Crítica – Ted Lasso (2ª Temporada)

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Uma das séries mais acarinhadas de 2020 está de regresso um ano depois para a nova temporada do AFC Richmond, que agora milita na 2ª divisão Inglesa (EFL). Novos desafios avizinham-se, sobretudo a nível mental, mas nada que não se resolva. Só é preciso “acreditar”.

Ted Lasso já deixava saudades. Após uma primeira temporada que acertou em tudo o que precisava com sucesso, tornou-se numa série inesperadamente cativante. Digo isto até mesmo para quem não aprecia futebol, visto que, mais do que futebol, é uma série sobre a vida, nos bons momentos e nas adversidades.

No arranque da segunda temporada, esta produção da Apple mergulha ainda mais no psicológico das personagens chave, num exercício penetrante com a capacidade de furar camadas que, por vezes, uma pessoa nem sabe que tem. No fim do dia, o que realmente importa são as lições que se podem tirar deste exercício, e em Ted Lasso são inúmeras – relacionadas com o desporto propriamente dito e com um panorama mais geral.

Mais uma vez, a personagem pivot continua a ser Ted Lasso. Contudo, e como qualquer ser humano, por muito bom Life Coach que seja na hora de gerir pessoas e emoções, há situações que são difíceis de controlar, até porque o psicológico é complexo e chega a um ponto que é precisa ajuda especializada. Claro que para Lasso, que sempre conseguiu resolver praticamente tudo graças ao seu engenho e toque humano, é complicado aceitar que determinadas situações saem do seu alcance e mais complicado se torna evitar um sentimento de impotência.

Esta temporada reservou-nos algo bastante interessante, que foi assistir ao desenvolvimento de Lasso, visto que, na temporada anterior, já tinha sido revelado que este tem a sua quota parte de bagagem e as recaídas tornam-se difíceis de controlar. Mais interessante fica por ser o ilustre Jason Sudeikis no papel de Ted Lasso. Como já havia dito com o lançamento da 1ª temporada, Sudeikis é o Ted Lasso perfeito, de uma naturalidade que faz parecer que nasceu para este papel em específico. Se dúvidas houvessem, dissiparam-se com os prémios de melhor ator (Screen Actors Guild Award, Broadcast Film Critics Association Awards e Golden Globe) – Num ano, só com a série Ted Lasso, Sudeikis conseguiu mais prémios do que nos restantes 23 anos de carreira.

Este ano, a esses prémios juntam-se sete Emmys. Jason Sudeikis ganhou o de melhor ator principal numa série de comédia, Hannah Wadington levou o de melhor atriz secundária, Brett Goldstein o de melhor ator secundário e a série Ted Lasso conquistou mais quatro Emmys, nos quais se inclui o de melhor série de comédia. Portanto, uns humildes sete troféus em 20 nomeações (algumas delas duplas por categoria).

Ted Lasso (2ª Temporada)

Num panorama mais geral, Ted Lasso consegue tocar num pandemónio de temáticas importantes, que acabam também por ser importantes lições que se aplicam à vida real. Com o desenvolvimento de personagem de Jamie Tartt, percebemos o impacto que os problemas familiares têm na forma de ser de um indivíduo. Ainda que muitos o neguem, a verdade é que os problemas em casa durante a fase de crescimento e formação de uma criança/jovem trazem determinadas inseguranças que a moldam. Isto cria uma persona alternativa que nada tem a ver com o indivíduo em si, quando confrontado com situações delicadas. É muito comum ignorar esta problemática, assumir que o indivíduo é assim por natureza e desistir dele, em vez de tentar perceber o “porquê” deste ser assim. O facto de tocarem neste ponto nesta temporada vem consciencializar os demais da importância que as segundas oportunidades (e por vezes terceiras) têm na vida destes indivíduos.

Outra dessas temáticas também surge com o objetivo de consciencialização relativamente ao equilíbrio entre oferecer e procurar ajuda, que se aplica muito a Ted Lasso. Apesar da imagem sóbria e forte que queremos passar enquanto tentamos mudar e corrigir as nossas falhas, continuamos a ser vulneráveis e a repetir os nossos erros. O pior é quando nos convencemos que está sempre tudo bem em vez de procurar ou aceitar ajuda com leviandade. Desta forma nem mudamos, nem nos adaptamos ao que realmente somos, em busca da felicidade e bem estar pessoal.

Estes duas problemáticas em concreto foram as que mais me saltaram à vista, sendo alheias ao futebol a 100%. No que toca ao futebol propriamente dito, há também duas em que quero tocar, que se prendem com a “máquina de dinheiro” em que este desporto se tornou. Enquanto que, até há duas décadas, o futebol se jogava pela glória (e, por consequente, gerava receita), agora o foco é ver quanto dinheiro dá para se jogar o futebol de determinada forma, chutando a glória para pano de fundo – a tentativa de criação da Super Liga Europeia veio provar que, aos olhos dos magnatas, a glória já pouco ou nada vale.

A primeira problemática prende-se com o impacto dos patrocinadores, cujo dinheiro é feito de forma controversa, sem olhar a possíveis conflitos sociais e ambientais. A que custo para o planeta e para a sociedade é saudável manter este futebol de milhões? Parece que o importante é passar a mensagem do que é melhor para o indivíduo (a título do consumismo desenfreado), enquanto a mensagem do que é melhor para a humanidade cai no esquecimento. No Euro 2020 ficou ainda mais provado que isto é uma triste realidade cada vez mais recorrente, quando a UEFA pediu para as marcas não usarem as cores em arco-íris (que representam a comunidade LGBT+) nos seus spots publicitários, durante os jogos em Baku e São Petersburgo.

Ted Lasso (2ª Temporada)

A segunda problemática está relacionada com a saúde física, mas sobretudo mental dos futebolistas. De ano para ano inventam-se competições atrás de competições e alteram-se as que já existem com o objetivo de se jogarem mais jogos. Chega a um ponto que é exigido aos jogadores que dêem o litro em campo de dois em dois dias, caindo no esquecimento o que essa quantidade toda de “futebol” exige. Deixa de haver tempo para os jogadores descansarem o corpo e a mente.

Inevitavelmente, o brilho do futebol vai desaparecer em proporcionalidade inversa com a pobre saúde mental, isolamento familiar, a fadiga e propensão a lesões. O futebol não deve, nem pode ser, uma empresa, e os jogadores não podem ser o meio para um fim. Quanto muito, o futebol pode ser considerado uma instituição, que se rege pela alegria e paixão. É um desporto que nos vê crescer e sorri de volta para nós sempre que “pegamos” numa bola.

Quem achava que Ted Lasso era apenas sobre o espírito de partilha, resoluções pessoais e companheirismo, pode preparar-se para uma surpresa positiva na segunda temporada. Para todos os que viram a primeira temporada, tenho de vos perguntar: É tal e qual o futebol, não é? Um amor à primeira vista! Para os que não viram e, sobretudo, para os que adoram futebol, está na hora de deixarem de negar a vossa natureza. Porque “Football is life!”

A nível técnico há pouco ou nada a apontar. Recebendo os screeners antes do lançamento oficial dos episódios, por vezes tenho acesso a material inacabado. Após ver o episódio lançado oficialmente e comparando, não tenho por onde pegar. Há um perfecionismo notável no que toca ao trabalho de som e imagem. Se a primeira temporada já limpou tanto prémio, não tenho dúvidas que a segunda se vai tornar numa referência. Querem mais boas notícias? Para a terceira temporada, Ted Lasso já tem licenças para tudo o que engloba o futebol inglês, das equipas às competições!

A segunda temporada de Ted Lasso estreou a 23 de julho e está disponível na Apple TV+.

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