James Holden & The Animal Spirits na Culturgest

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Tapetes e atmosferas orientais, um visual psicadélico e hipnótico, onde um homem sentado no centro do palco, acompanhado por outros “espíritos” como ele, à maneira de um yogi ou de um xamã indiano, dita os ritmos de uma experiência espiritual coletiva. Este simpósio mágico é apenas o concerto dos James Holden & The Animal Spirits no Grande Auditório da Culturgest. Um espetáculo evocativo como um ritual ancestral, nos ecos sonoros magnéticos do produtor inglês James Holden que, como se sabe, no papel clássico de Dj nunca soube estar.

Apesar de a sua música passar para uma techno crepuscular, desde sempre Holden foi capaz de recolher as instâncias musicais mais diversificadas, do folk ao kraut-rock, da música africana (a viagem a Marrocos junto com o Floating Points e a seguida colaboração com Maalem Mahmoud Guinia) até aos raga indianos e ao jazz. Começa tudo em 99 com o single “Horizons” e a miríade de remixes, a criação da etiqueta Border Community de apoio aos produtores de música electrónica (entre os quais Nathan Fake, Avus e Dextro), até chegar à publicação dos dois álbuns The Idiots Are Winning (2006) e The Inheritors (2013) produzidos, obviamente, pela mesma marca.

Em 2017, o álbum The Animal Spirits representa uma passagem à miscigenação de géneros e a uma dimensão coletiva, da mesa de mistura até ao palco. A direção fica sempre nas mãos do inglês, com os loop e as sonoridades hipnóticas dos sintetizadores modulares (controller e sequencer construídos pelo próprio), mas com uma sessão rítmica alargada pelo baterista Tom Page e pelo percussionista Camilo Tirado e com aquela harmónica pelo saxofonista Étienne Jaumet e pelos sopros de Liza Bec. O concerto da Culturgest devolve a experiência deste álbum “folk trance”, termo já usado pelo próprio Holden.

Na verdade, o formato sonoro caracteriza-se por uma colorida mistura musical baseada em padrões que se repetem onde são introduzidas “improvisações” libertinas de sabor jazz (o mesmo álbum foi gravado num take único, sem overdubs) onde foi revisitada a trance minimalista do primeiro Holden, recheada por elementos e dinâmicas do rock psicadélico (com as harmonias da flauta mágica que faz reviver os Jethro Tull), interlúdios ancestrais, sonoridades opióides ligadas ao mundo indiano e ao espetro musical da World music. Um encontro universal entre o mundo músical ocidental e oriental.

Como uma meditação que arrasta até outros níveis de consciência, James Holden afigura-se na forma de um xamã (os cabelos compridos apanhados em parte e as pernas cruzadas evocam curiosamente o estilo). O artista inglês conduz os “espíritos animais” como um encantador de serpentes, com um clímax ascendente de digressões acompanhadas para um visual de nuvens e lascas coloridas, onde as formas geométricas, desenhadas para as luzes, focam a sua silhueta na sombra. Holden parece o guru deste simpósio quase espiritual que, através da mistura de sons e das sua repetições, conduz até um estado de transe.

Música xamã, onde os ritmos dançantes não são os tradicionais do EDM, estão mais perto das sonoridades étnicas e tribais da World music (também esta categorização parece redutora), dentro de uma dimensão intimista. A passagem ao palco, onde o cenário é aquele teatral, não é casual, mas corresponde a uma escolha performática agora coral, onde as improvisações dos (excelentes) músicos e a imprevisibilidade das repetições, para usar um oxímoro, tornam-se os nós centrais do concerto.

James Holden confirmou ser um artista multifacetado, capaz de ir além da própria zona de conforto, sujeitando-se sempre a projetos experimentais, o que hoje em dia não é, de todo, óbvio.

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