NOS Primavera Sound: Desta vez não foi mais uma moeda, mais uma voltinha. Ou será que foi?

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Após muita demora, finalmente o cartaz do NOS Primavera Sound (NPS) para 2019 lá se deu a conhecer. E há quem diga que as redes sociais estão a arder de indignação (presume-se que algum cantinho esteja sempre em ignição) quanto à suposta falta de qualidade do mesmo.

Isto não apareceu do nada, com o festival-mãe em Barcelona a publicar um manifesto político-social em que declara um “The New Normal”, descreve o cartaz como revolucionário e promove explicitamente géneros como o reggaeton, afirmando-se “contra a ditadura do musicalmente correto”.

Os nomes escolhidos para o cartaz do Parc del Fòrum causaram efetivamente polémica, como é natural naquilo que é, convém lembrar, um festival de música. Se já tinha existido uma receção menos que esfuziante ao cartaz de 2018 de boa parte dos habitués, o de 2019 terá gerado tal controvérsia que justificou a criação uma linha de atendimento em que é possível aos fãs mais vocais falar com o responsável máximo do Primavera, Gabi Ruiz.

Seja por manobra publicitária ou genuíno cansaço de um modelo que cresceu durante vários anos a bom ritmo, procurou-se criar uma rutura, muito embora a escala do festival permita sempre uma enorme transversalidade de estilos, em que dificilmente não se encontram alguns nomes do agrado mesmo do espectador mais exigente.

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Foto: Telmo Pinto

Este caldo de cultura influenciou, à partida, a divulgação do cartaz do Porto, tendo em conta a larga partilha de nomes que atuam nas duas cidades, e a demora na saída levanta várias leituras, nomeadamente quanto à hipótese de que este ano marcasse um aumento da autonomia programática do irmão caçula, até pela popularidade relativa de géneros como o supra mencionado reggaeton por terras lusas.

Olhando para o resultado final, a resposta perante a efetiva concretização de tal cenário é um Nim. Se J Balvin vem cá e apercentagem de artistas a bisar permanece alta, a verdade é que a organização se esmerou por trazer um joker da craveira de Jorge Ben Jor, e acaba por fazer um relativo equilibrar do barco.

Assim, se o foco no feminino mantém-se com a vinda de Solange, Erykah Badu ou Rosalía, com direito a letras grandes no cartaz, nomes como Stereolab e Interpol, para além dos não “cabeças” Jarvis Cocker, Courtney Barnett, James Blake, Low ou uns inéditos em Portugal Guided by Voices, garantem ecletismo e a manutenção de uma influência indie. Também há Shellac, ao que parece.

Qual é então, o problema, face a um 2018 que trouxe Nick Cave, Lorde e A$AP Rocky? Na verdade, não parece que haja assim tão grande alteração face ao passado recente, para além dos já citados nomes grandes. O problema parece ser a própria existência de nomes em destaque, em que uma larga franja de pessoas, pelo menos numa primeira fase, apenas olha para esses e não para o conjunto. Até porque num festival com múltiplos palcos como este, se todos os nomes fossem dirigidos à mesma franja, muitas escolhas difíceis para cada horário terão de ser feitas – os míticos solapes.

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Foto: Telmo Pinto

Este excesso de escolha gerou boa parte da fama do Primavera enquanto festival de programadores, com um critério bastante coerente, e parece que se está progressivamente a tornar mais num festival de tendências, o que desagradará a bastantes. A edição de 2017 em Barcelona tinha no seu programa uma publicidade engraçada de uma conhecida cervejeira holandesa que dizia “Tu planning de conciertos es más sofisticado que el plan de presuepuestos del Estado – Necesitas un Primavera Sound”. Na mouche.

Porém, porventura, será cada vez menos assim. Mas no caso do NPS, e num festival que se vende como a versão gourmet do gigante catalão, seria talvez interessante garantir excelência na arrumação dos artistas em palcos confortáveis para as suas atuações – garantir a abertura do palco Pitchfork no 1º dia seria aí uma grande ajuda, ou recuperar a interessante experiência. Ou até, e também voltar à experiência da primeira edição em que se fizeram concertos na Casa da Música, replicando o luxo de ter uma sala fechada como acontece na casa-mãe e dando condições mais próximas do ideal a artistas mais de nicho, melhorando a experiência do valor do bilhete de quem vai e quer ouvir quem gosta, em bom. Se se perde por um lado, há todas as condições para se ganhar por outro.

Fotos de: Telmo Pinto

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