Echo & The Bunnymen em Lisboa – O pós-punk ainda ecoa nas nossas cabeças

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Os britânicos Echo & The Bunnymen atuaram perante uma multidão de indefetíveis que encheu o recinto do Lisboa ao Vivo. Foi um concerto curto (75 minutos), quase exclusivamente centrado nos seus hinos da década de 80. Mas a banda que Ian McCulloch e Will Sergeant insistem em manter de pé também invocou o espírito de Lou Reed, Jim Morrison, James Brown e Nat King Cole.

A lendária banda de Liverpool tem tido uma presença assídua em solo luso, mas os concertos na capital têm sido menos habituais: tocaram no Pavilhão do Belenenses em 1984 e no festival Super Bock Super Rock em 1997; o vocalista Ian McCulloch passou pelo Centro Cultural de Belém em 2013, num concerto integrado no Misty Fest.

O regresso teve como pretexto The Stars, The Oceans & The Moon, disco lançado no ano passado em jeito de celebração de 40 anos de carreira, com regravações de 13 clássicos e dois temas inéditos. Embora uma dessas novas canções (“The Somnambulist”) tenha feito parte do alinhamento, este seguiu um registo de best of, muito do agrado de um público da “velha guarda” alternativa que esgotou a lotação da sala lisboeta.

Os Echo & The Bunnymen estão atualmente reduzidos a metade da formação original, subsistindo Ian McCulloch e o guitarrista Will Sergeant. Aos dois resistentes juntaram-se os elementos que têm tocado nos concertos mais recentes (Stephen Brannan no baixo, Jez Wing nas teclas e Nick Kilroe na bateria), com exceção de Gordy Goudie, que foi substituído por outro guitarrista.

À passagem das 22h, a banda subiu ao palco enquanto na aparelhagem sonora passava a pré-gravação de um canto gregoriano mais consentâneo com um concerto dos Enigma. “Going Up”, a primeira faixa do álbum de estreia Crocodiles (1980), voltou a ser aposta forte para a abertura das hostilidades, à semelhança do que tinha sucedido na última passagem deles por Portugal, no festival Vilar de Mouros de 2016.

Embora já tenha lançado sete álbuns de estúdio entre 1990 e 2014, a banda praticamente ignorou este período menos fulgurante da sua história. As exceções foram “Nothing Lasts Forever” e “Rust” – baladas resgatadas dos discos Evergreen (1997) e What Are You Going To Do With Your Life? (1999).

Ninguém terá levado a mal que os Echo tenham apostado todas as fichas nos seus primeiros cinco álbuns. O público estava ali para viver uma noite de nostalgia (descortinámos t-shirts dos Joy Division, The Cure, The Young Gods e dos próprios Echo, tendo-se também notado a presença dos amantes das gabardinas usuais nas bandas do pós-punk) e a chegada do clássico “Seven Seas” demonstrou isso mesmo, com toda a plateia a ensaiar o primeiro de muitos sing-alongs que se seguiriam.

Prestes a completar 60 anos, Ian McCulloch pode já não ter a mesma voz, mas mantém o carisma. De óculos escuros, com uma pose impenetrável e um sotaque cerrado que tornou impercetíveis algumas das palavras que dirigiu à plateia, o líder dos Bunnymen confirmou a sua predileção pelos medleys. “Do It Do Clean” foi misturada com “When I Fall in Love” (Nat King Cole) e com “Get Up” (James Brown); “Nothing Lasts Forever” entrelaçou-se com “Walk On The Wild Side” (Lou Reed) e “Villiers Terrace” fundiu-se com “Roadhouse Blues” dos The Doors.

Os ecos da banda de Jim Morrison também se fizeram ouvir através da linha de sintetizadores de “Bedbugs and Ballyhoo” (tema originalmente gravado com a participação de Ray Manzarek, teclista do lendário conjunto americano) e através de “All My Colours”, música também conhecida como “Zimbo”, naquilo que poderá ser uma referência a Jimbo, o alter-ego de Jim Morrison.

Embora discretamente mais afastado do resto da banda, Will Sergeant – único membro que nunca abandonou a banda – continua a revelar-se como imprescindível para nos transportar para o imaginário misterioso e sombrio dos Echo & The Bunnymen, sob um denso e etéreo jogo de luzes.

Os riffs hipnóticos da sua guitarra brilharam com distinção na portentosa “Over the Wall” (exemplo maior do pós-punk psicadélico patente no álbum Heaven Up Here, de 1981), em “Never Stop” (single de 1983 que, mais tarde, foi incluído na compilação Songs to Learn and Sing) e em “The Cutter” (a espinhosa faixa de abertura de Porcupine, disco que há poucos dias celebrou 36 anos de existência). O jogo de guitarras de Sergeant com o outro guitarrista foi perfeito, criando texturas sobrepostas que lembram os nova-iorquinos Television.

Para a reta final do concerto ficaram guardadas as relíquias mais preciosas. “Bring on the Dancing Horses” e “The Killing Moon” foram hinos pop que levaram McCulloch a pedir que, por instantes, a banda tocasse mais baixo, de maneira a que pudessem ser entoados apenas por si e pela plateia, em plena comunhão.

E, já num encore efusivamente pedido pela assistência, surgiria o açucarado “Lips Like Sugar” – êxito intemporal extraído do álbum Echo & The Bunnymen (1987), que foi tocado em versão prolongada, com direito a mais improvisos de McCulloch. Voltariam de novo ao palco para tocar “Do It Clean”, tema com uma sonoridade de “garagem” que acabou por ficar de fora da edição britânica do álbum de estreia, mas que, depois, ganhou popularidade, porventura devido à referência ao consumo de cocaína que, conjuntamente com o excesso de álcool, era um dos conhecidos vícios de Mac the Mouth (nome pelo qual o líder dos Echo também é conhecido).

Não foi um concerto perfeito (até porque o som da guitarra de Sergeant esteve por vezes abafado) mas serviu para muitos agitarem sentimentos antigos, e, para outros, entre os quais este escriba, riscarem da lista de concertos de bandas míticas que ainda não tinham assistido ao vivo. Se ao menos todos os domingos terminassem assim…

Fotos de: Carlos Mendes

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