Kraftwerk – A consistência feita arte

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Rapazes que andam nisto há muitos anos, os Kraftwerk têm andado em tournée regular, baseada num formato 3D, nos últimos anos.

Desta forma, o concerto de dia 31 de julho no Hipódromo Manuel Possolo, em Cascais, a encerrar mais uma edição do EDPCOOLJAZZ, partilha muitos traços com as últimas visitas a Portugal, em abril de 2015 aos Coliseus de Lisboa e Porto, e em agosto de 2017 ao festival Neopop, em Viana do Castelo.

E o alinhamento, com um início com “Numbers” e “Computer World”, demonstra essa coerência que os homens de Dusseldorf andam a demonstrar ao mundo que os escolhe ver ao vivo. Com um ecrã por detrás do palco que passa os efeitos 3D, mas com os dois laterais que têm servido de apoio ao EDPCOOLJAZZ sem capacidade, o efeito torna-se algo perdido para quem não se focar rigorosamente ao centro.

Dito isto, a força da música destes pioneiros da música com sintetizadores continua lá, com a sinergia entre áudio e vídeo em temas como “Computer Love” ou “Neon Lights”, com a sua aventura espacial retro-futurista a funcionarem bem ao vivo.

“The Model” é outro ponto alto, embora, se quisermos ser snobes, a versão original em alemão tem mais garra do que a internacional em língua inglesa.

Com as projeções de modelos dos anos 50 e 60, e um dos inícios mais célebres dos Kraftwerk, foi um dos momentos marcantes da atuação dos quatros elementos que tranquilamente mantêm a sua posição em cima dos respectivos palanques. Com interação entre o inexistente e o mínimo com os espetadores, e os já bem conhecidos fatos negros com barras refletoras, são uma presença que impõe respeito e mistério.

Mais um tema imorredoiro é “Autobahn”, claro, com a sua iconografia que marca presença por tantas t-shirts (e nesta noite não falharam na barraquinha do merchandising). Acompanhada por um clipe que mostra um carro a passear por uma auto-estrada numa animação vídeo com estilo comparado ao do celebrado clipe de “Money for Nothing”, dos Dire Straits, a lenta viagem é outro momento marcante.

Numa noite fresquinha, mas com pouco vento, a audição fez-se sem problemas em todo o espaço do hipódromo, à semelhança do que aconteceu em Tom Jones.

A sequência de “Tour de France, esse fruto da obsessão de Ralf Hutter e amigos pelo mundo do ciclismo – o primeiro viria a envolver-se num acidente grave enquanto andava de bicicleta durante as sessões de gravação do álbum – com “Prologue”, “Étape 1, “Chrono” e “Étape 2” é mais uma ligação feliz com o aspeto visual do espetáculo.

Mais uma vez, o uso de imagens de arquivo, desta vez dos tempos mais heróicos da Grande Boucle, ressoa com o público presente, mais ainda com a coincidência de terem passado poucos dias de mais uma chegada aos Campos Elísios.

“Trans-Europe Express” lidera mais uma sequência de cartas de trunfo, com “The Robots” e “Aéro Dynamik” a chegarem de seguida, e as duas horas que passaram a bom ritmo encerram com “Boing Boom Tschak” (dos títulos mais literais da história da música), “Techno Pop” e “Musique Non Stop”.

Quem conhece os concertos dos Kraftwerk sabe bem o que tem aqui e, nesta fase, não espera grandes novidades ou uma ligação entusiasta com o público. No entanto, o que fazem, fazem bem, com rigor e competência, o que não deixa de ser notável para quem iniciou a carreira em 1970, não obstante as várias mudanças de formação que foram ocorrendo ao longo das décadas.

Quem não conhece, tem aqui daquelas experiências que valem a pena fazer antes de morrer, um tipo de concerto diferente do habitual e a entrada num mundo de uns dos gigantes da eletrónica, tantas vezes inspiradores e, por vezes, até copiados.

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