estéreo, somente chegando a tempo do último tema, “Soy Yo”, curiosamente bem conhecido do público, ou não fosse uma das faixas da banda sonora do jogo FIFA 16.

O que presenciámos neste primeiro dia do MEO Kalorama, por parte de Years & Years, foi totalmente diferente das diferentes atuações do então trio por cá.

Uma hora depois, mais nenhum palco funcionava a não ser o principal, com as atenções a estarem todas concentradas em Years & Years, o agora projeto a solo de Olly Alexander, músico e também ator da fabulosa série It’s a Sin, da HBO.

Até março de 2021, o projeto Years & Years era uma banda de três elementos, mas, quando foi anunciado que um novo e terceiro álbum estava em produção, o projeto ficou reduzido apenas ao vocalista Olly. Ou seja, o que presenciámos neste primeiro dia do MEO Kalorama, por parte de Years & Years, foi totalmente diferente das diferentes atuações do então trio por cá.

O foco está agora totalmente no vocalista e na equipa de bailarinos que o acompanha. Com os ecrãs gigantes a transmitirem o que parecia ser um filme visual do concerto, Olly Alexander dá um autêntico espetáculo pop, com uma produção que já mete inveja a muitos e muitas artistas.

Years & Years, que já foi um dos projetos mais interessantes da cena britânica da última década, tem agora aqui um novo rumo a seguir, um novo começo. Olly tem carisma, tem voz, talvez somente lhe falte um mão cheia de hits orelhudos para conquistar o mundo e estar no topo das tabelas.

Night Call, álbum lançado em janeiro deste ano, deu o mote à digressão do projeto, e logo se percebe o porquê de uma cabine telefónica no palco. Ao longo do espetáculo, os adereços foram mudando: casas de banho onde eventualmente acontecem engates, camas de casal que representavam a solidão… E se os adereços mudavam, também as coreografias eram sempre diferentes. Aliás, dança, e com vários movimentos sensuais, foi coisa que não falou neste espetáculo – daí a diferença abismal relativamente a apresentações da então banda por cá.

A setlist do concerto foi do mais recente álbum ao primeiro, e temas mais antigos (e conhecidos), como “Shine”, “Desire” e “King”, acabaram por ser naturalmente melhor recebidos que faixas mais recentes, como “Consequences”, “Crave” e “Starstruck”. Já “It’s a Sin”, cover dos Pet Shop Boys, também foi bem recebida, embora pessoalmente tenhamos preferência pela versão original.

Foi um dos bons espetáculos da noite. Só é pena mesmo a qualidade de som não estar no seu melhor…

Acabou Years & Years e uma mancha muito generosa de público já aguardava pelos germânicos Kraftwerk, cuja última passagem por Portugal data de 2019, com um concerto no EDP Cool Jazz.

Teria sido um dos melhores concertos do festival não fosse o facto de imensa gente não conseguir calar-se…

Numa carreira com muita história para contar – já lá vão mais de 50 anos! -, é pouco ou nada surpreendente sabermos que, hoje em dia, apenas resta Ralf Hütter da formação clássica. E apesar de darem o mesmo concerto há anos, há sempre quem nunca tenha tido oportunidade de ter visto esta instituição da cena eletrónica. Por exemplo, uns quantos curiosos ficaram surpresos ao terem recebido uns óculos à entrada do recinto, aqui utilizados para apreciar as imagens em 3D que iam surgindo no ecrã.

Numa narrativa que anda à volta da eterna relação homem-máquina, apreciámos uma homenagem ao ciclismo com “Tour de France”, um vislumbre de como é tirar a condução e conduzir na auto-estrada pela primeira vez no simulador de “Autobahn”, a inevitável transformação em máquina com “Man Machine” e o amor-ódio de “Computer Love”. “The Robots” foi outro dos pontos altos.

Teria sido um dos melhores concertos do festival não fosse o facto de imensa gente não conseguir calar-se – não se consegue entender porque é que as pessoas teimam em falar quando estão a assistir a um espetáculo – e de termos assistido à “fuga” de imensos festivaleiros para o palco principal à medida que o tempo ia passando. No fim, ainda antes de “Music Non Stop”, já muitos tinham circulado.

Não podemos, no entanto, deixar de criticar a organização no que toca aos horários. Tudo estava a correr relativamente bem até por volta das 22h10, hora prevista para os 2manydjs e Tiga entrarem no palco MEO. Ora, quem estava no recinto rapidamente percebeu a pouca distância – somente algumas dezenas de metro – entra este e o palco Colina, onde atuavam os Kraftwerk, e tendo em conta o baixo volume deste palco secundário, rapidamente seria engolido pelo som saído das colunas do palco principal. Foi o que aconteceu.

Os belgas 2manydjs e o canadiano Tiga começaram uma atuação que nem é digna desse nome, pois terminou abruptamente em coisa de 10 minutos. Não havia condições. “Devido a conflitos de som entre os palcos MEO e Colina, fomos obrigados a interromper a atuação dos 2manydjs b2b Tiga”, disse a organização num curto comunicado. Escusado será dizer que as redes sociais do festival contam com vários comentários negativos relacionados com o sucedido. Talvez não fosse mal pensado, numa segunda edição do MEO Kalorama, realocar este palco Colina.

Não há muito a dizer sobre os The Chemical Brothers, com um repertório em modo best of que têm vindo a apresentar nas variadas vezes que já atuaram em Portugal. Passando por hits como “Hey Boy, Hey Girl”, “Galvanize” e outros, o público que se concentrava no palco MEO parecia satisfeito. Cá atrás, muitos contavam os minutos para ver os Moderat.

Com uma viagem de carro ainda por fazer, não conseguimos usufruir praticamente da atuação do supergrupo alemão. Surgindo em palco com um atraso de cerca de 10 minutos, muito por culpa da demora dos The Chemical Brothers, Sascha Ring, mais conhecido como Apparat, e Gernot Bronsert e Sebastian Szary, dos Modeselektor, logo entraram com um som pouco expansivo – notava-se, de facto, essa falta de “pujança”. Disseram-nos depois que os problemas de som somente seriam resolvidos mais perto do final da atuação. Fica para a próxima.

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