Análise – The Caligula Effect Overdose

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Depois de um lançamento pouco caloroso na PlayStation Vita, The Caligula Effect está de regresso com uma nova edição para o PC, PS4 e Nintendo Switch. Nesta versão definitiva, The Caligula Effect Overdose, a equipa tentou resolver alguns dos problemas apontados pelos fãs do jogo e melhorar a sua otimização visual, juntamente com novos menus e um visual mais cuidado e moderno. Mas se esta é a versão definitiva de Caligula Effect, então algo ficou perdido na sua produção.

É impossível não pensar em Persona quando olhamos para The Caligula Effect. Não só são duas séries RPG focadas em estudantes e num ambiente escolar, como partilham o mesmo guionista, Tadashi Satomi, responsável pelo guião de Revelations: Persona e de Persona 2: Innocent Sin e Eternal Punishment. É interessante ver como o ADN da série Shin Megami Tensei continua a estar presente neste novo jogo, mas é igualmente impossível não ver todos os seus problemas, ainda mais num lançamento pós-Persona 5. Em todos os aspetos, The Caligula Effect Overdose é uma desilusão e um desperdício de boas ideias.

O primeiro ponto negativo encontra-se na história. Apesar de se focar num ambiente escolar, onde a relação entre alunos e os seus problemas pessoais ganham um enorme destaque, The Caligula Effect transporta-nos para um mundo virtual, um simulacro, construído por uma estrela popular (pop idol) para que todos os seus habituantes a idolatrem infinitamente. Através do poder da música, esta figura misteriosa, numa tentativa de criar uma inteligência artificial assustadora, consegue moldar os pensamentos das suas vítimas e mantê-los presos ao seu mundo virtual, simulando uma realidade perfeita onde podem fugir aos seus problemas e à dor do quotidiano. O nosso protagonista é dos poucos a quebrar a ilusão, a ver o mundo tal como ele é, e, ao juntar-se a outros libertos do feitiço de “Mu”, tem como missão fugir da realidade virtual.

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A história é muito simples e é, a todos os níveis, um aborrecimento. Apesar de apresentar ideias como o controlo social através da Internet, os problemas da realidade virtual, o isolamento criado pela dependência pelas novas tecnologias e a importância de ídolos e de figuras populares na vida dos jovens, Caligula Effect nunca deixa de ser um simples RPG onde a missão se resume a “salvar o dia”.

As personagens, que teremos de conhecer a fundo, também não ajudam à caraterização do mundo, não sendo mais do que clichés do género sem grande personalidade ou peso na história. O jogo parece saber que as suas personagens são, individualmente, muito desinteressantes, e tenta forçá-las o mais que pode ao jogador para que possa criar algum tipo de empatia com o universo do jogo.

O foco nas relações e na criação de amizades é muito visível e há uma tentativa clara em criar um mundo mais vivo e, até, realista. Como se tratam de estudantes, a presença de um smartphone é constante, aqui denominado de WIRE, com as redes sociais a interligarem todas as personagens. O jogo permite-nos manter contato com todas as personagens do jogo, e com todos os NPC que encontramos, à exceção dos inimigos, e saber os seus gostos, medos e sonhos. Estas interações acontecem através de mensagens curtas e pré-definidas que nos dão total controlo sobre as conversas.

Apesar de ser uma ideia interessante, The Caligula Effect coloca-nos num loop infinito onde somos obrigados a utilizar as mesmas perguntas para todas as personagens, quebrando qualquer ilusão de realismo ou de profundidade mecânica.

Fora das redes sociais, é possível falar com todas as personagens individualmente e criar relações mais próximas através de diálogos curtos. Cada personagem tem um nível de afeto que teremos de aumentar à medida que as conhecemos melhor e criamos uma maior ligação de amizade e confiança. Como existem demasiados NPC, o jogo relega a organização e controlo desta mecânica ao Causality Link, um menu um pouco confuso onde temos acesso a todas as personagens, ao seu nível de afeto e confiança e às recompensas que ganharão se conseguirem construir uma relação de amizade. Isto significa que algumas habilidades estão escondidas por detrás deste sistema de interdependência, motivando-vos a concluir o maior número de tarefas para completarem todos os requisitos necessários.

The Caligula Effect tenta criar um ambiente escolar bastante mais realista, mas é, mais uma vez, vítima das suas mecânicas repetitivas e sem grande profundidade.

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O mesmo acontece com o sistema de combate, que é, por vezes, divertido, mas igualmente cansativo e confuso. Em combate, têm acesso a três personagens, todas elas com as suas próprias habilidades, e à possibilidade de manipular e utilizar o tempo a vosso favor. O sistema, em si, parece ser uma transformação e evolução dos combates por turnos, como Grandia, onde escolhemos cada ataque por ordem e antes de cada inimigo.

No entanto, The Caligula Effect revira a mecânica ao contrário e dá aos jogadores a possibilidade de verificarem, em tempo real, qual a efetividade de cada ataque e os movimentos dos próprios inimigos. Através da ligação de ataques, que estão condicionados pelo número de SP disponíveis, é possível ver o impacto de cada golpe e o seu nível de sucesso em combate, dando-nos uma maior estratégia e controlo sobre os confrontos.

Apesar de existir este controlo, The Caligula Effect não é um jogo propriamente fácil. Os combates necessitam que compreendam bem todas as suas mecânicas, especialmente os contra-ataques e golpes aéreos. Cada personagem tem um leque diferente de habilidades, todas elas com fraquezas e vantagens, e é necessário explorar todos os pontos fracos dos inimigos para vencerem. Estas habilidades podem ser desbloqueadas à medida que evoluem de nível ou que estabelecem uma nova relação de amizade com uma das personagens.

O jogo torna-se demasiado confuso pela ausência de um tutorial mais eficaz e presente na campanha, algo que se torna enfurecedor nas batalhas mais desafiantes. Se quiserem compreender todas as mecânicas do combate, não façam como nós, que dependemos do jogo em si. Procurem vídeos mais detalhados no YouTube. Isto irá ajudar-vos, ainda que não desculpe os picos de dificuldade e ritmo inconsistente dos combates.

No entanto, o sistema de combate é, na nossa perspetiva, o único destaque de The Caligula Effect. Mesmo com os seus problemas de ritmo e de repetição, é um sistema profundo que depende da ligação entre as várias habilidades e da própria engenhosidade dos jogadores. A ideia de manipularmos, por assim dizer, o tempo em prol de um ataque mais efetivo é muito interessante, ainda que sintamos que existem arestas por limar (como a sua fidelidade visual, que se torna demasiado confusa). A possibilidade de contra-atacar, alterar os golpes e explorar as fraquezas do inimigo são mecânicas interessantes e que se destacam no jogo.

Infelizmente, o mesmo não pode ser dito dos gráficos desta nova edição. Apesar das alterações a nível dos menus e do seu design, que agora se focam na simplicidade e um tom mais limpo, onde podemos ver um equilíbrio saudável entre fundos brancos e cores mais fortes, The Caligula Effect é um jogo visualmente desinteressante.

Na Nintendo Switch, as personagens parecem estar constantemente desfocadas, apesar da simplicidade dos cenários. Não sentimos nenhum trabalho a nível gráfico, algo que se sente através da diferença da qualidade visual dos cenários e dos modelos desenhados das personagens. Não há uma consistência e a repetição dos níveis acaba por condicionar a apreciação dos efeitos visuais e dos ataques mais exuberantes.

The Caligula Effect Overdose é um jogo que procura ser inovador e muito envolvente sem saber como equilibrar todas as suas mecânicas. É um jogo de promessas, cuja falta de qualidade é visível nesta suposta edição definitiva. No entanto, não é um mau jogo, apenas uma deceção, onde existem ainda virtudes por descobrir apesar dos seus pontos altos serem apenas momentâneos.

The Caligula Effect Overdose
Nota: 5/10

Este jogo (versão Nintendo Switch) foi cedido para análise pela NIS America.

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