NOS Alive’19 – Dia 1: Os regressos após 7 anos e a razão do South Park

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A localização do NOS Alive sempre foi desafiante: um perto mas longe, aquele enigma que parece ter alguma solução mágica, mas que implica sempre um mas.

Desta vez chegámos cedo qb ao NOS Alive, mas, mesmo assim, o trânsito na Avenida de Brasília implicou que perdêssemos a primeira metade do concerto de Sharon Van Etten. Num palco secundário bem composto de fãs ruidosos, Sharon dá um espetáculo num volume bem alto também, com alguma distorção.

Há simpatia recíproca e boa vontade, mas o sítio não é o melhor e o tempo é curto. Esperamos ver-nos em breve num outro local.

Quase ao mesmo tempo, os Weezer divertem-se a fazer versões de A-ha e Toto, como ficou registado neste último álbum com capa digna de Miami Vice. Ideia indiferente, mas divertida, acabam por dar um bom som para o sol a pousar desta tarde em que o Verão achou por bem recuperar todos os dias que tinha em atraso.

O som falha por duas vezes, mas ninguém leva a mal. Acaba-se com a orelhuda “Buddy Holly” que leva todos a trautear um original destes poucos vistos por estas bandas. Escolha acertada para uma escala horária difícil.

Pelo palco principal do NOS Alive a seguir há Ornatos Violeta. Em 2019, são uma banda com vários ses, desde a falta de material novo ao hiato de sete anos desde a última reunião. Mas a verdade é que se trata do caso mais evidente de síndrome Gato Fedorento aplicado ao panorama musical português. O facto é que, desde então, nunca mais houve nada igual, e os presentes, muitos dos quais não comiam de garfo e faca quando O Monstro Precisa de Amigos foi editado, sabem disso.

Talvez seja um regresso apenas a pensar na faturação, mas num mercado tão pequeno e pobre, e tendo em conta a seriedade com que estes concertos foram levados (a verdade é que soam bem ao vivo), não há nada a dizer. Estes hinos podem e devem ser ouvidos em 2019. E porque não em 2026.

Jorja Smith tem tudo para ser uma estrela, e esta é uma boa altura para tomar nota disso. Infelizmente, a hora de jantar alargada a que esta jovem atua implica uma enchente para chegar ao Palco Sagres, e quando lá se chega não é facial escutá-la bem. A circulação é o drama existencial do NOS Alive. Deu para perceber que está de boa saúde e deseja-se que volte em breve. Acredita-se que quem tenha acampado lá na frente tenha dado o seu tempo por bem gasto.

Tempo breve para passar pelo EDP Fado Café, onde os 150 metros quadrados foram muito curtos para escutar a mestria de Camané. Este é um palco que marca a diferença por cá, mesmo escutando da rua. Dar-lhe parte do espaço, por exemplo, do gigantone Palco Comédia.

Os Mogwai tocam pós-rock dado à contemplação, e à partida a animação das atividades que pululam pelo festival não casariam bem com isso, mas hoje não há enchente de gente no terreiro principal e está uma noite amena e sem vento. Dá para sentar no chão à vontade (obrigado relva artificial e copos recicláveis) e pensar na vida enquanto os escoceses nos embalam.

Seguem-se os The Cure. Imitado por muitos no seu visual há várias décadas (basta olhar para a foto dos Gossip e comparar), Robert Smith não tem, nesta fase, que provar nada a ninguém. Quem não gosta vai continuar a irritar-se com os concertos de três horas e o som que não quer saber do que está a dar no momento. Quem adora vai continuar a contribuir para a legião de t-shirts pretas e a passar esse amor à descendência.

E, na verdade, fazem-no melhor que nunca, com mais uma vez a noite a ajudar e o som a propagar-se muito bem, melhor do que a memória de 2012, sem dúvida. Como sempre, há um baralhar e voltar a dar das várias cartas de trunfo dos The Cure.

Destaques há muitos, mas “Pictures of You” continua a soar única e emocionante, com “Lovesong” ou “Lullaby” , no início do encore, a fazer grande guarda de honra. Talvez Kyle Broflovski (personagem de South Park) tenha mesmo razão e o Disintegration seja o melhor álbum de sempre. E ninguém faz tão bem de Robert Smith como Robert Smith. Até daqui a sete anos.

Fotos: Carlos Mendes

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