O restaurante 550º, a mais recente aposta do Real Hotels Group, opera no contexto singular do Holiday Inn Express & Suites Lisboa – Príncipe Real, demarcando-se como um projeto gastronómico que, em linha com o espaço onde se insere, vai para além da classificação hoteleira.
Primeiramente, a inserção do restaurante 550º no Holiday Inn Express & Suites Lisboa – Príncipe Real constitui um posicionamento que, embora logisticamente próximo das Amoreiras, desafia a perceção tradicional associada à marca Express, que em geral privilegia a funcionalidade. O Real Hotels Group demonstra, com este projeto, uma estratégia deliberada para utilizar a restauração como um fator de distinção e atração, transformando uma unidade hoteleira de três estrelas num destino gastronómico a ter em conta.
Por outro lado, fica aqui o alerta: para quem ainda não conhece o 550º nem a sua localização exata, a referência na morada ao “Príncipe Real” pode levar ao engano, pois o estabelecimento situa-se muito mais a sudoeste, na zona do Rato; aliás, essa indicação acarreta mesmo um certo equívoco geográfico face à localização efetiva. Felizmente, o staff demonstra uma boa proatividade em lidar com questões logísticas, como seria de esperar, disponibilizando-se para prestar informações de contacto, o que só sublinha a dedicação da equipa à satisfação do cliente e à imagem de marca. Portanto, se não sabem onde é o Holiday Inn Express & Suites Lisboa, primeiro verifiquem bem o mapa, que é o que interessa e onde vão estacionar, se estiverem de carro.
Claro que o hotel e o 550º são bem conhecidos para quem vive ou trabalha na zona. A gestão demonstra, aliás, empenho no desafio de operar numa zona com elevada concentração de escritórios, oferecendo um menu executivo competitivo (entre 21€ e 25€) que visa captar o fluxo de almoços. Também a operação noturna tem demonstrado maior adesão, tanto por parte de hóspedes como da vizinhança.
De uma forma ou de outra, a visita ao 550º é uma experiência única, em vários aspetos. O espaço, com capacidade para aproximadamente 100 lugares, foi concebido pelo atelier Furtivo e apresenta uma estética que equilibra as referências industriais com a contemporaneidade minimalista. A dualidade é conseguida através da combinação de materiais: a sobriedade do cimento polido e da madeira escura é mitigada pela introdução de elementos de terracota e pela presença pontual de vegetação mediterrânea. O design integra inteligentemente a temática central da cozinha de fogo e brasa, como muitos lhe chamam, e bem.
O ponto focal estético, e elemento de destaque, é a lareira parietal a vapor de água, que simula a chama de forma controlada e sem emissões, uma imagem que reforça o simbolismo do fogo em redor do qual o convívio se articula sem comprometer o conforto. A cozinha aberta, ou à vista, expõe o trabalho da equipa, validando a transparência da operação e a técnica empregada. Complementarmente, os estofos em pele adicionam uma nota de conforto e sofisticação ao ambiente predominantemente industrial.
Mas, para quem procura este 550º, o sucesso da experiência sente-se logo à partida e é sustentado pela qualidade do serviço de sala. A equipa, liderada pela gestão de marketing e acolhimento, como é o caso de Ana Cláudia Castelo Branco, revela um domínio da carta e dos objetivos estratégicos do restaurante. O atendimento distingue-se pela capacidade de detalhe e explicação, essencial para um menu baseado em técnicas específicas: brasa, forno a lenha, processo de Maillard (o objetivo é o controlo máximo das reações químicas provocadas pela cocção, de forma a preservar e sublimar nos alimentos quer os seus sabores, quer os níveis nutricionais).
A carta do 550º, assinada pelo Chef Executivo David Casaca, assenta na técnica da cozinha de fogo, explorando a arte de cozinhar a lenha e a carvão para intensificar o sabor através do processo de Maillard. O menu é estruturado para a partilha e é notavelmente inclusivo, com sólidas opções vegetarianas e vegan ao lado de cortes de carne premium e pratos de mar. Já agora, um detalhe interessante que confere ao aspeto da sustentabilidade uma dimensão tangível, em certos detalhes, como os porta-menus: são confecionados a partir de pranchas de skate reutilizadas. O mais importante, o menu, é uma carta de boas surpresas.
Logo nas entradas, o couvert define o ambiente de brasa, com Pão de Massa Mãe Grelhado e Azeite Fumado. As fatias estavam um pouco tocadas demais pela força do lume, nos bordos, mas o pão de massa mãe é sempre aquela delícia que, neste caso, conjugada com a pasta de manteiga e o azeite fumado (o que posso dizer? É altamente delicioso, sabe a azeite “grelhado”, se é que isto existe), quase quebra o apetite para o resto da refeição, se formos demasiado atrás da tentação… Os Mexilhões no Fogo à Bulhão Pato são confecionados mediante a abertura dos bivalves diretamente no fogo, antes da adição do refogado. Só para que percebam, esta técnica garante a integridade do sabor.
Outra grande presença nas entradas é o Pão de Alho, Parmesão e Cebolete, que se revela de uma execução primorosa, ótima massa, e cujo potencial é maximizado pela utilização do azeite fumado. Indo atrás desta vertente mais italiana, as pizzas são irresistíveis, conforme demonstra a Pizza de Presunto, Pistacho e Parmesão. Considerada o prato de maior sucesso comercial e recomendação da casa, esta pizza utiliza uma base de massa otimizada para o forno a lenha. Além desse importante detalhe, a qualidade dos ingredientes é o fator distintivo, com ênfase no presunto de excelente qualidade, macio e de boa mastigação, complementado pela textura e sabor de um ingrediente fundamental, os pistachos, que às vezes figuram no nome e descrição dos pratos, para no fim serem apenas um elemento vestigial. Não é aqui o caso, pois são pistácios inteiros, abundantes, e tornam esta pizza absolutamente marcante, com a conjugação de todos os outros ingredientes.
Ora, como a brasa e o fogo são palavra de ordem, não podíamos deixar de experimentar um prato como o do Arroz de Forno de Rib Eye com Cogumelos e Maionese de Alho. O arroz de forno, servido num tabuleiro baixo de forma retangular, ilustra a técnica de cocção em forno a lenha. Embora a carne (Rib Eye) seja de ótima qualidade, o perfil do prato é dominado pela complexidade dos seus acompanhamentos e do próprio arroz, ligeiramente tostadinho e de tom avinhado, sugerindo uma narrativa que se estende para além do ingrediente proteico principal.
Em matéria de acompanhamentos, a coisa não é deixada por mãos alheias: o perfil de sabor nos acompanhamentos é o mesmo dos principais, demonstrando uma técnica de cozinha rigorosa, e perfeita, diria. A Batata Frita com Maionese de Alho tem um toque particularmente forte, intenso, que é de valorizar numa experiência, posto que revela uma compatibilidade entre execução controlada e capacidade de arriscar.
Já o Esparregado é notável pela sua confecão. Na verdade, deixem-me dizer, não é muito condimentada, o que é, por si uma surpresa que demonstra que a aposta também reside na intenção de preservar e dar a provar o sabor natural dos alimentos.
Um dos condimentos que mais consistentemente adoro é a trufa, em todas as suas formas. Pois ela está presente neste outro acompanhamento, o Puré de Batata Trufado, e remete à profundidade do paladar, um verdadeiro “umami”, um sabor profundo com uma intensidade terrosa e cremosa, que só pode ser descrito como “absolutamente delicioso”.
No que concerne às bebidas, o bar manager Bernardo Carreira concebeu uma carta de cocktails de assinatura que dialoga com o conceito de fogo.
O cocktail testado foi o Pata Pesto, feito à base de Gin Mare, manjericão fresco, lima e espuma de gengibre. Pode-se dizer que representa a fusão de mixologia com referências herbáceas, apropriadas ao ambiente. A oferta de vinho ao copo, como o Arminho, demonstra a preocupação em harmonizar a carta líquida com a estrutura dos pratos de brasa.
Em matéria de sobremesas, são confecionadas também com excelente execução técnica e acabam por ser um bom fecho da refeição.
Escolhi dois pratos que representam polos distintos da doçaria. O Banoffee, que cumpre a função de sobremesa de conforto clássico, combinando a doçura familiar do caramelo e da banana com uma base um pouco mais espessa. No entanto, o facto de a banana ser reconhecível em fragmentos dentro da porção cremosa causou-me alguma estranheza e a impressão de comprometer a expetativa que tinha desta sobremesa e do seu efeito.
Já o Limão e Merengue destaca-se na carta pelo seu preço mais elevado e pela sua natureza. De facto, percebe-se que exige uma execução técnica mais precisa na confeção do merengue e no equilíbrio revelado no seu ponto de acidez, por causa do limão.
A escolha destas sobremesas, uma mais acessível e a outra mais sofisticada e de alta pastelaria, não deixou de proporcionar um bom final a esta refeição, em que tanto foi possível revisitar sabores familiares quanto apreciar o rigor de técnicas que aliam o savoir faire de uma cozinha clássica com novos modelos de experimentação e sofisticação.
O 550º representa uma declaração clara de intenções do Real Hotels Group: uma qualidade gastronómica contextualizada num espaço que, de certo modo, nos fascina e surpreende em diversos aspetos observáveis, sobretudo pela sua estética (design industrial, lareira a vapor, materiais de contraste), aliada a um ambiente, diria quase, futurista intimista, tendo tudo o que é preciso para atrair tanto o público local como os visitantes de fora.
