Análise – Kingdom Hearts 3

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Foi em janeiro deste ano que Kingdom Hearts 3 chegou aos fãs sedentos deste terceiro e último capítulo da saga. Porquê sedentos? Muito fácil de explicar. Estamos a falar de um jogo que teve o seu primeiro título há 17 anos (2002), em que sua sequela direta demorou apenas três anos a chegar ao mercado. Por isso, não era de estranhar que 13 longos anos de espera pelo final da serie deixassem os seus fãs, agora um pouco mais velhos, “em pulgas” para poder agarrar este último jogo.

Até podemos argumentar que todos os outros spinoffs da série podem, de alguma forma, ter ajudado a aliviar a longa espera, mas já lá vamos. Para quem não conhece, Kingdom Hearts é, principalmente, um RPG que faz um crossover de personagens da Disney, Pixar e da Square Enix, levando-nos, depois, numa viagem épica por todos esses mundos, ao mesmo tempo que nos dá lições sobre o poder dos corações de todos. Foi, portanto, com este regresso à nossa infância, e uma jogabilidade única e cheia de ação, que recebemos Kingdom Hearts 3 e todos os seus mundos e personagens que nos são familiares.

Não se deixem enganar por andarmos a viajar entre o mundo de Hércules ou de Frozen. Este não é um jogo básico, infantil ou vazio. Aliás, atrevo-me a dizer que Kingdom Hearts é, talvez, dos jogos com a narrativa mais complexa e profunda que me passou pelas mãos, com viagens mágicas e emocionantes que se cruzam organicamente com os vários mundos da Disney ao longo da história. E talvez seja esta mistura que torna este jogo em algo tão único e apetecível.

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13 anos depois, encontramos um Kingdom Hearts com gráficos que, para alguns, serão fantásticos, mas que para outros podem ser apenas medianos, tendo em conta o catálogo de títulos da Playstation 4. Na verdade, estão bastantes melhores do que estávamos habituados a ver na Playstation 2, o que é normal. E sim, o tempo de espera foi tanto que saltaram uma geração da consola da Sony.

Ainda na parte dos gráficos, podem até ser propositadamente “suavizados”, uma vez que, ao contrário dos jogos anteriores, em que víamos personagens que conhecíamos de filmes 2D convertidas em 3D, o que é sempre um pouco estranho de se ver, consegue-se um blend perfeito com as personagens da Disney/Pixar, que não diferem assim tanto do que estamos habituados a ver no grande ecrã do cinema.

A jogabilidade continua fiel aos outros dois títulos principais anteriores, mas aqui com o extra de, finalmente, diferentes keyblades poderem ter tipos de combate e ataques especiais únicos. Com este upgrade, veio também a possibilidade de podermos trocar em tempo real entre três das armas à escolha do jogador, podendo-se, dessa forma, adaptar a arma aos inimigos que nos vão aparecendo.

Existe também um upgrade a nível de ataques de equipa com o trio base de Sora, Donald e Pateta. Este update pode, por vezes, parecer exagerado na sua recorrência de uso, mas não se estranha o tipo de ataques que só este jogo poderia oferecer.

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Um ponto peculiar deste título que merece a nossa atenção será o facto do modo de dificuldade Normal ser demasiado fácil para quem está habituado a jogar Kingdom Hearts, não oferecendo o devido sentimento de desafio nos principais obstáculos e confrontos do jogo.

Para quem já tem algumas horas de jogo feitas e não as quer repetir, pode sempre ativar a habilidade de não se ganhar XP (pontos de experiência) durante o tempo desejado. Ativámos a função em cerca de 60% do jogo e não fizemos upgrades que não tivessem influência direta na jogabilidade, isto para se tornar mais desafiante.

Os Mundos

É claro que um dos pontos que alavancou este jogo para o seu grande sucesso foi o uso dos mundos da Disney/Pixar que nos faziam viver quase que uma sequela ou spinoff das histórias que nos agarraram ao longo da vida. Este terceiro capítulo não podia falhar neste ingrediente essencial da receita e joga pelo seguro, incluindo não só mundos que podemos revisitar de edições anteriores, mas também vários novos.

Temos, então, a oportunidade de revisitar o mundo de Hércules, que nos pareceu muito curto e sem muito para contar. Sora visita este mundo logo de início para pedir conselhos ao semi-Deus sobre como conseguir o “poder do despertar” que precisa para se tornar um mestre da Keyblade, ajudar Mickey e Riku no reino da escuridão e salvar os membros que faltam para fazer a equipa que irá confrontar os 13 elementos da organização, liderados por Xehanort na batalha final.

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Depois de Olympus, Sora começa a viajar de mundo para mundo, mas nem sempre percebemos bem o porquê da escolha de visitar cada um dos mundos. A nossa sorte é que nos esquecemos desse pequeno pormenor quando imergimos nas personagens e ação que cada um nos oferece.

Ao contrário dos títulos anteriores, o jogo esquece os inícios um pouco enfadonhos de tutoriais básicos e demorados, partindo logo para a ação numa luta carregada de inimigos e ataques especiais contra titans gigantes.

Por exemplo, temos o prazer de visitar blockbusters como Tangled, que nos permite seguir, como numa espécie de versão alternativa e resumida, a história que conhecemos, mas com Sora e os seus dois fiéis companheiros a ajudar Rapunzel a fugir da sua famosa torre até chegar à civilização para poder assistir ao festival das luzes.

Mais uma vez, não deixamos de referir que, com personagens de filmes em 3D, a mistura dos universos é muito bem conseguida com as personagens do jogo. Todos os elementos de comédia e drama estão presentes no storytelling, fazendo-nos sentir que estamos a rever um filme, mas sem grande acrescento por parte da magia acrescentada que seria de esperar por parte das personagens do jogo.

Nesta galáxia, somos também presenteados com o regresso de Toy Story antes da estreia do seu quarto filme nas salas de cinema. Aqui partimos para uma história feita apenas para os jogos, apresentando-nos as nossas personagens transformadas em versão brinquedo dentro do quarto do mítico Andy, o que não nos impede, claro, de ter batalhas carregadas de inimigos no telhado ou na rua da casa.

O palco principal desta aventura é dentro uma loja de brinquedos de três andares, o que nos permite ter batalhas frenéticas com outros brinquedos possuídos por Heartless. É também possível entrar dentro de carcaças de robôs para derrotar todos os inimigos.

Ultrapassando estes mundos, conseguimos, como nas edições anteriores, desbloquear mais histórias, como a de Monstros e Companhia. Aqui contam-nos a história com acontecimentos depois do primeiro filme, mostrando a fábrica com nova gestão e o foco em captar risos, em vez de gritos, e as nossas personagens, como seria de esperar, apresentadas em formato de monstros.

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Também aqui conseguimos lutar contra os Heartless enquanto deslizamos nos slides que transportam as portas do mundo real, além de se passar por áreas quase que num feeling de Missão Impossível a fugir de lasers para atingirmos os nossos objetivos.

Mais à frente encontramos um planeta não tão badalado como os anteriores, o de Big Hero 6. Este é, possivelmente, o mundo com o sentido mais “open world” que podemos encontrar no jogo. Aliás, o facto de podermos subir a prédios e andar por largas ruas batalha após batalha dá uma certa sensação de liberdade que nunca tínhamos sentido em jogos anteriores.

Isto leva-nos a questionar o porquê de um jogo que demorou tanto tempo a ser desenvolvido não ter mais este tipo de dimensão de mapa, além de nos fazer passar por loadings enfadonhos cada vez que mudamos de cenário.

Já em relação a Frozen, era mais que esperada a sua adaptação para este jogo. Neste mundo jogamos e seguimos a história original com todas as personagens e, claro, temos direito a ouvir o grande sucesso de “Let It Go”na sua íntegra.

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O último grande mundo Disney vai para o de Piratas das Caraíbas, que nos capta logo à atenção com uma visão mais real dos nossos heróis (Donald com penas?!). Aqui, como em Tangled, acompanhamos a história do filme Nos Confins do Mundo, bem acompanhados por Jack Sparrow e os seus tiques inconfundíveis replicados no jogo.

Neste planeta, à semelhança do que acontece com o de Big Hero 6, voltamos a ter uma experiência mais livre que nos permite saltar de ilha para ilha e ter batalhas épicas entre navios que nos levam ao vício de subir o nível do nosso navio para estarmos preparados para os desafios que cada ilha nos oferece.

Claro, o clássico mundo de Winnie the Pooh não podia ficar de fora, oferecendo uns momentos de descanso do que se passa fora do livro do seu mundo, além de desafios muito semelhantes ao Candy Crush, onde ajudamos Pooh e amigos na colheita das suas plantações de vegetais.

Chegamos ao fim da visita de todos estes universos com a sensação que faltava acrescentar mais um ou outro mundo, como os de Aladino ou do Rei Leão (que tem cameo nos ataques especiais). O que não falha mesmo é a épica banda sonora do jogo que acompanha fielmente cada um dos mundos e que vos vai deixar com uma tremenda vontade de fazer uma maratona de Disney/Pixar.

O culminar de 17 anos

Sem querer desvendar muito, nas visitas de Sora a cada um dos planetas somos sempre confrontados por algum membro da organização XIII a fazer provocações sobre os objetivos de Xehanort para conseguir replicar uma guerra de Keyblades. Será então, neste título, que todos os treze jogos lançados pela Square Enix vão culminar e fechar a história. Depois de anos e anos de menções da Guerra da Keyblade, da criação da X blade e de Kingdom Hearts, conseguimos finalmente visitar o cemitério de Keyblades, criado durante a grande guerra, que deixou um mundo cheio de Keyblades de antigos mestres.

Aqui, ligam-se todas as histórias contadas (que não são poucas) nos últimos 17 anos e que nos levam ao final épico que todos os fãs esperavam ansiosamente. Como falamos de um jogo que já deu tanto para a história, é fácil prever o seu final, em que é demonstrado a importância da amizade e das ligações que criamos com as outras pessoas. Mas não se preocupem. Apesar de ser previsível, o final irá deixar-vos com um sorriso nos lábios e sentimento de que fecharam bem uma história épica da qual irão ter saudades.

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Veredicto

Apesar de não termos mundos mais abertos, além de alguns não terem um propósito claramente definido, isto sem esquecer os muitos “loadings” quando andamos de um lado para o outro, conseguimos ter um regresso dinâmico, refrescante e ultradivertido em Kingdom Hearts 3. O jogo mantém o seu espírito e mostra ser um título que ficará para sempre para a história ao transportar-nos para um universo que não parece ter limites na criatividade, no que toca a jogos de consolas.

Foi bom revisitar mundos das outras edições para relembrar e criar novos laços com os projetos mais recentes dos estúdios Disney/Pixar. Acabámos um jogo com cerca de 27h de história principal e com vontade de voltar ao ataque e completar tudo o que ainda se pode fazer para não largarmos abruptamente esta história que nos maravilhou durante quase duas décadas.

Nota: Deixamos o conselho, para os maiores fãs da série, que devem jogar Birth By Sleep, Kingdom Hearts 0.2: Birth by Sleep e Dream Drop Distance para terem uma maior envolvência de toda a história passada, que, como seria de esperar, tem uma forte influência nos eventos deste último título.

Kingdom Hearts III está disponivel para PlayStation 4 e Xbox One

Texto de: Bernardo Bismarck

Kingdom Hearts III
Nota: 9/10

Este jogo foi cedido para análise pela Ecoplay.

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