Rolling Gunner + OverPower – Um inferno de balas

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Um excelente exemplo que comprova que a simplicidade e o design focado sobrepõem-se a qualquer outro elemento num género tão exigente como a ação espacial.

Três anos depois da sua estreia, Rolling Gunner está de regresso ao PC e consolas com uma edição que junta a campanha original com o DLC OverPower, que adiciona novos modos e mecânicas ao frenético jogo de ação espacial. O lançamento original escapou-me, talvez pela falta de publicidade pela Mebius, talvez pela sua aparente aura independente, cujo estilo visual simplista e demasiado plástico ajudou a esconder aquele que é um dos jogos mais divertidos e viciantes que joguei recentemente. Em retrospetiva, se calhar foi um acaso oportuno, visto que OverPower transforma por completo a jogabilidade de Rolling Gunner e injeta-lhe funcionalidades que alteram não só a forma como jogamos, mas também o seu desafio e o ritmo da campanha.

Rolling Gunner surge em duas faces, com ambas a partilharem certas funcionalidades e mecânicas. Comecemos pela original, lançada em 2019. Na sua estreia, Rolling Gunner chegou ao mercado como um shmup (ou shoot’em up) muito clássico, de tal forma que muito possivelmente acreditariam se eu vosso dissesse que tinha sido produzido no início do século XXI. Este classicismo é propositado e posso concluir que é através da simplicidade das suas mecânicas que Rolling Gunner consegue destacar-se, pois parte com o propósito de conseguir fazer uma coisa bem e é bem sucedido nessa tentativa. Neste caso, Rolling Gunner procurou ser um shmup 2D, na horizontal, com seis níveis distintos, vários bosses e sub-bosses, e uma aposta num sistema de ação que contorna os tradicionais power-ups para dar ao jogador uma combinação entre ataques de área e ataques concentrados, que podemos alternar em combate.

A ausência de power-ups poderá desapontar alguns de vocês, mas acreditem que Rolling Gunner é capaz de compensar a sua ausência ao focar a sua atenção no padrão dos inimigos e na utilização de um método alternativo de disparo. As naves STORK, no total de três modelos à disposição – rápida, equilibrada e assente no ataque -, apresentam uma arma rotativa que anda constantemente à sua volta, podendo disparar em qualquer direção. Os dois modos de disparo – Gunner e Fighter – utilizam esta arma auxiliar em todo o seu esplendor, dando ao jogador a possibilidade de focar os disparos secundários ou espalhá-los pelo mapa à medida que a arma gira em torno da nave. Talvez não seja o suficiente para vocês, uma vez que os controlos são limitados, mas acreditem que esta opção adiciona um maior desafio a Rolling Gunner, que irá satisfazer os mais saudosistas.

Deixemos a versão Original para trás e abracemos aquela que é, na minha opinião, a alma de Rolling Gunner. OverPower não é um simples DLC que procura adicionar novos níveis ou inimigos para justificar o seu lançamento. Não é um DLC pensado apenas para aumentar artificialmente a longevidade do jogo, mas sim enaltece-la, evoluí-la ao ponto de suplantar por completo a versão Original. Como seria de esperar, OverPower aproveita praticamente todas as mecânicas que descrevi em cima, mas dá-lhes maior profundidade. Continuamos a ter dois modos de disparo, mas, desta vez, conseguimos controlar a arma secundária, com Rolling Gunner a transformar-se num delicioso twin-stick shooter. As tradicionais bombas, muitas vezes utilizadas em títulos deste género, desaparecem por completo para dar lugar a uma habilidade especial que pode ser ativada quando reunimos pontos suficientes. Quando ativada, esta habilidade permite que aumentemos a pontuação de cada nave destruída, tal como dos seus projéteis, existindo uma segunda habilidade, representada por uma barra vermelha, que exponencia este poder ao ponto de transformar tudo em emblemas que podemos colecionar – e, consequentemente, em pontos. É uma habilidade pouco profunda a nível mecânico, mas que transforma Rolling Gunner de um tradicional shmup para um festim de pontos, onde a pontuação é tão importante como a nossa vitória.

A possibilidade de controlarmos a mira com o analógico direito muda por completo a experiência de Rolling Gunner, ao ponto de ser difícil voltar atrás e jogar a versão Original. É verdade que torna o jogo mais acessível, mas temos de ver esta mudança pela perspetiva da diversão e Rolling Gunner ganha muito mais do que perde nesse campo. Isto porque temos também a implementação de um sistema de Ranking, que aumenta de acordo com a nossa prestação e com o número de emblemas que colecionamos. Quanto maior for o nosso Ranking, mais desafiante será o nível, mas também teremos acesso a uma maior pontuação. Temos, desta forma, uma dificuldade maleável e interligada às habilidades do jogador, não o punindo, mas sim desafiando caso a sua destreza seja suficientemente hábil para tal. Este método resulta até como incentivo, pois vi-me muitas vezes a tentar evitar projéteis só para não ver o meu Ranking a desaparecer.

Rolling Gunner também adota uma maior acessibilidade no que toca à longevidade dos jogadores em ação, permitindo que tenham acesso a um escudo de energia que protege a sua nave. Só quando o escudo é destruído é que perdemos uma vida, dando assim muito espaço para que possamos dar a volta a uma má partida sem que passemos a vida a ver o famigerado ecrã de “continue”. O jogo também nos dá a possibilidade de aumentarmos o número de escudos da nossa nave – opção que surge, infelizmente, sempre no mesmo momento da campanha, sendo demasiado scripted para o meu gosto -, mas, para mim, a parte mais entusiasmante é a possibilidade de recuperarmos lentamente a energia do nosso escudo ao atacarmos inimigos e ao colecionarmos emblemas. A energia sobe muito lentamente, mas se mantivermos a agressividade, especialmente nos níveis mais desafiantes, poderemos ver o nosso escudo a ressuscitar quando mais precisamos dele. Rolling Gunner é um bom exemplo para defendermos a velha problemática entre a acessibilidade e a dificuldade nos videojogos, no sentido em que se tornou num jogo muito mais acessível e intuitivo com o novo DLC, mas sem nunca perder o seu modo Original e o seu foco numa experiência bullet-hell. Um equilíbrio perfeito para quem adora este género, mas é um jogador mais casual no que toca à sua destreza.

Rolling Gunner foi uma agradável surpresa e o seu relançamento promete colocá-lo no radar de mais jogadores – tal como aconteceu comigo. É um jogo muito sólido, ainda que possa ser um pouco mais curto do que é esperado num título deste género, mas podem contar com a versão Original, um modo de treino, quatro dificuldades – incluindo a nova Novice, ideal para aqueles que querem ver o jogo do principio ao fim sem grandes desafios – e ainda o Ranking Online. A simplicidade em prol da solidez, assim é Rolling Gunner, ainda que apresente algumas mecânicas interessantes, como a possibilidade de bloquearmos disparos inimigos com os nossos próprios golpes. Poucas mecânicas, mas bem implementadas e sempre divertidas. Assim até dá gosto.

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Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela PR Hound.

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