Treasures of the Aegean – Presos em mais um loop temporal

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Com foco na História e no saltos arriscados, o novo título da Undercoders constrói-se de forma curiosa ao apostar num loop temporal.

Ainda não terminei a campanha de Treasures of the Aegean. Existem segredos que ainda estão escondidos, enterrados algures nas ruínas, mas não consigo esconder a satisfação que senti ao explorar o novo título da Undercoders. Parte jogo de plataformas e parte jogo educativo, Treasures of the Aegean é uma pequena surpresa devido à estrutura da sua campanha, apostando num loop temporal, que se repete de 15 em 15 minutos, onde temos de avançar constantemente pelas ruínas de uma sociedade esquecida à medida que encontramos novas relíquias, segredos e completamos o nosso mapa digital.

Treasures of the Aegean é um jogo de várias faces, mas mantém-se focado no que realmente interessa: na jogabilidade. Como Marie, temos a possibilidade de explorar as ruínas da Civilização Minoica e descobrir mais sobre o motivo que levou à explosão do vulcão que aterroriza da zona de Santorini, na Grécia. Para tal, caímos nas ruínas sem uma direção específica, livres para explorarmos como queremos e onde quisermos, existindo apenas o incentivo de encontrarmos relíquias escondidas, que servem como colecionáveis do jogo. Marie é muito ágil e é capaz de correr, deslizar, saltar e correr pelas paredes, tal como utilizar as várias partes do cenários, como lianas, para se manter em movimento. É um jogo que aposta na velocidade, no impulso e na cadência de ações para chegarmos aos locais que pareciam ser anteriormente inalcançáveis. Durante a campanha, temos ainda a possibilidade de desbloquear novas habilidades que mudam significativamente o ritmo da exploração.

O mapa é muito extenso e está dividido eficazmente por zonas, que aumentam não só a dificuldade dos obstáculos, como criam uma boa sensação de progressão à medida que descemos cada vez mais fundo nas ruínas desta civilização extinta. Os mistérios amontoam-se à medida que percorremos as casas destruídas e deslizamos pelas cavernas abandonadas, e Treasures of the Aegean está construído para nos apresentar algo novo com uma regularidade deliciosa. Seja uma relíquia, um mural ou um confronto inesperado, somos sempre surpreendidos ao longo da campanha. Apesar de não ter apreciado a animação das personagens, que é muito robótica e pouco fluída – ainda que não prejudique o impulso na jogabilidade –, e a sua arte, que se apresenta de forma amadora, existe uma cadência de ações e acontecimentos que elevam o que poderia ser um projeto mediano a um patamar de originalidade e de curiosidade genuína.

O que torna Treasures of the Aegean intrigante é a sua aposta na manipulação do tempo e na repetição constante dos mesmos 15 minutos. A aventura começa com Marie a explorar as ruínas e termina sempre com a explosão megalómana do vulcão, destruindo parte do Planeta terra. Após a explosão, o tempo volta atrás e temos uma nova oportunidade de descobrir todos os segredos por trás deste acontecimento. Não consigo precisar se a Undercoders se inspirou diretamente no trabalho narrativo da Supergiant Games, mas existe, de facto, uma sensibilidade que me relembrou Hades. Treasures of the Aegean não é um roguelike e muito menos é um metroidvania, mas sabe como utilizar este loop temporal para explorar as suas personagens e momentos narrativos. Quando voltamos ao início, temos acesso a novos trechos narrativos que expandem a história e as personagens de Treasures of the Aegean, e desbloqueiam, inclusivamente, novas sequências de jogabilidade fora das ruínas.

A aposta na repetição é suavizada através do sistema de mapa. Apesar de regressarmos ao início do dia, não estamos propriamente a voltar à estaca zero, com o nosso sensor a delinear o mapa à medida que avançamos. Esta reconstrução espacial é importante porque nos ajuda a resolver alguns dos mistérios mais desafiantes do jogo, com o posicionamento de pedras preciosas e de outros segredos a regressarem à sua posição original. As relíquias, no entanto, ficam sempre connosco, o que significa que existe sempre uma progressão palpável entre tentativas. Como disse anteriormente, Treasures of the Aegean não é um roguelike, mas sim um jogo de plataformas puro e duro.

Arrisco-me a dizer que Treasures of the Aegean é também um jogo de edutainment. O nível de representação da cultura grega e da sua mitologia poderá ajudar os mais novos a compreender o teor e o valor destas lendas, mas também a motivá-los a pesquisar e a ler mais. Se calhar estou a ver o que não está lá, mas com o número de relíquias antigas, que adicionam sempre novas camadas à mitologia do jogo, mas também de murais, que são acompanhados por explicações de James, o companheiro de Marie, levaram-me a tecer esta conclusão. E espero estar correto. O género edutainment continua a ter uma má reputação, como se fosse apenas composto por jogos básicos e educativos – sem valores a nível de jogabilidade –, e é preciso derrubar essas convenções e preconceitos para permitir que floresça enquanto género e que possa ajudar mais jogadores a aprenderem com os seus videojogos favoritos.

Não existem surpresas incríveis ou sequências de cortar a respiração, mas Treasures of the Aegeon é muito sólido no seu conceito e na forma como explora a sua jogabilidade. Sofre de alguma falta de polimento, especialmente nas animações, mas tem um excelente foco na aventura e na descoberta de novas zonas e detalhes sobre uma História perdida. É, acima de tudo, um videojogo divertido e com o coração no lugar certo, e é isso que o destaca neste final de ano.

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Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela NumSkull.

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