Videojogos: Boas Leituras – Uma agradável surpresa e um desastre expectável

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Esta semana há bons textos sobre os mais recentes lançamentos, sejam eles jogos de orçamentos exorbitantes, como de origens mais humildes.

O Videojogos: Boas Leituras é um espaço de opinião da autoria do convidado Filipe Urriça, onde partilha a sua visão sobre videojogos, sobre a indústria e onde recomenda o melhor que se produz e escreve em Portugal. Podem segui-lo no Twitter e subscrever a sua newsletter, aqui.

Descrição superficial para uma análise a fundo

Quando procuro uma análise, uma antevisão ou um texto qualquer que seja bem trabalhado (com uma argumentação bem sustentada que apresenta de forma clara a ideia do seu autor), quero perder-me nos desenhos que as palavras usadas pintaram. É tão bom podermos abrir um artigo e percebermos que não estamos a ler a parte de trás da caixa do jogo em análise ou, talvez seja mais frequente, abrir a página de uma loja digital que contém a descrição da obra que está à venda. Escrever em bom português é essencial para construir bons debates com os leitores ou dar-lhes um voto de confiança para voltar e, assim, saberem onde é que podem ler boas opiniões, mesmo que não concordem com elas.

Como já ouvi num podcast onde falavam sobre o exercício da análise e crítica sobre videojogos (talvez no Supermegabit de Daniel Costa), em Portugal produzem-se muitos “textos descritivos em vez de analíticos”. Concordei plenamente com esta afirmação e ainda hoje continua a ser verdade. Para quê saber o que o jogo é se não sei o que fez sentir ao autor do texto? Quais são as emoções que o jogo tenta despertar em quem joga? Como é que o título se encaixa num contexto sociocultural? São perguntas pertinentes que valem a pena serem respondidas. A quem escreve, tal como já me foi recomendado a mim por um dos melhores que escreve sobre videojogos por cá, aconselho-vos a lerem o livro Introduction to Game Analysis, de Clara Fernández-Vara e dêem uma leitura pelo manifesto The New Games Journalism de Kieron Gillen, fundador do Rock, Paper, Shotgun e escritor de bandas desenhadas na Marvel.

forspoken echo boomer

Dois jogos, dois contextos antagónicos

Esta semana foi bastante peculiar em termos de lançamentos de jogos, tendo acontecido uma espécie de antítese com duas obras criadas e entregues em conceitos opostos – Hi-Fi RUSH e Forspoken. Um foi uma agradável surpresa e o outro foi um desastre expectável. Pelas análises que li na nossa praça, o jogo da Tango Gameworks foi amplamente elogiado, enquanto que foram tecidas duras críticas ao jogo da Luminous Productions. Espero que este seja um ponto de viragem para a produção de videojogos em empresas megalómanas, que se deixem de exuberâncias supérfluas e que assumam uma atitude mais humilde e realista na criação das suas obras. Enfim, é por isso que mantenho a minha convicção que o mercado indie é muito mais interessante de acompanhar – a não ser que gostem de umas boas novelas carregadas de polémicas, aí sigam afincadamente a tradicional indústria triple A.

Infelizmente, estes dois jogos afastaram os holofotes de lançamentos como Season: A Letter to the Future ou do anúncio de SteamWorld Build. Ainda bem que há publicações online que sabem fazer uma boa curadoria de conteúdos, sem se focarem única e exclusivamente em jogos com uma forte carga mediática. Continuou-se a escrever sobre Dead Space Remake e Fire Emblem Engage, como já é habitual o que não dá cliques, como Warsim: The Realm of Asolna, SteamWorld Build ou Sports Story, tem uma cobertura muito reduzida. Assim, recomendo-vos alguns textos interessantes mais abaixo.

hi fi rush echo boomer 4

Leituras

Nestes textos continua-se a falar do emblemático RPG da Nintendo Fire Emblem Engage e da aventura de terror no espaço Dead Space Remake.

E quem estava mais céptico pode ficar descansado, porque o resultado é tudo aquilo que um fã da série podia desejar. Não só conseguiram reacender a chama de uma franquia que hoje apenas era venerada como uma memória de um passado longínquo, como deram uma masterclass de como fazer um remake com diversas condicionantes criativas parecer como novo.” – Nuno Mendes sobre Dead Space Remake, Salão de Jogos

Há algo que adoro muito nesta vida para além de um bom bitoque – que é estar enganado. E eu estava bem enganado quanto a este Engage. Vá, continuo a não ser fã das cores da protagonista e de alguns detalhes, mas do resto? Caramba, arrisco a dizer que é um dos melhores Fire Emblem que já joguei.” – André Pereira sobre Fire Emblem Engage, Glitch Effect

Em parte, é uma recriação e modernização 1:1 do original que, por vezes, remexe com elementos para tornar a jornada mais interessante para quem conhece o original e que colocam o jogo mais dentro das expectativas para quem ainda não o conhece em 2023.” – David Fialho sobre Dead Space Remake, Echo Boomer

Forspoken e Hi-Fi RUSH poderiam ter sido ambos bons jogos, mas só um conquistou a crítica, o outro viu-se ao longe que era um comboio em pleno descarrilamento.

HiFi Rush é uma ideia bem executada e refrescante. Misturando elementos de outros jogos, toca um riff contagiante. Tentar manteres-te no ritmo enquanto combates contra hordas de robôs é um novo tipo desafio até para os fãs de hack and slash que já estão habituados a estas andanças.” – Jorge Loureiro sobre Hi-Fi RUSH, Eurogamer Portugal

Forspoken é um jogo que se passa num mundo deprimente, cinzento, em que tudo está partido. As pessoas não são particularmente simpáticas, com algumas exceções, o ambiente é hostil e difícil de navegar sem um mapa, e nem a própria protagonista do jogo lá quer estar.”Carolina Moreira sobre Forspoken, OtakuPT

De maneirismos exagerados a momentos à la “looney tunes”, a arte de fazer rir sem palavras está bem presente e é bem complementada pela a arte visual escolhida, o “toon shading”, técnica utilizada para conferir ao jogo um aspecto mais abonecado ao ambiente 3D do jogo.” – Gonçalo Martins sobre Hi-Fi RUSH, Meus Jogos

Para começar, o mundo aberto criado para este palco de jogo é pobre, com atividades repetitivas e normalmente pouco apelativas. E está longe de oferecer o potencial gráfico de jogos que brilharam no ano passado como Elden Ring, Horizon: Forbidden West ou God of War: Ragnarok. Há momentos que roça a qualidade do que víamos numa PlayStation 3.”Rui Parreira sobre Forspoken, Rubber Chicken

Temos aqui textos de quem se dedicou a escrever sobre jogos indie de vários estilos e géneros, nomeadamente Season: A Letter to the Future

Apesar da seriedade dos seus temas – como conflito, vida, morte, religião, ideologias e afim -, o foco de Season não vem de um ângulo de miséria e apatia, mas algo mais filosófico e introspetivo, que faz-nos questionar e procurar soluções para os nossos problemas.” – Octávio Silva sobre Season: A Letter to the Future, Glitch Effect

É curioso ver os developers do The Station afirmarem que SteamWorld Build é um cruzamento de Anno e Dungeon Keeper, porque todo o game design bipartido que compõe este jogo é decalcado desses mesmos 2 exemplos históricos.” – Ricardo Correia sobre SteamWorld Build, Rubber Chicken

O último ano da escola ou da faculdade, o nascimento de filhos ou netos, são novas estações na vida, e quem estiver a passar por isto verá muitos destes temas refletidos ao longo das histórias que Season conta.” – Gonçalo Taborda sobre Season: A Letter to the Future, IGN Portugal

Embora Sports Story introduza novas mecânicas de desporto, a sua estrutura geral torna o loop de jogo bastante aborrecido, e quanto mais se joga mais repetições de eventos e missões. No fim de cada capítulo, é possível jogar-se uma ronda completa de golf, e sem tirar o mérito a todos os outros desportos aqui incluídos, o golf é onde o jogo realmente brilha.” – Pedro Almeida sobre Sports Story, Meus Jogos

As avaliações extremamente positivas que tem no Steam são inteiramente merecidas e justificadas. O maior contra do jogo é ser baseado em texto. Um género que se encontra perdido nos meandros mais obscuros da internet, partilhado em sites específicos, feito muitas vezes em motores de jogo próprios para isso.” – Gonçalo Carvalho sobre Warsim: The Realm of Aslona, Rubber Chicken

Para ouvir:

Para ver:

[Nota de agradecimento: Quando decidi escrever esta newsletter não imaginava que seria recebida tão calorosamente por tantas pessoas. Como não tenho jeito para redes sociais, deixo aqui o meu profundo agradecimento a todos os que subscreveram ao Videojogos: Boas Leituras e que aguardam semanalmente um novo email com um conjunto de recomendações para lerem o que se escreve por cá. Muito obrigado.]

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