IDLES no Lisboa ao Vivo – Duas horas de punk suado de Bristol

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Ainda bem que os Idles existem.

Idles

A noite começou em ponto. Às 21h subiram a palco os JOHN, dupla energética constituídas por dois Johns, baterista e guitarrista. Tocaram cerca de 30 minutos, elogiaram Lisboa, a “cidade luminosa”, agradeceram aos presentes e claro, aos IDLES, os anfitriões da festa. E tão depressa entraram como saíram.

O intervalo de cerca de 30 minutos trouxe cada vez mais público e a sala ficou mesmo cheia. Afinal, este era um concerto esgotado há algum tempo.

Para espicaçar todos os que ali estavam, alguns elementos da banda surgiram a acenar na janela do camarim. De repente, as luzes escureceram e a palavra IDLES ficou iluminada no padrão florido kitsch da tela. Entraram em palco Jon Beavis, o baterista, e Adam Devonshire, o baixista que fundou a banda em 2011 com Joe Talbot (vocalista).

Jon atacou a sua bateria, com a plateia a assumir reconhecer a sequência das batidas, com Adam a suceder-lhe com as primeiras notas de “Colossus”, tema que abre o excelente álbum lançado este ano, Joy as an Act of Resistance. Nota desta vossa escriba: espreitem vocês próprios o início desta malha que, ao vivo, resultou como um chamamento. E se foi um chamamento, parecia que seguíamos a bordo de um barco, talvez viking, alinhados e prontos para dar algo de nós.

Já com os restantes elementos da banda em palco, a letra da canção começou a fluir com a sala inteira a cantar os versos iniciais ao lado de Joe. As vozes grossas de toda a plateia, ou tripulação, vá, marcharam sincronizadas enquanto gritavam “Goes and it goes and it goes”. E isto não é uma descrição floreada, foi mesmo assim.

Sem pausas, seguia-se “Never Fight a Man With a Perm”, “Mother”, do álbum anterior Brutalism, e Faith in the City, também recuperado a esse primeiro trabalho.

Os IDLES são uma banda que comunica muito com o público. Quase sempre introduziram as músicas com explicações simples e dedicaram algumas delas a pessoas do público, grandes fãs neste caso.

Assim, atravessámos as músicas “I’m Scum”, “Danny Nedelko”, “Divide & Conquer”, “1049 Gotho” e “Samaritans” e, à medida que o concerto ia decorrendo,  a plateia ia carregando várias vezes os guitarristas Mark Bowen, um dos mais carismáticos da banda com o seu bigode farfalhudo, e Lee Kiernan.

A atuação dos nossos comandantes tinha alguma sujidade, típica do punk de Bristol, mas era contraposta com a simpatia e educação com que tratavam os seus seguidores. Uma tremenda classe, diga-se, mais parecendo que o fim de cada música era uma chegada a terra firme. E eles estavam felizes por nos fazerem felizes, provando isso mesmo com a forma extasiante como tocaram “Television”, “Great” e “Love Song”.

Entre punhos cerrados, Joe marcava o ritmo das músicas com murros no peito ou na própria cara. Atirava, também, várias cuspidelas e fazia uns quantos sinais obscenos. Atenção, nada está errado nesta descrição de mau comportamento, sendo desta forma que conseguimos sentir a verdade que os IDLES carregam num verdadeiro espetáculo de autenticidade e grosseirismo.

A maré continuava muito alta com músicas como “White Privilege”, “Gram Rock” ou “Benzocaine”. O suor aumentava a cada música e os membros da banda iam tirando alguma roupa à medida que os cabelos pingavam gotas em cima das tatuagens.

Em “Exeter”, os IDLES encheram o palco de miúdas felizes a quem entregaram alguns instrumentos para que eles pudessem dançar livremente. Uma delas, de guitarra ao colo, segurou a música acompanhando a restante banda.

Perto do final, ainda ouvimos “Cry to Me”, “Well Done” e “Rottweiler”. Pouco depois, o capitão Joe mostrou o dedo do meio a Mark, despediu-se de todos e saiu do palco com a sua t-shirt colada ao corpo, mas depressa regressou para “fazer as pazes” com o guitarrista, dando-lhe um divertido beijo na boca.

No fim, e já depois de um feedback ensurdecedor, veio o silêncio, e foi quando começámos a sair que sentimos o cheiro intenso a cabelos molhados e roupas suadas. Era hora de vestir o casaco, chegar a casa tomar um banho.

Foram duas horas de verdadeira libertação, com o público a embarcar no que seria uma viagem louca com estes homens de Bristol. Agora só esperemos que regressem bem rápido, de preferência já num festival de verão.

Texto por: Joana Domingues

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