As diferentes perspetivas de Pokémon e do panorama nacional onde se escreve sobre videojogos.
O Videojogos: Boas Leituras é um espaço de opinião da autoria do convidado Filipe Urriça, onde partilha a sua visão sobre videojogos, sobre a indústria e onde recomenda o melhor que se produz e escreve em Portugal. Podem segui-lo no Twitter e subscrever a sua newsletter, aqui.
Nesta primeira publicação de Videojogos: Boas Leituras (ou segunda, se não contarem esta introdução), depois dos testes que fiz no Twitter, vou apresentar-me, pois acho que é a melhor forma de começar este pequeno projeto que tenho em mente há mais tempo do que devia. O meu nome é Filipe Urriça, um nome comum com um apelido invulgar, sou de 1984 e escrevo sobre videojogos desde 2009. Tenho um gosto especial por ler opiniões, críticas e qualquer outro artigo de valor analítico – são este tipo de peças que eu próprio produzo. Comecei no extinto Xbox Team Portugal, tive uma participação esporádica num pequeno blogue, mas a minha maior aventura foi em março de 2013 (se a memória não me falha) quando estreei o VideoGamer Portugal. Atualmente, tenho o prazer de colaborar no Rubber Chicken.
Chega de falar sobre mim (não sou assim tão interessante). Esta semana foram lançados vários artigos e análises que me fizeram perceber que quer as publicações de grande renome, como o blogue mais pequeno, vivem na mesma realidade – uma muito diferente dos sites anglo-saxónicos. Em Portugal, só dois ou três sites é que lutam pela atenção dos jogadores portugueses (dependendo dos jogos e de quem os distribui) para as suas análises que saem na data e hora, previamente estipulada pelos NDA (Non-disclosure Agreement, o que chamamos aqui de Acordo de Confidencialidade), para formar a opinião de quem lê. Alguns meses depois de Pokémon Scarlet/Violet ter saído, ainda vemos publicações a lançarem as suas opiniões em forma de análises ou em textos mais criativos. Sinceramente, acho que é aqui que nós perdemos uma grande oportunidade (contra mim falo) para dar largas à criatividade e escrever algo mais criativo e menos formulaico.
Deixo aqui dois exemplos. Esta semana, Ulisses Domingues escreveu uma análise para a Squared-Potato sobre Pokémon Scarlet/Violet, uma dissertação bem longa (dez minutos de leitura segundo a aplicação Pocket) como quase ninguém faz. E adicionalmente, lançou um novo programa “Crítica ao crítico” (adoro o nome e o conceito e estou muito curioso para ver o quê sairá dali) no podcast da mesma publicação para onde escreveu a análise ao jogo da Game Freak. Já André Reis escreveu a sua opinião para o Starbit também publicada esta semana.
Porém, não é só no campo dos jogos que a realidade é diferente das publicações britânicas e norte-americanas. Os sites com menos projeção mediática, até o próprio Eurogamer e o IGN, também sofrem do mesmo para analisar novas consolas. A Steam Deck teve cobertura cá apenas pelo Echo Boomer na sua janela de lançamento, através do David Fialho. Recentemente, Jorge Loureiro deu a sua opinião sobre a consola da Valve para o Eurogamer Portugal, e esta semana foi a vez do OtakuPT publicar a sua perspetiva pelas palavras de Bruno Reis.
Francamente, não acho que seja mau termos análises e artigos muito depois de uma obra ou produto sair. O grande problema é que pode ser mais difícil capitalizar o trabalho para manter um determinado site vivo. Ou se tem uma abordagem sincera sem se tentar ser “grande” quando não há possibilidades para tal, ou então procurar formas criativas de rentabilizar um espaço de conteúdo sobre videojogos – não me perguntem é como.
Fiquem com as minhas sugestões de leitura que devem ter em conta.
Pokémon Scarlet/Violet analisado por diversos sites, em diferentes alturas.
“Tanto os desafios encontrados ao longo do título, como os vários ginásios espalhados por Paldea, até aos momentos mais exigentes no final do videojogo, houve pouca coisa que conseguisse superar o meu pokémon starter de erva com um dos novos ataques introduzidos, e um ou outro situacional para colmatar diferenças de tipo.” – Ulisses Domingues, Squared-Potato
“Visto que passamos boa parte do jogo a explorar, deparamo-nos com uma enorme ausência de vida e detalhes que persistem em todos os cenários, uma particularidade que se torna bastante evidente devido à amplitude do mundo.” – Ricardo Martins, OtakuPT
“Pokémon Scarlet, com o elemento do mundo aberto, leva ironicamente a linearidade ao extremo, tornando-a absolutamente vazia e ausente de qualquer tipo de conteúdo.” – Carlos Duarte, Future Behind
“Desculpa estar sempre a falar em Fuecoco. Mas acho que tem muito a ver com o jogo, olha lá: se os chocolates são coisas deliciosas, que toda a gente adora, quando os usamos mal sofremos no Fuecoco.” – Óscar Morgado, Rubber Chicken
Artigo onde se argumenta sobre o bom game design de Far Cry 5.
“Podemos dizer que o FC5 faz tudo aquilo que “Red Dead Redemption 2” (2018) não soube fazer, que é tornar consequente as nossas ações livres no mundo sobre a história. Comparativamente, RDR2 e FC5 aproximam-se em liberdade, exploração, sandbox, mas tudo o que fazemos no mundo de RDR2 fora das missões tem impacto zero na história, e isso é um total absurdo. FC5 resolve isso de uma forma brilhante.” – Nelson Zagalo, VIRTUAL ILLUSION
Dead Space regressou, portanto leiam aqui esta interessante opinião.
“As suas mecânicas continuam divertidas e intensas, o que significa que quem nunca jogou o título original vai sentir que está de facto a jogar um novo jogo. E isso nem sempre se consegue transmitir num remake, quanto mais num remaster.” – Rui Parreira, Rubber Chicken
Esta semana há artigos sobre os tão fascinantes jogos indie que não deixam esta indústria morrer.
“Um título mais seguro de si, com uma personalidade bastante vincada (e bem emulada) que consegue adaptar as mecânicas clássicas dos jogos de ação e plataformas 2D numa campanha sólida e bastante variada.” – João Canelo sobre Vengeful Guardian: Moonrider, Echo Boomer
“A premissa deste [Eastward] era simples: The Last of Us, mas em pixel art, com um toque de Undertale e Earthbound, numa aventura com tanto de enternecedora, como de bizarra; um conto gaimiano que uniu um silencioso mineiro a uma fedelha de cabelos brancos de neve e que não sabia estar quieta.” – André Pereira sobre Eastward e CrossCode, GLITCH EFFECT
“A Space for the Unbound apresenta uma história “teen drama” bastante interessante que de alguma forma consegue aquecer o coração até dos mais friorentos.” – Pedro Almeida sobre A Space for the Unbound, Meus Jogos
“Já sem medo de soar repetitivo, os criadores indie têm mesmo a capacidade de pegar em elementos aparentemente sem possibilidade para se misturar, misturá-los, e criar algo interessante.” – Ricardo Correia sobre Ship of Fools, Rubber Chicken
Para Ouvir:
Para ver:
Assim fica concluída a primeira edição de Videojogos: Boas Leituras. Espero que gostem deste novo formato. Até à próxima.